Pokémon é dos franchises mais bem-sucedidos de sempre. Para além dos videojogos e do anime, a quantidade de merchandise vendido por todo o mundo atinge os milhares de milhões anualmente, e tem sido um elemento central da cultura popular há décadas. Assim, não é de espantar que cada novo jogo Pokémon seja recebido com enorme entusiasmo, mas também com críticas minuciosas por parte dos fãs mais aguerridos. Este artigo pretende olhar para a série principal de videojogos, desde a primeira geração até à oitava, com uma reflexão acerca do que seria interessante implementar para o futuro da série Pokémon.
Passado – Dos 151 Originais Até ao Fim da Exclusividade Portátil
Tudo começou no GameBoy, quando em 1996 (no Japão) os primeiros jogos Pokémon foram lançados – as versões Green/Red. Em Portugal, demorou um pouco mais, com Pokémon Red/Blue a chegarem em 1998. Com um total de 151 monstros disponíveis, estes títulos para a pequena consola portátil da Nintendo geraram logo uma enorme euforia. A diversidade de combinações, a acessível mas profunda componente estratégica, e os combates por turnos, com cada monstro a ter um máximo de 4 ataques, o sistema de ginásios e liga, as combinações estilo pedra-papel-tesoura da tipologia, o rival e a organização maléfica a derrubar; tudo isto se tornou em componentes que nunca deixariam a série, até hoje.
Apesar dos problemas com bugs (quem não se lembra de MissingNo.?), glitches (para obter Mew,), e algumas opções de design algo estranhas (a família Ghastly ser toda Ghost/Poison, tornando uma vantagem contra monstros Psychic numa fraqueza), não impediram esta primeira geração de se lançar para o sucesso. E claro, que a versão Yellow (2000), que acompanhou com mais proximidade os acontecimentos do anime, apenas facilitaram esse sucesso. De referir que, até hoje, esta primeira geração já recebeu dois remakes: as versões Fire Red/Leaf Green (2004) e Let’s Go Pikachu/Eevee (2018).
Em 2001, chegaram a Portugal as versões da 2ª geração: Pokémon Gold/Silver; a mesma ficaria concluída mais tarde nesse ano, com Pokémon Crystal. Estas sequelas expandiram o número de monstros para 251, e introduziram novos tipos: Dark e Steel. A componente estratégica ficou mais profunda, e a história ficou mais longa, uma vez que incluía a região dos originais e uma nova – Johto. Sendo a única geração que serve de sequela direta à anterior, foi possível reencontrar diversas personagens da geração original, entre as quais líderes de ginásios, o Prof. Oak, e até Red e Blue, protagonista e antagonista dos anteriores. Esta geração foi remasterizada, com o lançamento de Heart Gold/Soul Silver (2010).
Para concluir as gerações do GameBoy, temos a 3ª geração, com Pokémon Ruby/Sapphire (2003), e com Pokémon Emerald (2005). No total, estes jogos introduziram 135 novos monstros, batalhas duplas, e, acima de tudo, trouxe a primeira história mais organizada. Para além de derrotar líderes de ginásios e o campeão, teríamos de impedir duas organizações maléficas de acordarem Pokémons lendários e de destruírem toda a região de Hoenn. Para além disto, os avanços gráficos foram os mais notórios até à data, com a versão Emerald a ter uma cutscene animada. A 3ª geração recebeu um remake, com Omega Ruby/Alpha Sapphire (2014).
Passando para as gerações da Nintendo DS, as melhorias gráficas parecem ter sido o principal foco de Pokémon Diamond/Pearl (2007), com a versão Platinum (2009) a tirarem mais partido das capacidades da consola portátil, com a navegação pelo mundo distorcido de Giratina. De resto, esta geração não inovou muito, mantendo o registo de 8 ginásios, uma liga e uma organização maléfica a querer utilizar monstros lendários, e trazendo 107 novos Pokémons.
Já com a 5ª geração, tentou fazer-se algo de diferente. Em primeiro lugar, Pokémon Black/White (2011) restringiram os monstros disponíveis para capturar e treinar aos novos 156 criados para a geração, abrindo apenas o National Dex no pós-jogo. Depois, foi uma verdadeira tentativa de criar uma história provocadora e complexa, com a organização vilã a passar uma mensagem de libertação dos Pokémons, enquanto criaturas oprimidas e forçadas a combater pelos humanos. Foi também a única geração a receber sequelas numeradas, com Pokémon Black 2/White 2 (2012), cuja história se passa 2 anos depois e vê o regresso de inúmeras personagens.
