[Análise] Shovel Knight: Treasure Trove [NSW] - (2/2)


Ontem, nós analisamos Shovel of Hope, um excelente throwback aos jogos de NES, e Plague of Shadows, um revisitar da campanha original sob uma nova perspetiva. Apesar de ambas serem ótimas experiências, seria provável que se instalasse um sentimento de fadiga caso Specter of Torment e King of Cards seguissem a mesma receita de Plague of Shadows, ou seja, caso reciclassem os mesmos níveis. Felizmente, esse não é o caso, como poderemos ver adiante.


Specter of Torment: a Tragédia do Ceifador

Specter of Torment distancia-se sem demora das duas campanhas previamente analisadas. Esta aventura funciona como uma prequela às histórias que vimos previamente e conta o modo como Specter Knight conseguiu reunir os 8 cavaleiros da Order of No Quarter para servirem a Enchantress. Ao mesmo tempo, é revelado o passado do sinistro cavaleiro, numa narrativa de cariz trágico e sombrio, quando comparada com as aventuras de Shovel Knight e Plague Knight.

Embora as regiões exploradas por Specter Knight sejam as mesmas, estas apresentam-se massivamente alteradas, quer a nível estético, sonoro e estrutural. Além disso, são introduzidos vários inimigos e plataformas e mesmo os bosses, que são na sua maioria reutilizados de Shovel of Hope, apresentam novos padrões de ataque.


O próprio Specter Knight apresenta um padrão de movimento drasticamente diferente do visto previamente. Em vez de flutuar, este servo da Enchantress é capaz de escalar paredes e ricochetear delas, bem como usar a sua foice para fazer um Dash Slash, um ataque que o permite ganhar altitude ou rapidamente descer sobre os inimigos. Esta nova forma de jogar é mais fluida e instintiva, além de que torna o jogador mais dependente do ambiente para progredir.


Também aqui as Relics vêem uma nova revisão, na forma de Curios. O uso destes Curios consome um pouco da sua barra de Darkness, que pode ser preenchida derrotando inimigos, encorajando o jogador a agir de forma mais agressiva.

Estes itens podem ser adquiridos na Tower of Fate, que funciona como hub neste jogo, substituindo o mapa. Por este motivo, várias das localizações presentes nas outras duas campanhas, como a Village e a Troupple Pond, não são acessíveis. Isto não constitui um problema dado que a Tower of Fate está recheada de personagens com quem interagir, mas faz desta campanha a mais curta das quatro disponíveis.



King of Cards: uma Grandiosa Jornada

Por último, King of Cards, a história final de Treasure Trove, mais uma vez se distancia bastante das outras. O tom da narrativa é mais jocoso, os níveis assumem uma nova estrutura e é introduzida toda uma nova componente ao jogo, na forma de Joustus. Joustus é um jogo de cartas popular que está no centro de um grande torneio: aquele que conseguir derrotar os três Joustus Judges receberá um grande tesouro e será coroado como King of Cards. Apesar da dificuldade da tarefa, King Knight decide participar na competição, almejando conseguir ter o seu próprio reino.

Joustus é um jogo simples de compreender: o jogador deve posicionar as suas cartas no tabuleiro e empurrar as suas cartas ou as do adversário de tal modo que, quando os espaços centrais forem preenchidos, o jogador tenha mais cartas do que o seu adversário sobre as gemas presentes no tabuleiro. Cada carta do baralho tem um conjunto de sinais direcionais, que indicam os sentidos nas quais pode empurrar as cartas já colocadas do tabuleiro. Uma vez posicionadas as cartas, estes mesmos sinais funcionam como um bloqueio, impedindo que estas sejam empurradas no sentido contrário.


Esta vertente de King of Cards revelou-se bastante viciante e interessante, apresentando-se como uma boa forma de respirar entre os níveis do jogo. No entanto, o jogador perde uma carta do seu baralho por cada derrota (do mesmo modo que ganha uma quando vence), numa dinâmica de feedback positivo em que quanto mais derrotas se sofre, mais difícil é vencer, e que desencoraja combater os oponentes mais desafiantes. É possível readquirir as cartas perdidas, mas tal é feito à custa de dinheiro que é melhor empregue em melhorias para King Knight. Em adição, estão disponíveis para aquisição cartas de batota, que tornam mais fácil vencer estas partidas.

De qualquer modo, Joustus, apesar de estar no centro da trama, é opcional, sendo possível terminar o jogo apenas jogando a sua componente de platformer. No que toca a esta, King Knight, tal como seria de se esperar, apresenta uma estilo de controlo próprio. Em vez de utilizar qualquer tipo de armas, o ambicioso cavaleiro recorre a um Shoulder Bash, semelhante a uma placagem, que se converte num salto giratório que lhe permite atacar inimigos a partir de cima. 


Como King Knight depende da presença de um inimigo ou parede para fazer o salto giratório, o tipo de obstáculos presentes condiciona a forma como King Knight pode avançar, o que contribui positivamente para a dimensão puzzle dos desafios apresentados. A filosofia por trás da construção dos níveis também atua nesse sentido: em comparação com as outras três campanhas, os níveis de King of Cards são mais curtos, focam-se numa mecânica específica e não terminam necessariamente num confronto com um boss. Além disso, são mais numerosos, mas ao custo de reutilizarem ambientes, e apresentam várias saídas secretas. De certa forma, a estrutura definida para os níveis e a progressão relembra os jogos Mario tradicionais.

