A capacidade
de conseguir contar uma história, desenvolver um enredo e caracterizar as
personagens participantes é um dos aspectos essenciais para qualquer vídeo jogo
que objective uma experiencia mais profunda. Este aspecto adquire uma relevância
ainda mais preponderante quando os productores objectivam reduzir a componente
de jogabilidade ao minino e focar principalmente na narrativa. Este é o grande
desafio que os estúdios de jogos narrativos necessitam continuamente de ultrapassar
para terem uma projecção de sucesso e continuidade.
Efectivamente
existe uma bipolaridade na comunidade relativamente a este tópico. Por um lado,
temos quem ache que estes títulos não são verdadeiramente vídeo jogos, pois a
sua interacção com o jogador são reduzidos ao mínimo. Por outro, existe quem
defenda que a forma como a narrativa se relaciona com o jogador, levando-o
frequentemente a questionar aspectos da sua ética, moralidade e mesmo natureza
é o que lhe define essencialmente como uma experiencia interactiva.
Por consequência,
os produtores procuram sempre entregar uma combinação de narrativa e mecânicas
diferenciadas com vista a poder manter a atenção dos jogadores. No caso da
serie “Life is Strange” a aposta recai sobre a forma como a história e enredo
são apresentados, com um pano de fundo extraordinariamente profundo e introspectivo.
Enquanto o primeiro título focou-se na componente de viagem de tempo, para “Life
is Strange 2” a grande aposta recai nas capacidades telecinéticas de uma das personagens
e como o seu surgimento e refinamento afectou as vidas de todos em sua volta.
Em “Life is
Strange 2” estamos mais uma vez perante uma ode à cultura Americana, onde seguimos
as aventuras dos dois irmãos Diaz que vivem pacatamente nos subúrbios do Sul de
Seattle com o seu pai. Numa reviravolta de eventos, o mais novo adquire poderes sobrenaturais
que num acesso de fúria incontrolada leva a que tenham de fugir de casa e
percorrer as estradas da costa oeste dos Estados Unidos, enquanto procuram
atingir a sua terral natal “Puerto Lobos”, no México.
É nesta mesma
viagem que podemos confirmar o quanto este título cresceu perante o anterior.
Life is Strange, ainda que grandiosamente detalhado na sua narrativa e com
interessantes componentes de viagem no tempo, toda a sua acção se passava na
mesma cidade com as mesmas personagens. Já em “Life is Strange 2” a componente itinerante
dos dois irmãos leva-os a percorrer diferentes localidades (incluído Arcadia Bay,
onde ocorre as aventuras do primeiro), lidar com várias pessoas e testemunhar
como estas afectam o amadurecimento do nosso duo. Estes aspectos levam-nos a
absorver uma experiência que facilmente reconhecemos como mais ampla e com o
sentimento de “não voltar para trás”.
O primeiro
capitulo desta nova aventura serve fundamentalmente para criar o ambiente e
definir os alicerces para a narrativa que será expandida. Mais uma vez somos
presenteados com uma cinematografia (à falta de melhor descrição do termo!), extraordinária
e verdadeiramente artística. As localidades, a forma de como a camara acompanha
as aventuras dos personagens e interacções com os componentes que vão surgindo
ao longo da viagem criam uma atmosfera quase mágica e melancólica. Existe uma
componente substancial de introspecção da personagem principal que controlamos,
o irmão mais velho Sean Diaz, proporcionando ao jogador um mergulho muito mais
profundo na sua caracterização.
Estas
componentes, no seu conjunto, poderiam ser suficientes para atingir um patamar
que qualidade superior para este título. Felizmente a Dontnod tem a perfeita
noção do que fez o seu título anterior ter tanto sucesso e mais uma vez não
descurou a valência que permite envolver toda estas características e conseguisse
arrebatar o interesse contínuo dos jogadores. Estamos a falar da banda sonora
do título.
É certo que
uma banda sonora ajuda muito em melhorar a experiencia global do jogo. Todavia
neste caso em particular, a sua adequabilidade e forma como se relaciona com a
história, as personagens e os cenários é de tal forma bem conseguida que deixa
os jogadores quase como que num estado de hipnose perante a experiência
transmitida. Efectivamente a banda sonora é uma das melhores componentes deste
jogo e que nos deixa impressionados com a sua qualidade, desejando que todos os
produtores tivessem a mesma atenção a este detalhe tão importante.
Entre o
primeiro e segundo episódio existe uma aventura intermédia no mesmo mundo de
Life is Strange 2, que está intimamente ligada às aventuras dos irmãos Diaz.
