Se tivesse que dedicar uma expressão tradicional portuguesa a Cult of the Lamb, esta seria sem dúvida "Não julgar um livro pela capa", isto porque o design deste universo aparenta ser à primeira vista bastante engraçado e animado. Contudo a história muda completamente quando a nossa personagem arranja uma arma e começa a derrotar inimigos horríveis e a efetuar rituais satânicos, algo que à primeira vista nos deixaria de nariz torcido pois não faz qualquer sentido. Contudo o resultado final consegue ser bastante surpreendente.
A história do nosso querido cordeiro inicia no momento do seu próprio sacrifício durante um ritual, ou seja, da melhor maneira possível! Contudo, somos salvos por uma entidade que se apresenta como "Aquele que espera" e promete reviver-nos... se em troca matarmos as 4 entidades que tencionam sacrificar-nos. O nosso protagonista aceita a aliciante proposta e com isso é lhe concebido parte dos poderes da tal entidade desconhecida. Assim, juntamente com os seus novos poderes, o cordeiro procura vingança e eliminar os que anteriormente mataram toda a sua espécie e o tentaram matar. Este é o inicio da nossa aventura que é acompanhada por uma jogabilidade que mistura dois estilos de jogo muito diferentes, o estilo rogue-like e simulador de vida.
Efetivamente, Cult of the Lamb consegue misturar o melhor de dois mundos: o estilo rogue-like e todas as mecânicas de construção de vila e produção de recursos, muito à semelhança de Animal Crossing. Não obstante, a sua temática tende a revelar-se um pouco mais complexa e sombria.
Começando pela vertente rogue-like. Estas secções do jogo iniciam-se sempre com uma arma e uma maldição escolhidas aleatoriamente, (habilidade especial/magias), as quais deveremos utilizar para derrotar os diversos inimigos que aparecem no nosso caminho ao longo das diversas fases. Sempre que eliminamos todos os inimigos duma determinada fase, seremos recompensados com um baú repleto de ouro, recursos ou cartas (estas que podem ser decorações para a nossa vila ou atributos). No final de todas as fases de uma determinada aventura teremos sempre uma luta com um boss, que ao ser derrotado transformar-se-á num seguidor para recrutarmos.
O jogo oferece-nos a possibilidade de escolhermos que caminho tencionamos efetuar para chegarmos à ultima fase. Cada um desses caminhos é diferente e pode recompensar-nos de diversas formas, com recursos, seguidores novos, cartas que podem ser utilizadas durante a aventura ou até mesmo armas, sendo este último o mais exigente uma vez que nos leva a enfrentar mais inimigos.
O sistema de combate é muito simples, a nossa personagem apenas pode atacar, rebolar para se esquivar dos ataques inimigos, utilizar a maldição e apanhar recursos, cartas ou colecionáveis. O jogo conta com três tipos de jogabilidade, associados aos diferentes tipos de armas: a espada, cujos ataques afetam menos os inimigos porém os ataques são mais rápidos; os machados, que apesar de tiraram mais dano, os ataques já demoram algum tempo a serem executados; os machados grandes, que efetuam imenso dano, contudo a nossa personagem demora imenso tempo para efetuar o ataque. Felizmente, o tipo de arma apenas afeta o ataque e não a velocidade de movimentação da nossa personagem, pelo que conseguiremos ter alguma manobrabilidade, mesmo com armas mais lentas.
As maldições já são um pouco mais variadas, podendo ser de curto ou longo alcance. As de curto alcance podem repelir os inimigos, efetuar um ataque com uma espada especial ou derramar uma poça de veneno no chão. Já as de longo alcance podem consistir num disparo fatal, fazer um ou vários corredores de tentáculos ou magia que causam dano nos nossos inimigos. Apesar da pequena variedade de armas e maldições, estas ao longo do desenrolar do jogo vão adquirindo variações que causam mais dano ou causam um impacto especial nos inimigos, ajudando a variar um pouco a forma de evolução da personagem.
