Se, com o Yooka-Laylee original, Playtonic Games procurou realizar uma obra reminiscente dos collectathons de mascote da Nintendo 64, agora a desenvolvedora parece recuar mais no tempo com a sua nova empreitada: recriar a experiência 2D que a Rare nos proporcionou com os jogos Donkey Kong Country. Esta não é, contudo, uma tarefa fácil: estes jogos possuem ricos ambientes, música atmosférica e desafios justos e variados que lhes conferem um merecido estatuto de clássicos.
Felizmente, assim que o jogador coloca as mãos no comando, a primeira impressão é positiva: o duo Yooka-Laylee tem controlos leves e precisos, que tornam bastante satisfatória a movimentação. Embora se esteja, fundamentalmente, no controlo de Yooka, o morcego Laylee é bastante importante para a jogabilidade: quando o duo sofre dano, Laylee separa-se de Yooka e voa erraticamente pelo cenário. Durante alguns segundos, o jogador tem a oportunidade de tentar apanhar o morcego, mas caso não o consiga fazer, deixa de poder realizar ações como ground pound e o giro aéreo. Além disso, caso sofra dano novamente, o jogador terá de iniciar a fase a partir de um checkpoint. Esta dinâmica interessante aumenta, na maior parte dos casos, a tolerância ao erro. A mesma filosofia aplica-se a outros toques modernos adicionados ao jogo, como a ausência de um sistema de vidas e a possibilidade de saltar secções problemáticas.
Desengane-se no entanto quem pensar que o jogo é favas contadas: o "Impossible Lair" que dá o nome a esta produção está aqui para provar isso mesmo. Vencer o Impossible Lair é o objetivo do jogo, algo que não é tarefa fácil: este trata-se de um longo teste às capacidades do jogador no qual se é colocado imediatamente após o tutorial. O mais provável é que esta primeira tentativa de abordar o covil do Capital B., o vilão do jogo, seja frustrada sem demoras.
E é aqui que entram os restantes níveis do jogo: cada um dos 48 cenários que o jogador atravessa tem, no seu final, uma das abelhas do Royal Beetalion capturadas pelo Capital B.. Estas funcionam como um escudo: cada abelha que o jogador resgata permiti-lo-à sofrer mais um episódio de dano no Impossible Lair, o que confere a cada nível um verdadeiro sentido de propósito e de progressão. Assim, quando o jogador se sentir confiante com a sua experiência e o número de abelhas à sua disposição, pode tentar novamente derrotar o vilão.
Os restantes colectáveis do jogo são igualmente valiosos, com particular destaque para os "tonics". Estes permitem alterar de formas variadas certos parâmetros do jogo: alguns são cosméticos (alterando a aparência das personagens e adicionando filtros à imagem), enquanto outros alteram a jogabilidade, aumentando, por exemplo, a janela de tempo para apanhar Laylee depois de sofrer dano ou o dano necessário para derrotar um inimigo. É possível usar três tonics por nível, sendo que estes vão também alterar a quantidade de quills recebe no final dos níveis: um tonic que diminua a dificuldade diminui também os quills recebidos e um tonic que aumente a dificuldade faz o contrário, o que permite ao jogador adaptar a experiência de acordo com os seus desejos e capacidades e o faz ponderar os potenciais riscos e benefícios das suas escolhas.
Para desbloquear estes tonics, o jogador precisa primeiramente de os encontrar no mundo de jogo, fora dos níveis. Este mundo denso é visto de uma perspetiva de topo (como os clássicos The Legend of Zelda) e apresenta uma maior ênfase na resolução de puzzles. Foi com surpresa que me vi bastante investido nesta componente do jogo. Nesta, o jogador pode dialogar com várias personagens (e sorrir perante o brilhante humor que marca o título), bem como resolver enigmas para encontrar tonics e para desbloquear os níveis 2D e as suas formas alternativas: cada um dos níveis está presente fisicamente no mundo como um capítulo de um livro no qual Yooka e Laylee entram. Assim, quando o jogador provoca alterações num capítulo ao, por exemplo, mergulhá-lo em água ou virá-lo do avesso, o cenário é drasticamente modificado de tal modo que pode mesmo ser considerado um nível totalmente novo.
Estes níveis destacam-se pela sua diversidade e pela sua excelente construção em torno de uma mecânica principal, que é em norma bem desenvolvida. Os seus ambientes são ricos e variados (embora com alguma perceptível repetição de elementos) e fazem-se acompanhar de excelentes peças musicais vindas diretamente das mãos de David Wise e dos compositores da Playtonic Games. É também de destacar a fluidez do jogo, que se mantém nos 60 fotogramas por segundo na maior parte das circunstâncias na versão Nintendo Switch analisada.
Conclusões
Yooka-Laylee and the Impossible Lair é um excelente jogo de plataformas em todos os quadrantes, capaz de evocar uma experiência Donkey Kong Country clássica e adicionar os seus próprios toques modernos. Cada nível é único e memorável, com o seu próprio ambiente e mecânica, e extremamente agradável e desafiante de percorrer. O mundo do jogo é especialmente digno de nota, apelando à exploração e permitindo ao jogador respirar entre os desafios 2D.
O melhor
- Controlos precisos;
- Níveis interessantes e desafiantes;
- Mundo de jogo denso e cativante.
O pior
- Repetição de elementos;
- Alguns preciosismos técnicos.
Nota final: 9
Título: Yooka-Laylee and the Impossible Lair
Desenvolvedora: Playtonic Games
Publicadora: Team17
Ano: 2019
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do
jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Team
17.
Autor da Análise: Tiago Sá
Autor da Análise: Tiago Sá
[Análise] Yooka-Laylee and the Impossible Lair [NSW]
Reviewed by Tiago Sá
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novembro 02, 2019
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