O que vos vem à cabeça quando pensam em trânsito? Relaxamento, não? Talvez passem a fazer esta associação depois de experimentarem Mini Motorways, o novo e viciante jogo de puzzle da Dinosaur Polo Club.
Desde logo, um aspeto particularmente laudável de Mini Motorways é a sua simplicidade e engenho. Mais ou menos complexos, todos os jogos de puzzles têm necessariamente um conjunto de regras que precisam de veicular ao jogador, e neste campo Mini Motorways é uma das experiências mais intuitivas. O seu conceito é simples: em cada nível, baseado na geografia de uma cidade real como Rio de Janeiro, surgirão casas e destinos de cores diferentes. Se surgir um pino num destino, isso significa que um carro, proveniente de uma casa da mesma cor, precisa de chegar a esse local. Caso demasiados pinos se acumulem num destino específico, aparecerá um temporizador sobre este. Se não chegarem carros suficientes a este local para remover os pinos excedentes até ao fim do tempo, a partida terminará!
No entanto, esta simplicidade não
significa de todo que o jogo é fácil: o começo das partidas é bastante laxo, mas à medida que o tempo passa,
à medida que temos de adicionar à nossa rodovia casas e destinos nos extremos
do mapa e cruzar as rotas dos carros de diferentes cores entre si, torna-se progressivamente mais difícil evitar demoras nos trajetos dos carros. É aí que
começamos a repensar a forma como posicionamos os nossos blocos e infraestruturas
limitados, com cada partida a ensinar-nos um pouco mais sobre como devemos
gerir estes recursos.
Apesar da sua segmentação por níveis, Mini Motorways aproxima-se mais de um jogo estilo arcade como TETRIS do que de jogos com campanha como Baba is You. Nos vários níveis, o verdadeiro apelo é tentar alcançar novas pontuações máximas, algo que é aliás encorajado pela existência de rankings mundiais. A competição nestes é mantida constantemente acesa pela implementação de desafios diários e semanais, onde as regras do jogo são alteradas. Regras como “Estradas retilíneas requerem o dobro dos blocos” e “sinais de trânsito são ilimitados” invariavelmente modificam o nosso raciocínio, mantendo a experiência fresca e levando-nos para os níveis normais com um novo modo de pensar!
Há, ainda assim, progressão
linear em Mini Motorways. Para desbloquearmos novas cidades, precisamos de alcançar uma
pontuação mínima num mapa específico. Cada uma destas novas cidades a que visitamos tipicamente aumenta a
complexidade do desafio, por fatores como uma diferente distribuição dos rios, aumentando a importância das pontes, ou a inclusão de variações na altitude,
que nos obrigam a obter e usar túneis. Embora a geografia de cada cidade seja
única, os níveis são demasiado semelhantes visualmente, sendo para nós uma pena
que não aproveitem o património cultural das riquíssimas localizações reais para lhes
conferir uma identidade própria. Se alcançarmos 1000 viagens totais num nível,
poderemos jogar a sua versão desafio, com regras partilhadas com as dos desafios do
dia e da semana.
E, mesmo com este encorajamento de raciocínio,
Mini Motorways revela-se uma experiência deveras relaxante, principalmente
graças ao seu ambiente sonoro. Os efeitos sonoros, para além de distintamente nos
notificarem de diversas informações de relevo, conjugam-se formando uma cacofonia
tranquilizante.
Felizmente, não existem condicionantes
artificiais a esta sensação. Desde logo, a jogabilidade em si nunca nos
restringe indevidamente. Se sentirmos que posicionamos uma infraestrutura num local desvantajoso, podemos a qualquer momento retirá-la e tê-la de volta no nosso
inventário. Sempre que adicionamos uma infraestrutura à cidade, os carros poderão
imediatamente deslocar-se nela, sem que seja necessário aguardar que esta seja
construída, como acontece noutros simuladores. Se precisarmos de mais tempo
para analisar a cidade que desenvolvemos antes de continuarmos a posicionar elementos, podemos desacelerar
o avanço dos dias ou até pausar por completo o tempo. Se tiverem de desligar a consola ou trocar de jogo a meio de uma partida, quando voltarem a Mini Motorways poderão retomar a construção da vossa cidade a partir do ponto em que a deixaram. Em nenhum aspeto sentimos
que os desenvolvedores cederam à tentação de introduzir uma limitação
desnecessária, e o resultado é um jogo puzzle em que raramente nos
sentimos alvo de alguma injustiça arbitrária e em que a experimentação é uma constante.
Mas mesmo fora do design intencionado
pelos desenvolvedores poderíamos ter algum condicionante, e neste campo o que mais
nos preocupava era os controlos: olhando para a interface, era óbvio que o jogo
tinha sido projetado com ecrãs de toque e/ou ratos de computador em mente. Afortunadamente, após jogarmos alternadamente das duas formas, concluímos que jogar
exclusivamente com botões provou ser uma alternativa excelente ao uso do ecrã
de toque. Ainda assim, acreditamos que uma opção definitiva de controlo poderia
ter existido: a conjugação de ambos os métodos existentes.
Ao contrário do que acontece em títulos como Super Mario Maker 2, a interação entre os comandos ativados por toque e os comandos ativados com botões é muito limitada. Por exemplo, se usarmos o ecrã de
toque para fazer zoom in, assim que tocarmos em qualquer botão a câmara
voltará à posição original. De igual modo, se segurarmos o botão que nos
permite apagar estradas e infraestruturas e tentarmos removê-las pelo ecrã de
toque, acabaremos a posicionar inadvertidamente novas estradas no lugar. Cada modo de controlo tem as suas vantagens e desvantagens, e misturando a comodidade dos
atalhos dos botões com a rapidez e precisão do toque poderíamos conciliar o melhor dos
dois mundos.
É surpreendente a inexistência desta opção de controlo híbrida porque de resto o jogo inclui uma quantidade razoável de opções de personalização. Por exemplo, é possível trocar para o modo noturno, em que predominam cores escuras, ativar o modo daltônico, em que o próprio jogador escolhe as cores que verá nas partidas, e uma vasta seleção de idiomas que inclui português do Brasil. Existe até a opção de importar o vosso progresso da versão Steam, mas infelizmente é impossível transferir os dados de jogo no sentido inverso.
Conclusão
Com mecânicas intuitivas, um ambiente sonoro apaziguante e um design descomplexado, Mini Motorways é o jogo perfeito para descontrair e ao mesmo tempo trabalhar a nossa massa cinzenta. É sempre recompensante aumentar as nossas pontuações máximas, ao passo que as nossas derrotas são atribuíveis por completo aos nossos lapsos na maior parte dos casos. No final de contas, este é um jogo viciante e aconchegante, que merece a atenção de todos os entusiastas do gênero e vos recompensará pelo tempo que nele investirem.
O melhor:
- Mecânicas simples e absolutamente intuitivas;
- Design encorajador de experimentação e improvisação;
- Efeitos sonoros relaxantes;
- Desafios temporários e Modo Desafio empolgantes.
O pior:
- Cidades visualmente despersonalizadas;
- Incompatibilidade entre os controlos de toque e de botões.
Nota do GameForces: 9.0
Título: Mini Motorways
Desenvolvedora: Dinosaur Polo Club
Publicadora: Dinosaur Polo Club
Ano: 2019-2022
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Dinosaur Polo Club.
Autor: Tiago Sá
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