Ao todo temos um total de 4 aventuras. Todas contam com uma ambientação diferente, inimigos diferentes, recursos exclusivos (que somente podem ser encontrados naqueles locais) e a possibilidade de nos aventurarmos nesse mesmo local as vezes que quisermos. Sempre que morremos durante uma fase, voltamos para a nossa vila e perdemos 20% dos recursos que recolhemos. Ao longo das aventuras também vamos encontrando cartas, estas dão atributos especiais à nossa personagem, porém são de cariz aleatório e só as poderemos receber caso já a possuamos na nossa coleção. No total são cerca de 36 cartas, todas elas oferecem algo único.
Ainda no que se refere às maldições, o jogo apresenta algumas quebras da taxa de fotogramas, especialmente quando estas se tornam mais elaboradas e temos um número grande de inimigos na mesma fase, algo que atrapalhou imensas vezes o combate. Para além disso, também ocorreu umas vezes os inimigos desapareceram da área da fase e tornar-se impossível avançar para a próxima. Adicionalmente, sentimos também a falta de uma vertente mais virado para um possível modo cooperativo local ou mesmo online. Na nossa opinião seria algo bastante apelativo e um opção de valor acrescentado para a experiencia introduzida e em particular para este bem conseguido modo de jogo.
Saltando agora para a segunda vertente do jogo, que consiste na criação de uma vila e na responsabilidade de cuidar dos nossos seguidores. Seguidores são indivíduos que iremos encontrar durante as nossas aventuras e que podemos recrutar para fazer parte do nosso culto. Estes farão de tudo para nos obedecer e fazer-nos felizes, isto se nós também cuidarmos deles, claro. Sempre que recrutamos algum elemento novo temos a possibilidade de o personalizar ao nosso gosto com as diferentes raças, dar-lhe um nome novo e alterar-lhe a cor. Todos os seguidores têm personalidades diferentes, sendo uns melhores em certos aspetos e outros piores noutros, estas personalidades não podem ser alteradas. São estes também que têm como função rezar, produzir recursos, limpar e construir ou ajudar a construir todos os edifícios, decorações ou até mesmo as suas próprias camas.
As nossas funções como ancião do nosso culto passam por: estabelecer a fé através de pequenas missas diárias; alimentar os seguidores com refeições diárias ou bi diárias; certificar que a nossa vila está sempre limpa (resumidamente, limpar as fezes e os resíduos líquidos que os seguidores deixam por todo o lado!). Um seguidor satisfeito é um ponto importante para a nossa jornada, já um seguidor insatisfeito e sem as condições que ele acha necessárias pode tornar-se uma pedra no sapato, pois eles tendem a revoltar-se contra nós e até convencer os outros elementos a juntarem se a ele.
Outro fator que pode ocorrer é os seguidores adoecerem e/ou morrerem tanto de velhice ou por uma doença resultante da poluição da vila. Sempre que nos for possível, também podemos efetuar rituais. Estes irão modificar o desempenho dos nossos seguidores temporariamente em troco de fé ou aumentar a fé dos mesmos através de sacrifícios ou outros tipos de cerimonias como funerais, banquetes canibais ou casamentos.
As aventuras vão se tornando cada vez mais exigentes e a nossa preparação é essencial. Para tal o jogo oferece diversos upgrades que podemos fazer tanto à nossa personagem ou na vila e que podem ser concretizados de várias formas. Os upgrades à nossa vila, assim como a possibilidade de desbloquear diversas infra-estruturas para a mesma, são adquiridos através dos pontos que são acumulados com as rezas dos nossos seguidores. Tal como foi mencionado anteriormente, uma das funções dos nossos seguidores é rezar, com isso devemos sempre mandar alguns prestar homenagem à nossa pessoa numa estátua que se encontra no centro da vila. Á medida que rezam, a estátua vai acumular uns pontos, que podem ser utilizados para adquirir novas infra-estruturas ou melhorar a capacidade da própria estátua ou edifícios já construídos.
