“ARRRGH! Onde está o meu Grog?”
Se vocês são jogadores de longa data, então esta singela frase será suficiente para saberem do que vamos falar nesta análise! É verdade, o caos, a destruição a irreverência de Guybrush Threepwood está de volta…em grande!
Contudo, para o restante grupo de leitores que (inconcebível e imperdoavelmente) não compreendeu as referências do parágrafo anterior, uma pequena introdução ao tema é justificada. Estamos a falar de “The Secret of Monkey Island”, em particular o mais recente lançamento da série: Return to Monkey Island.
No primeiro título desta série, lançado no longínquo ano de 1990, seguimos as aventuras de um “Pirate Wannabe” chamado Guybrush Threepwood. Este é um dos títulos mais icónicos de um género que cada vez mais (injustamente) encontra-se relegado para experiências “alternativas”: as aventuras “point n’ click”. Muito resumidamente, novamente para os novatos nestas andanças, estes são jogos onde controlamos uma personagem à medida que deciframos os mais díspares métodos, em como resolver os puzzles que surgem no desenrolar de uma aventura. Títulos como Day of the Tentacle, Beneath a Steel Sky, Broken Sword ou Space Quest são somente alguns dos mais reconhecidos do género. Não deixem de confirmar cada um deles depois de ler este artigo! Mas… voltando para “Return to Monkey Island”!
É verdade, Guybrush está de volta para mais uma aventura. Desta vez , muito ao contrário das entradas mais recentes da série, estamos perante uma experiencia verdadeiramente revertente ao que Monkey Island introduziu a uma escala global no inicio de década de 90. A irreverência das personagens (e respectivas caracterizações), o humor negro ou a arte do jogo, são somente algumas das características que mais sobressaem aqui.
Neste sentido e aproveitando estarmos a falar do tópico, iremos directamente ao grande ponto de discussão sobre este jogo: a sua direcção artística. Aquando o seu anúncio, foram inúmeras as vozes da comunidade a levantarem-se sobre o estranho aspecto que os produtores decidiram enveredar. Para compreenderem isso, basta ver as imagens introduzidas nesta análise... bem diferentes do que anteriormente caracterizaram a série, certo? Pois bem, é com grande prazer que anuncio ao mundo (ou pelo menos a quem estiver a ler este artigo), que espero que Monkey Island nunca mais regresse ao estilo antigo. É verdade, num mundo de trivialidades e gráficos cada vez mais de ponta, desfrutar de uma experiencia em que cada quadro, cada personagem ou cada animação reflectem um cuidado acabamento à mão é um deleite. A caracterização dos cenários é exímia, as animações ganham nova dimensão e poderemos ver uma caracterização que exagera nas peculiaridades de cada personagem. A direcção artística é verdadeiramente o ponto, em pareceria com o enredo e humor, que consegue envolver-nos ao longo de toda a experiencia!
Mas o cuidado dos produtores em envolver os jogadores na experiencia que propõem não acaba por aqui. Ron Gilbert e Dave Grossman, os originais produtores dos dois primeiros títulos da série, estão de volta. Este aspecto, muito provavelmente, justifica um dos aspectos base do enredo: em Return to Monkey Island Continuamos a aventura depois do final do segundo título da série. Mas Ron e Dave não ignoraram os capítulos posteriores ao segundo, embora não os recriminasse se o assim fizessem! Ao invés, estes criaram um enredo que consegue encaixar na perfeição no absurdo final do segundo título, enquanto mantendo o lore dos jogos seguintes. Não irei estar a desenvolver muito a ideia, mas quem jogou os anteriores conseguirá compreender o significado por detrás das minhas palavras! Para os demais, o jogo apresenta ainda uma ajuda que introduz os eventos dos jogos anteriores de uma forma bastante cativante. Através de um livro de memórias, narrado pelo actor que sempre deu a voz a Guybrush e naturalmente está de volta neste novo capitulo. Desta forma os novatos poderão ficar facilmente a par das aventuras anteriores do nosso pirata preferido (desculpa Jack Sparrow).
Já falamos sobre a direcção artística, mas essa é somente uma das vertentes da componente audiovisual deste título que merece destaque. A caracterização e interpretação dos actores estão exímias e naturalíssimas. Muitos dos actores de voz estão de volta, exceptuando Earl Boen, a voz original do nosso arqui-inimigo (o infame pirata fantasma Le Chuck), que já está aposentado. Felizmente Jezz Harnell, esteve mais do que à altura para dar voz ao infame pirata!