Igualmente esperado é o retorno de itens, que neste caso assumem a forma de Heirlooms. Estes podem ser adquiridos através de Merit Medals, o novo colecionável do jogo. Estas medalhas podem ser obtidas em jogos de Joustus ou nos níveis do jogo, nos quais existem 3 destas escondidas.


King of Cards é a maior das quatro campanhas do jogo, bem como a mais rica e variada. Não só a jogabilidade se divide entre Joustus e as secções de plataforma, mas o jogo também recupera o mapa e as áreas adicionais, ausentes em Specter of Torment. Por seu lado, a narrativa assume um tom mais humorístico do que as restantes: King Knight é retratado como um arrogante, egocêntrico e infantil cavaleiro, sem qualquer tipo de sensatez ou prudência. É extremamente caricata a impudência com que se dirige a tudo e todos, independentemente de estatuto ou poderio; especialmente quando vinda da mesma pessoa que vive com a sua mãe e chora para recuperar pontos de vida.


Um olhar final

Como esperamos ter deixado claro, Shovel Knight: Treasure Trove apresenta quatro campanhas bem distintas com algo próprio a oferecer.
Shovel of Hope foi criado como uma homenagem aos clássicos de outrora, e isso é claro na sua construção. A sua história é básica e direta, o modo de ataque é simples e a inspiração nos clássicos está patente em inúmeros pontos do jogo.
Plague of Shadows, por seu lado, acaba por constituir o elo mais fraco do conjunto, essencialmente por ser a única sem um conjunto de níveis próprios. Plague Knight tem, de facto, um estilo de jogabilidade sofisticado que é interessante de aprender e dominar, e que o torna possível avançar nos níveis de modo praticamente irrestrito. No entanto, esta liberdade conduz à perda da leve dimensão puzzle que enriquece os desafios das três outras campanhas é perdida em Plague of Shadows, visto que o alquimista pouco depende dos elementos do cenário para progredir. Do mesmo modo, é perdida a oportunidade de apresentar desafios construídos em torno das capacidades do alquimista.
Por fim, Specter of Torment e King of Cards adotam uma direção própria, não se prendendo ao elemento de nostalgia que ditou a construção de Shovel of Hope e tomando maiores liberdades, o que engrandece estas aventuras em relação às duas anteriores. É também de notar que a jogabilidade de ambos está muito condicionada aos elementos que enfrentam, o que não só enriquece a dimensão puzzle, mas também proporciona maior adaptabilidade aos erros. Graças a esta mudança, os desafios destas campanhas afiguram-se mais polidos e focados.


....e ainda há mais!

Como se as quatro aventuras já não fossem suficientes, a Yacht Club ainda incluiu no jogo dois modos adicionais. Por um lado, está disponível o Challenge Mode, um conjunto de curtos desafios que testa a mestria do jogador no controlo dos quatro protagonistas. Estes desafios não só exigem um bom uso dos movimentos base dos cavaleiros, mas também dos itens à sua disposição, que apresentam neste modo os seus mais interessantes usos.

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Por outro lado, Shovel Knight: Showdown é todo um modo de jogo paralelo, com ênfase em duelos entre as personagens icónicas de Treasure Trove, incluindo várias que não eram jogáveis previamente. É significativa a variedade de personagens, itens e cenários presentes, que vão desde arenas mais convencionais a  autoscrollers e locais com entidades que atacam diretamente o jogador. A maioria destes mapas apresenta inúmeras elevações e buracos nos quais os lutadores podem cair, pelo que continua a existir uma importante componente platformer. No entanto, a relativa escassez de modos prejudica a longevidade de Showdown, que acaba por ser melhor apreciado em pequenas doses.

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Conclusão
Com a impressionante quantidade e qualidade de conteúdo presente, Shovel Knight: Treasure Trove, revela-se um título obrigatório para os fãs de jogos de plataformas. O único motivo pelo qual este fantástico pacote não é um exemplo para as outras desenvolvedoras é o facto de ser extremamente injusto esperar de qualquer um o nível de dedicação e esforço que a Yacht Club dedicou ao seu produto.


O melhor

- Visual reminiscente da era 8-bit;
- Excelente banda sonora;
- Estilos distintos de jogabilidade;
- Fantástico desenho de níveis;
- Quantidade enorme de conteúdo.

O pior

- Minúcias apresentadas ao longo da análise;

Pontuação do GameForces: 9.5


Título: Shovel Knight: Treasure Trove
Desenvolvedora: Yacht Club Games
Publicadora: Yacht Club Games
Ano: 2017-2019

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Yacht Club Games.

Autor da Análise: Tiago Sá
[Análise] Shovel Knight: Treasure Trove [NSW] - (2/2) [Análise] Shovel Knight: Treasure Trove [NSW] - (2/2) Reviewed by Tiago Sá on fevereiro 14, 2020 Rating: 5

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