A segunda forma é através das missas, sempre que efetuamos a nossa missa diária iremos receber pontos consoante o número de seguidores que temos. Com esses pontos conseguimos adquirir melhorias para a nossa personagem como a possibilidade de recebermos armas ou maldições melhores no inicio de cada aventura ou recebermos cartas melhores.
A terceira forma é através de sepulturas que vamos recebendo sempre que realizamos pequenas side-quests que os nossos seguidores vão propondo ou sempre que um seguidor sobe de nível. As side-quests podem variar desde recrutar elementos rebeldes para o nosso culto, recolher algum recurso em específico ou até prender um seguidor somente porque nos pediram. Este upgrade dá-nos a opção de escolher aspetos de doutrina e morais do nosso culto, como os rituais disponíveis e alguns comportamentos dos nossos seguidores.
Por fim a última forma de evoluir é através de amuletos. Estes são adquiridos sempre que concluímos uma missão de entidades exteriores ao culto (estas encontram se em locais exteriores ao culto e podem ser descobertos ao longo das aventuras). Este upgrade atribui-nos diversas capas que introduzem diversos bonus utilizáveis nas aventuras, como iniciarmos as aventuras com 4 cartas de atributos ou até receber uma vida extra.
Também na gestão da vila se notaram quebras da taxa de fotogramas, especialmente quando já temos um número considerável de seguidores e estes encontram-se a trabalhar ao mesmo tempo. Para além disso, ocorreu várias vezes um glitch que congelava o jogo sempre que efetuávamos um ritual, o que nos obrigava a ter que desligar o jogo e voltar a ligar, perdendo assim um pouco do progresso. Este processo quebrava alguma da imersão do jogo, mas mais importante, impedia a evolução da personagem da forma preconizada, pois tnão conseguiamos aumentar o nível de fé, correndo assim o risco de perdermos a confiança dos nossos seguidores, caso não reiniciássemos o jogo.
Graficamente, não podemos deixar de salientar o incrível estilo que foi adotado pela produção. Todo o estilo satânico combina bastante bem com as animações e o estilo cartoon que o ambiente e as personagens apresentam. A iluminação foi muito bem trabalhada e apesar deste jogo não ser em três dimensões, consegue-se perceber diversas ocasiões de ray-tracing e de algumas animações 3D, especialmente quando um boss se transforma. A banda sonora também está muito boa, com excelentes músicas de fundo que vão sendo variadas de acordo com a situação ou o local em que estamos, sempre com aquele toque animado que por vezes se tornava sombrio e maléfico. (Na nossa opinião, apenas faltou um hit de metal para apimentar o ambiente).
Conclusões
Cult of the Lamb é um jogo bastante completo, repleto de vida, inimigos, rituais e imensas atividades para se fazer e locais para se explorar. A temática de criação de um culto encaixa perfeitamente com a ideia rogue-like e consegue fazer uma mixórdia surpreendentemente positiva. Apesar de alguns bugs e glitches que facilmente poderão ser corrigidos através de pequenas atualizações, todo o contraste entre a positividade das personagens e do ambiente da vila combina muito bem com a negatividade dos rituais e das criaturas que nos desejam matar e isso é o que faz de Cult of the Lamb um jogo excelente e recomendado por nós.
O Melhor:
- Uma mistura entre dois géneros de jogo distintas porém que funcionam bastante bem;
- Visuais bastante bem trabalhados;
- Um jogo bastante completo e repleto de atividades;
- Gameplay frenético e bastante apelativo.
O Pior:
- Alguns problemas de frame-rate e a presença de alguns glitches;
- A ausência de algum tipo de modo cooperativo local ou multiplayer.
Pontuação do GameForces – 9/10
Título: Cult of the Lamb
Desenvolvedora: Massive Monster
Publicadora: Devolver Digital
Ano: 2022
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Playstation 5, através de um código gentilmente cedido pela CosmoCover.
Análise | Cult of the Lamb - Meu Querido Culto Satânico
Reviewed by Carlos Cabrita
on
agosto 31, 2022
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