Análise | Soul Hackers 2 – Marcar Passo


Com Persona 5 e Shin Megami Tensei V, a Atlus parece ter refinado o seu formato de RPG por turnos à sua melhor configuração. O sucesso destes e outros títulos similares que a editora tem conseguido atingir é prova de estarem no bom caminho. Pessoalmente, ao pegar em Soul Hackers 2, não ia com grandes expectativas. Confiava na experiência da Atlus com propostas do género e sabia o que me esperava. Assim, a grande questão que surgiu durante a minha jornada com Ringo e companhia foi mesmo “Ok, o jogo está engraçado, mas não traz nada de novo…e agora qual será a melhor forma de revitalizar ou reformular este género?”. Portanto, embora não apresente grandes problemas em si, também não se desmarca dos demais e é clara a inspiração da equipa que trabalhou na sua preparação.

Soul Hackers 2 foi desenvolvido por parte da equipa que previamente nos entregou Tokyo Mirage Sessions #FE (TMS #FE). Nomeadamente, Eiju Ishida e Mitsuru Hirata, que assumem aqui a posição de Co-Produtor e Co-Director. O design das personagens, cenários, monstros e conceito artístico evoca uma experiência em tudo remanescente da que sentimos em TMS #FE. Não obstante da inspiração e assimilar-se (em demasia, talvez) com outros títulos da série, Soul Hackers 2 consegue implementar-se individualmente como um RPG competente, com um grupo principal sólido, sistema de combate refinado e uma história que nos agarra do início ao fim.



Soul Hackers 2 decorre num futuro próximo, numa altura em que uma Inteligência Artificial (IA) universal no mundo cibernético e intemporal, através dos seus algoritmos de previsão, determinou que o fim do mundo estaria para acontecer em breve. A sua resposta a este evento é a materialização e criação de duas entidades, Ringo e Figue, que assumem uma forma humana e conseguem aceder a algumas das capacidades da IA. Assumimos principalmente o controlo de Ringo, recebendo instruções claras do que fazer para prevenir o cataclismo da nossa sociedade.

No decorrer da história, não se notam grande reviravoltas. Antes, podemos afirmar que é notório o crescimento bem sustentando de todos os arcos narrativos. Não somos propriamente surpreendidos com os eventos que vão ocorrendo, mas a forma de como vão sendo apresentados ao jogador, é relativamente cativante e mantem o interesse. Um dos principais aspetos que ajuda neste processo passa pela caracterização das personagens e uma mão cheia de NPCs.



Como podem estar já a adivinhar, sim, a sua caracterização é realizada através de missões secundárias. Neste quesito, o jogo apresenta uma dualidade de critérios. Embora algumas das aventuras secundárias sejam interessantes e sirvam para complementar a caracterização os restantes elementos da nossa equipa, outras são claramente introduzidas para encher o título de conteúdo… desnecessário. A título de exemplo, cada uma das lojas do jogo tem uma personagem NPC que terá o seu conjunto de atividades secundárias, para ajudar a sua caracterização. Contudo, existem outras tantas, que não introduzem nada de relevo ao mundo em questão.

A atividade secundária mais prazerosa para o jogador é definitivamente a exploração das “masmorras”, que caracterizam o mundo cognitivo de cada um dos nossos amigos. Ainda que sejam demasiado descaracterizadas e bastante similares entre si (design, estrutura, inimigos, etc.), servem como uma ótima forma de melhorar a capacidade de combate da nossa equipa e introduzir diversos elementos adicionais sobre cada um dos colegas de Ringo. Para mais, é onde surgem os inimigos alternativos mais desafiantes e que dão maior prazer em derrotar.



Efetivamente não podemos afirmar que Soul Hackers esteja ao nível de dificuldade dos antigos Shin Megami Tensei da Atlus. Se jogarmos normalmente, a Atlus garantiu que teremos uma hipótese bem sólida de vencer os combates que vão surgindo. Para isso, além das “masmorras” mencionadas previamente, ajudou também as mecânicas de combate que foram inseridas.

Quem jogou alguma vez Shin Megami Tensei, Persona, TMS #FE ou Devil Summoner, saberá com o que contar em termos de mecânicas. Estamos perante um típico RPG por turnos, puro e duro. Durante a exploração das diversas áreas, teremos de lutar com inúmeros demónios que posteriormente poderemos recrutar para a nossa equipa (cada membro da equipa pode controlar um demónio de cada vez). As tradicionais mecânicas de fusão marcam novamente presença e a possibilidade de melhorar a nossa equipa com diversos tipos de acessórios também. Talvez um dos aspetos que diverge, muito ligeiramente, dos demais títulos da editora é a inclusão da possibilidade de definir os demónios de todos os elementos da equipa, inclusive altera-los durante um combate em tempo (quase) real. Isto permite uma dinâmica maior e melhor controlo da evolução da equipa, enquanto um grupo.



Outro elemento que a Atlus referenciou bastante passou pelas “Sabbaths”. Estes ataques especiais são basicamente o “All-out-attack” de qualquer Persona que tenham jogado. Estes ataques surgem sempre que atingirmos a fraqueza elementar de um determinado inimigo. A sua particularidade passa por permitir ir juntando diversos demónios ao grande ataque final. Não somente cada vez que atingirmos a fraqueza elementar adicionamos um demónio ao ataque final, como se atingirmos com um elemento específico à personagem atacante, efetuar dano critico ou utilizar um ataque físico particular, permite ir adicionando diversos demónios. Tudo depende das habilidades que vamos desbloqueando que permitam ir adicionando demónios ao grande ataque. No final da nossa jornada conseguiremos juntar dez ou mais entidades num único ataque maciço.

Ponto assente é que, no global as mecânicas de jogo são bastante similares às experiências de outros jogos deste universo. Este aspeto torna esta experiência como algo bastante mediana. Para mais equacionando que a banda sonora não consegue fazer por Soul Hackers 2 o que fez por Persona 5 ou TMG #FE. Enquanto nesses títulos, as músicas que acompanham a nossa jornada conseguem verdadeiramente englobar todas as componentes do jogo e elevar a experiencia para outro patamar, em Soul Hackers 2 parece que serve somente para manter o ritmo de jogo. Não é definitivamente uma banda sonora má, mas pouco faz pelo jogo e mais importante, pela experiência que fica na nossa memória depois do acabar. Ainda assim, seria muito pouco ético afirmar que o trabalho de algumas faixas não é memorável. Em particular a faixa de abertura é bastante boa, mas são demasiadas poucas para conseguir abranger um RPG com tantas horas de duração.





Conclusões
Soul Hackers 2 é um sólido RPG por turnos, mas que falha em introduzir algo de novo ou consolidar todos os elementos da experiência introduzida. Felizmente, apresenta uma ótima caracterização das personagens e um enredo sólido que nos mantem atentos ao longo das horas jogo. Os fãs de Shin Megami Tensei, certamente conseguirão disfrutar dele, mas no global existem outras melhores alternativas.



O Melhor:
  • Caracterização das personagens;
  • Enredo e história;
  • Algumas faixas da banda sonora.

O Pior:
  • Falha em introduzir algo de novo;
  • Demasiadas aventuras secundárias irrelevantes;



Pontuação do GameForces – 7.5/10




Título: Soul Hackers 2
Desenvolvedora: Atlus
Publicadora: Sega
Ano: 2022


Análise | Soul Hackers 2 – Marcar Passo Análise | Soul Hackers 2 – Marcar Passo Reviewed by Carlos Silva on janeiro 18, 2023 Rating: 5

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