Com a vinda da Nintendo 3DS, chegou Pokémon X/Y, que introduziu diversas mudanças na jogabilidade, particularmente no que toca à navegação. Com a estreia de gráficos em 3D na série, a movimentação passou a ser omnidirecional. Passou a permitir uma caracterização mais completa do avatar, permitindo definir a roupa, o tom de pele, e as cores do cabelo e olhos. A história voltou a ser simplificada, regressando à fórmula base de ginásios, liga e organização vilã. Para além de adicionar 72 novos monstros, introduz ainda 30 mega evoluções – formas temporárias e mais poderosas de Pokémons antigos (Charizard, Mewtwo ou Lucario). Acrescentou ainda o tipo Fairy, o que veio alterar um pouco o equilíbrio de forças e fraquezas entre as restantes tipologias de Pokémons. Foi também a única geração a não receber uma terceira entrada ou sequela.
Por fim, a 7ª geração trouxe alterações um pouco mais profundas à fórmula narrativa estabelecida. Em Pokémon Sun/Moon (2016), e nas versões definitivas de Ultra Sun/Ultra Moon (2017), a história decorre em quatro ilhas diferentes, com cada ilha a incluir um número de provas a cumprir, no lugar do sistema de ginásios. Cada prova tem objetivos diferentes – batalhas, minijogos, etc. -, e depois de cumpridas todas as provas teria de se desafiar o treinador mais poderoso de cada ilha. De resto, volta a haver uma liga e uma organização maléfica, esta obcecada em explorar mundos paralelos e as estranhas criaturas que aí habitam. Mecanicamente, introduziu as Z-moves, ataques poderosos que se podem usar apenas uma vez por batalha. Esta geração introduziu 81 novos monstros, e ainda 18 versões regionais, que alteraram o aspeto e, em alguns casos, a tipologia de alguns monstros da primeira geração (por exemplo, de Raichu ou de Marowak).
Presente – A Controversa Estreia na Nintendo Switch
Chegamos assim ao presente. Com o lançamento da Nintendo Switch, e com o anúncio de que uma oitava geração estaria a caminho, naturalmente que o entusiasmo era enorme. Afinal, o potencial da nova consola da Nintendo era bastante superior ao das consolas exclusivamente portáteis, e as expectativas eram elevadas. A primeira revelação impressionou, os primeiros Pokémons mostrados indiciaram um estilo de design renovado e fresco, e a revelação da Wild Area quase convenceu toda a comunidade Pokémon.
Mas depois, chegou a E3 2019, e um anúncio que mudou tudo: o National Dex não iria fazer parte de Pokémon Sword/Shield. Cerca de metade dos monstros das gerações anteriores não iriam aparecer nos novos jogos, com a justificação de que havia que programar novos modelos de raiz, e que a equipa iria investir em aprimorar outros aspetos do jogo, nomeadamente os gráficos. Depois deste anúncio, a atitude face a Sword/Shield mudou completamente. Os fãs começaram a analisar todas as novas imagens e vídeos minuciosamente, grandes críticas foram surgindo, e as exigências passaram a ser elevadas, sobretudo tendo em conta os níveis de excelência atingidos por outros títulos da Switch, como The Legend of Zelda: Breath of the Wild.
Na GameForces, considerámos que Pokémon Sword/Shield acaba por ser “um bom passo em frente para o franchise, mas [que] fica aquém das expectativas em alguns aspetos, sobretudo tendo em conta o potencial que a Nintendo Switch pode oferecer”. Apesar da história ter regressado à fórmula habitual, a forma como as batalhas contra líderes de ginásios foram apresentadas tornou a experiência completamente diferente. Também a introdução de 81 novos Pokémons, incluindo evoluções para monstros de gerações anteriores (como Sirfetch’d ou Obstagoon), e da Wild Area foram novos elementos apreciados, enquanto que a mecânica de Dyna/Gigantamaxing acabou por não impressionar tanto. Pode ler-se a nossa análise completa aqui.