Já no que se refere à banda sonora, ao encargo de Michael Land, Peter McConnell e Clint Bajakian (produtores de longa data da série), introduz mais uma vez e de uma forma extremamente cativante o exótico ambiente das caraíbas.
Portanto estamos perante um título fruto do trabalho da equipa original dos jogos que popularizaram a série... e este é um das principais sentimentos que temos ao jogar Return to Monkey Island. Por muito que goste da série, os lançamentos mais recentes não foram propriamente caracterizadores daquilo que joguei enquanto adolescente. Não são maus jogos e servem para entreter, mas não tinham aquela genialidade de outros tempos. Mas aqui não. Com o desenrolar da aventura, a abertura do enredo, a estruturação dos puzzles, tudo reverte para aqueles dias de Inverno dos anos 90.
Naturalmente os tempos evoluem, assim como as dinâmicas associadas aos videojogos. Para isso, os produtores introduziram diversos ajustes de “qualidade de vida” ao título. O primeiro e possivelmente mais controverso é a inclusão de duas dificuldades. Uma casual e uma normal, “Full Monkey Island Style”. Basicamente os dois modos divergem na dificuldade de resolução dos puzzles que vão surgindo, onde o modo casual elimina alguns dos passos necessários para a sua resolução. Portanto, se quiserem ter a experiencia completa devem evitar esse modo. Já aqueles que somente quiserem ver o porque de tanta “balburdia” e começar a entrar neste mundo, o modo casual poderá ser mais indicado. Honestamente, não consigo deixar de recomendar o modo normal em detrimento do casual…mesmo para jogadores novatos, pois os puzzles apresentados são dos mais simples e directos de toda a série. Adicionalmente, existe um outro aspecto dentro do jogo que permite agilizar o processo de resolução destes mesmos puzzles.
Esta outra mecânica de “qualidade de vida” é a super bem conseguida inclusão de um guia dentro do próprio jogo. Caso estejam presos e sem saber em como prosseguir, podem abrir um livro dentro do jogo que providencia dicas sequenciais na sua importância em como resolver determinado problema. O jogo não explica directamente, a não ser que solicitemos diversas vezes, permitindo assim manter aquele sentimento de conseguirmos suplantar o problema (somente com uma pequena ajuda). Este aspecto também evita que o jogador, ao procurar online receba algum spoiler do enredo, o que é uma óptima mais-valia.
Por fim, resta-nos abordar um pouco a recta final do jogo. Sem querer levantar muito o véu, este é um dos melhores (ou o melhor) final da série. Para começar teremos diversos finais de acordo com o que façamos na última área do jogo: basicamente existem 2 finais com cerca de 5 variações cada. Mas mais importante que isso é a pequena surpresa (novamente, sem querer entrar em spoilers) que surge no menu principal depois de acabar pela primeira vez o jogo. A forma que quebram a “Fourth Wall” é deliciosa e para quem acompanhou a série desde a sua génese, uma verdadeira ode à nostalgia.
Ainda assim, denotamos dois pontos nesta mesma recta final que devemos salientar. O jogo apresenta um back tracking significativo, pois o jogo tende a expandir o número de locais que poderemos explorar e teremos de visitar diversos para solucionar alguns dos puzzles. A área final também revela-se algo anti climática e muito simples para o que restante do jogo apresentou (curta e apresentando puzzles super simples).
Conclusões
Return to Monkey Island é acima de tudo um regresso às origens da série. Dizem que um raio não atinge duas vezes o mesmo local, mas Ron Gilbert e Dave Grossman conseguiram criar uma experiencia que em tudo evoca os sentimentos transmitidos pelos títulos originais. Esperemos que as aventuras de Guybrush (estas novas aventuras), não fiquem por aqui! Suspeitamos que ainda há muitas histórias por detrás deste infame segredo!
O Melhor:
- Direcção artística verdadeiramente cativante;
- Caracterização e voice acting das personagens;
- Sistema de dicas dentro do jogo, que permite evitar spoiler e ajudar alguns pontos mais difíceis;
- ARRRG, onde está o meu grog? (Sentimento “The Monkey Island está de volta!”).
O Pior:
- Modo casual desnecessário, considerando existir um guia dentro do próprio jogo;
- Ultima área um pouco anti climática.
Pontuação do GameForces – 9/10
Título: Returnn to Monkey Island
Desenvolvedora: Terrible Toybox
Publicadora: Devolver Digital
Ano: 2022
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de um código gentilmente cedido pela Devolver Digital.
Análise | Return to Monkey Island - ARRGH, Onde Está o Meu Grog?
Reviewed by Carlos Silva
on
novembro 23, 2022
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