Estamos a falar da demo “The Awesome Adventures of Captain Spirit”, a qual
recomendamos vivamente que seja jogada antes do episódio 2, pois permite ter
uma profundidade muito maior da caracterização de uma personagem interessantíssima que infelizmente
surge como secundaria na aventura principal. De facto, existem mesmo decisões que são
transferidas e afectam os eventos da história principal.
Neste título
em particular seguimos uma curta aventura de Chris Eriksen, uma jovial criança que
se refugia na sua imaginação e afecto pela cultura de super-heróis, para conseguir
lidar com a dor da perda da sua mãe e com um pai alcoólico. Este título
apresenta de igual forma cenários imaginários bastante interessantes, lindamente produzidos e introduzindo no final uma clara alusão aos irmãos Diaz.
Contudo,
notamos que no que toca à jogabilidade, Life is Strange 2 iria beneficiar de uma
mecânica de jogabilidade mais diferenciada, um pouco à semelhança das viagens temporais
do primeiro título. De igual modo, sentimos que ainda sendo uma aventura de uma
escala muito superior, não consegue criar um ambiente de misticismo como
o anterior, ou deselvolver motivações morais onde certas escolhas levava-nos a vários minutos a ponderar a sua
escolha. Existe efectivamente um dinamismo muito superior no nosso processo de decisão que ocasionalmente quebra
a nossa absorção pela história, como que muitos eventos a ocorrer, mas sobre os
quais não temos verdadeiramente controlo.
Ainda assim, a mensagem subliminar dessa experiencia, ainda que não tenhamos grande influência na sua apresentação ao jogador, é extremamente profunda e aborda temas e realidades que no final nos leva a questionar algumas valências da nossa própria vida, das escolhas que fazemos e da liberdade que renunciamos em prol de uma vida mais pacata e segura. Por toda a carga emocional que nos é transmitida durante o final da aventura dos irmãos Diaz, o verdadeiro impacto que esta experiência cria passa por nos conduzir num processo de introspecção como poucos jogos conseguem fazer.
Ainda assim, a mensagem subliminar dessa experiencia, ainda que não tenhamos grande influência na sua apresentação ao jogador, é extremamente profunda e aborda temas e realidades que no final nos leva a questionar algumas valências da nossa própria vida, das escolhas que fazemos e da liberdade que renunciamos em prol de uma vida mais pacata e segura. Por toda a carga emocional que nos é transmitida durante o final da aventura dos irmãos Diaz, o verdadeiro impacto que esta experiência cria passa por nos conduzir num processo de introspecção como poucos jogos conseguem fazer.
Resumo
Life is
Strange 2 é um excelente título dentro do género de aventuras narrativas.
Enquanto as comparações com o primeiro, principalmente nas componentes que
levarão ao seu impacto na indústria, sejam recorrentes, esta segunda temporada
desta série consegue se elevar e afirmar por si própria.
Reconhecidamente
existe uma balança na qual a mensagem subliminar, maior dimensão a nível de cenários e quantidade de
personagens está num dos lados e a inferior imersão na narrativa e falta de mecânicas diferenciadas
está no outro. Sentimos de igual modo que a ligação entre os dois irmãos, ainda
que um ponto positivo deste jogo demora bastante até ficar ao mesmo nível das duas personagens
principais do primeiro título.
Dito isto,
continua a ser uma óptima obra que nos leva a percorrer diversas intervenções
da experiência Americana associada a importantes questões políticas e sociais. Notoriamente
existe um maior cuidado com a forma como a aventura é apresentada o que leva a
momentos verdadeiramente mágicos e cativantes.
No final não
conseguimos deixar de sentir uma empatia enorme com o destino destas personagens após tudo que passaram, deixando-nos a ponderar sobre profundamente sobre a premissa que nos é apresentada. Resta a esperança de surgirem, nem que
indirectamente em futuras aventuras desta série, à semelhança de certas personagnes do primeiro titulo.
O Melhor:
- Mensagem subliminar relativa à aventura dos dois irmãos;
- Conjugação perfeita da
narrativa, com os cenários e banda sonora;
- Relacionamento entre os
irmãos e caracterização geral das personagens;
- Direcção artística.
O Pior:
- Falta de uma mecânica
diferenciadora como no primeiro título.
Pontuação
do GameForces – 8,5/10
Título: Life Is Strange 2
Desenvolvedora: Dontnod
Entertainment
Publicadora: Square
Enix
Ano:
2019
Autor da Análise: Carlos Silva
[Análise] Life Is Strange 2 [PS4]
Reviewed by Carlos Silva
on
fevereiro 21, 2020
Rating:
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