Qualquer jogador reconhece a importância da capacidade de um
título conseguir captar a sua atenção e assegura-la durante as diversas horas
da sua duração. Children of Morta, ainda que apresentando uma premissa pouco
inovadora na sua jogabilidade, conta com um “Story Telling” do mais cativante
que tivemos a oportunidade de experimentar nos últimos tempos. Efectivamente, a
sensação transmitida é de estarmos a experienciar um conto fantástico, ao invés
de estarmos a jogar um vídeo jogo.
Ainda que a história não seja completamente inovadora, a
maneira como é apresentada, o seu enredo e caracterização de personagens deixam
o jogador agarrado a esta experiência durante horas a fio. A narração, setting
e jogabilidade são efectivamente as mais-valias que combatem a repetividade de
título do género “Rogue Like”.
Children of Morta caracteriza-se como um Rogue Like com
elementos de acção/slashing, que conta as aventuras da família “Bergson”, um espécie
de protectores da terra que vivem no sopé do Monte Morta. A história conta as
façanhas de cada elemento da família, na sua investigação das cavernas e níveis
que decompõem esta aventura, procurando descobrir a origem do mal que se abateu
sobre este local mal e como derrota-lo. Existe uma activa interacção entre cada
membro, não somente na casa da família onde podemos aprimorar as nossas
habilidades e desbloquear mais benefícios, como durante as missões nas
masmorras.
A jogabilidade é típica de um “Action RPG”, com elementos de
Rogue Like, onde temos de percorrer diversos níveis e masmorras, lutando com hordas
de inimigas, alguns mini bosses e um boss final no último nível da masmorra.
Para isso contamos com diversas personagens, cada uma com um conjunto
independente de habilidades, características e jogabilidade bem distintas.
Existem ainda habilidades ao nível familiar que afectam todas as personagens de
igual modo. Fundamentalmente, podemos considerar que as típicas classes de heróis
(desde monge, assassino até ao mago) estão todas presentes com a possibilidade
de serem escolhidas, permitindo jogabilidades variadas e refrescantes. O
próprio jogo conta com um sistema de corrupção, que ocorre quando se abusa do
uso de uma personagem, promovendo a experimentação de outras classes, enquanto
as primeiras recuperam.
Graficamente o título conta com belos cenários e modelos em
arte pixelizada, que por vezes nos deixam a admirar o trabalho feito. A banda
sonora e música estão bastante competentes, no sentido de ajudar a criar e
aprofundar o ambiente e setting do jogo, ainda que pouco memoráveis.
Sendo um jogo baseado num procedimento procedural, a criação
dos diversos níveis de cada masmorra está bastante competente, com poucas áreas
vazias ou desconexas do resto do mapa e inimigos/itens numa proporção e localização
propicia a possibilitar uma boa evolução da história e jogabilidade. Este
aspecto, em particular, consideramos ser tecnicamente a grande valência do
jogo. Queremos com isto dizer que o equilíbrio entre a narração da história, a
evolução da dificuldade e jogabilidade, quando dependente de uma geração, para
todos os efeitos, aleatória, é frequentemente o “calcanhar de Aquiles” deste
tipo de jogos. Felizmente, Children of Morta, consegue equilibrar estes diversos aspectos de uma forma suberba.
Contudo, o jogo desenvolvido pela Black Mage, não é isento
de problemas. Por vezes o processo de repetir diversas vezes o mesmo nível,
ainda que com masmorras geradas diferentes, poder-se-á tornar frustrante, pois as
masmorras tendem a tornarem-se muito extensas. O facto de algumas personagens
tornarem-se corrompidas obriga-nos a jogar muito tempo com outras menos
desenvolvidas ou que não se adequam muito ao nosso estilo de jogo. Este aspecto
leva a que acabamos por usa-las demasiado com o intuito de “passar tempo “ e
recuperar algum dinheiro, sem nunca o verdadeiramente objectivar a derrota do boss final. Notamos de igual modo um leve desequilíbrio na evolução da dificuldade entre masmorras.
Conclusões
Children of Morta é um excelente Rogue Like que proporciona aos
jogadores uma experiência cativante e recompensadora. Ainda que a progressão
nos níveis tenha algum desequilíbrio no nível de dificuldade, não é o suficiente
para afastar quem tenha interesse em experimentar esta obra. Se gostarem de
arte pixelizada, um bom Story telling e a simplicidade do género é um dos
melhores a apostarem agora.
O Melhor:
- Geração procedural muito bem implementada;
- Bela arte pixelizada,
- Narrativa cativante;
O Pior:
- Obrigação que as mecânicas de jogo impõem em utilizar todas as personagens;
- Masmorras podem-se tornar demasiado compridas;
Pontuação do GameForces - 7.5/10
Título: Children of Morta
Desenvolvedora: Dead Mage
Publicadora: 11 bit Studios
Ano: 2019
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital
do jogo para a Playstation 4, através de um código gentilmente cedido pela 11
bit Studios.
Autor da Análise: Carlos Silva
[Análise] Children of Morta [PS4]
Reviewed by Carlos Silva
on
novembro 06, 2019
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