Em 2020, sabemos que estão duas expansões a caminho de Pokémon Sword/Shield. Nestas, novas áreas serão introduzidas, três novos monstros serão e, mais importante que isso, cerca de 200 Pokémons de gerações anteriores estarão de regresso. Este modelo de expansões pagas vem substituir a terceira entrada na geração, e parece ser um modelo mais adequado a seguir, uma vez que não ser terá de pagar o preço de um jogo totalmente novo para ganhar apenas algumas horas de conteúdo novo. No entanto, este novo modo de funcionamento tem sido também alvo de críticas, das quais se destaca a de que muito do conteúdo que as expansões acrescentam já deveriam ter sido incluídas no jogo base, e o acesso ao mesmo não deveria estar dependente de pagamento extra.
Futuro – O Que Queremos das Gerações Futuras
Com a mais recente entrada na Switch, a série Pokémon fez muitas coisas bem, mas tem sido alvo de diversas críticas, que se tornaram maiores com o anúncio das expansões. Enquanto a prática das expansões deve ser apoiada, parece que há que melhorar a oferta nos futuros jogos base. Então, o que deverá a Game Freak e a Pokémon Company fazer no futuro?
Em primeiro lugar, não podíamos deixar de referir o PokéDex. A ausência de uma grande fatia de Pokémons foi um dos grandes fatores que levou a comunidade a virar costas e a criticar Sword/Shield. A oferta de monstros já vai quase em 900 (estando perto dos 1000 se incluirmos as diversas formas, variantes regionais e mega evoluções), e o trabalho de programar tamanha diversidade e manter o jogo estrategicamente equilibrado não deve ser fácil. No entanto, parece-nos que ninguém se iria importar se os produtores levassem mais uns quantos anos a desenvolver uma próxima geração que inclua toda a biblioteca de Pokémons, sendo uma abordagem que poderá levar a proveitos muito maiores caso assim optem.
De seguida, há que referir as Wild Areas. Esta introdução em Sword/Shield foi um dos pontos mais altos da nova geração, e é um aspeto cuja aposta será reforçada nas expansões que estão para vir. Isto levou a que todas as restantes áreas do jogo tenham levado a uma sensação antiquada: a câmara fixa, a falta de liberdade de exploração e os espaços tão delimitados nas cidades e nas restantes vias foram sentidas como algo claustrofóbicas em comparação. Assim, a implementação das mecânicas das Wild Areas a todas as cidades, vilas, cavernas e outros locais do jogo poderão ser extremamente benéficos, e dar a sensação de uma região muito mais viva e expansiva.
Por fim, há algumas implementações simples que poderiam aumentar exponencialmente a qualidade de vida da série. Sword/Shield já fez um excelente trabalho ao facilitar o acesso à alteração do moveset de cada Pokémon e ao permitir o acesso aos monstros armazenados em qualquer altura do jogo. Agora, uma outra alteração seria tornar os tutoriais menos agressivos, com a opção de serem acedidos por novos jogadores. Esta geração já o tenta fazer, mas continua a ser algo que interrompe demasiado a fluidez no início do jogo, sobretudo para jogadores que acompanham a série desde Red/Blue. Uma outra pequena alteração seria a introdução da possibilidade de criar múltiplos saves. Há sempre a vontade de recomeçar o jogo e experimentar outro dos Pokémons iniciais e diferentes equipas, e a opção de o fazer sem perder as horas de progresso da playthrough inicial poderia melhorar a experiência e a replayability de futuras gerações.
As mais recentes gerações Pokémon têm apostado em introduzir novas gimmicks, e construir uma história à volta das mesmas. Enquanto é sempre positivo os produtores explorarem ideias novas e criativas, parece que seria bastante positivo aproveitar ideias anteriores e expandi-las, como, por exemplo, as mega evoluções. Com isto e com algumas simples melhorias de qualidade de vida, a série Pokémon pode voltar a tornar-se uma das mais criticamente aclamadas, uma das mais amadas pelos fãs e atingir um nível de sucesso ainda maior. Entretanto, vamos aguardar pela próxima aventura apaixonante, e vamos, com certeza, continuar a apanhá-los todos!
Artigo redigido por: Filipe Castro MEsquita
Pokémon - Passado, Presente e Futuro da Série Principal
Reviewed by Filipe Castro Mesquita
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fevereiro 15, 2020
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