Análise | Trek To Yomi – Os Verdadeiros 50 Tons de Cinzento

Muito possivelmente as gerações mais recentes não passaram por isso, e mesmo eu, nascido nos finais da década de 80 mal passei pela transição da televisão a preto e branco para a cores. Na altura, tínhamos a televisão a cores na sala e uma mais pequena na cozinha a preto e branco. E claro, sendo eu criança, se queria jogar era recambiado para a cozinha. Fato esse que não me desmoralizava, podia estar sossegado e passar tardes a concluir e "reconcluir" o Super Mário na minha Super Nintendo. E se acham que por ser a preto e branco minimizava a experiencia de jogo enganem-se, nunca isso pôs em causa a diversão que passei agarrado à consola.

Passados esta imensidão de anos (pelo menos as vezes assim o sinto), o estúdio Devolver Digital traz-nos Trek To Yomi. Um jogo completamente em tons de cinzento, a homenagear também o cinema tradicional Japonês do reconhecido cineasta Akira Kurosawa, e com uma refrescante mudança do cenário ao habitual do mundo dos videojogos. Mas será o suficiente para se destacar?




Trek To Yomi conta-nos a história de Hiroki, um adolescente aprendiz de Samurai. Uma noite a sua vila é atacada por bandidos e o seu Mestre morre para o proteger. Se conhecem minimamente a cultura japonesa, ou se por ventura jogaram o galardoado Ghost of Tsushima, devem reconhecer toda a ideologia e o orgulho que está por de trás do conceito dos Samurais. Sem querer contar os detalhes deste enredo, podemos adiantar que já em adulto, Hiroki tem agora de mostrar que os ensinamentos do seu mestre, tanto físicos como mentais, foram aperfeiçoados para defender a sua vila... e tudo o que isso implica.

É uma história que nos vais agarrando ao longo do jogo, com várias decisões a ser tomadas pelo jogador, que nos vai aguçando o apetite e onde sentimos o peso das nossas resoluções até ao final.




E se o argumento é suficientemente bom para nos prender, o trabalho audiovisual que foi feito em Trek to Yomi é de tirar o folego. Desde os efeitos atmosféricos como o vento, a chuva e os trovões aos sons dos cenários onde estamos presentes, estão, sem duvida, uma obra prima. Arrepia-nos a espinha, ouvir os gritos de desespero de uma aldeã ao passarmos pela casa dela, ou o ultimo suspiro de alguém a perder a vida.

A jogabilidade de Trek To Yomi é talvez o fator que menos se destaca, mas um elemento que não deixa de estar bem incorporado e interessante. Apesar de todos os momentos de combates serem realizados numa vertente 2D na horizontal, todo o cenário envolvente cria uma dimensão 3D bastante notável. Neste, é possível discernir os próximos inimigos aproximarem-se, numa posição mais longínqua ou perto do ecrã, criando a ilusão de extensão de uma forma muito agradável. Os combates, apesar de simples (focalizando a suas mecânicas de atacar, defender e contra-atacar), exigem um timing correto na sua execução, com o risco de sermos atingidos pelos inimigos. Para isso temos várias combinações que vamos desbloqueando através do desenrolar da história, ou caminhos secundários, enquanto investigamos os cenários. Também podemos usar armas secundárias de longo alcance, como shurikens e arco e flecha, mas admitimos que não tivemos muito uso para elas durante o nosso tempo de jogo.




O resto do gameplay vai-se alterando em planos 3D e 2D horizontais e verticais em cenários diversos. Com vista a promover a exploração, como mencionado existem diversos percursos alternativos, onde não somente desbloqueamos as novas combinações de ataques, como encontramos munições para as armas secundárias e vários colecionáveis. Adicionalmente, nestes caminhos podemos encontrar soluções mais inteligentes para acabar com grupos de inimigos, como destruir uma barragem, ou fazer cair uma árvore contra eles, algo que se traduz num sentimento de satisfação recorrentemente associado à nossa veia exploratória. Os cenários estão bastante completos, com o efeito de luz a deslumbrar-nos e a criar uma imersão ao jogo, quer seja através de trovões, ou o fogo a arder em casas e pedaços de madeira.

Salientamos que Trek To Yomi tem 3 níveis de dificuldade inicial (fácil, médio e difícil) e um quarto nível que desbloqueamos ao concluir um dos 3 primeiros modos. Este novo modo de dificuldade, algo dedicado aos mais puristas dos jogadores, podemos matar tudo (menos os bosses) com um só golpe, mas o mesmo acontece com o nosso personagem.




Para terminar deixamos aqui alguns pontos menos apelativos, como por exemplo os puzzles que aparecem já numa fase adiantada do jogo. São na sua generalidade bastante básicos, parecendo terem sido introduzidos com o intuito de criarem alguma diferenciação durante o jogo (algo escusado na nossa opinião). Também algumas texturas durante as cutscenes poderiam ter sido melhoradas (como o cabelo ou as roupas a esvoaçar).

Não obstante, estes pontos são facilmente esquecidos com tudo o que nos é presenteado durante as 5 horas que demorámos a completar o jogo.



Conclusões

Trek to Yomi é uma experiencia, na nossa humilde opinião, obrigatória para todos os jogadores. Algo surpreendente e com uma roupagem nova do que estamos habituados nesta nova era dos videojogos. O nível visual está algo de belíssimo, e a imersão que a história trás ao jogador é algo que realmente já é pouco visto em jogos desta geração. Esquecemos completamente as cores e mergulhamos nestes tons de cinzento que nos despertam os sentidos, onde tanto a história como a mitologia japonesa estão bem representadas.



O Melhor:

  • Cenários imersivos e visualmente perfeitos;
  • Vertente audiovisual riquíssima;
  • História interessante e bem delineada;

O Pior:

  • A falta de necessidade de uso das armas secundárias;
  • Puzzles simples e desnecessários;
  • Algumas texturas medíocres em algumas cutscenes;




Pontuação do GameForces – 9/10



Título: Trek to Yomi
Desenvolvedora: Flying Wild Dog, Leonard Menchiari
Publicadora: Devolver Digital
Ano: 2022



Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de um código gentilmente cedido pela Cosmocover/Devolver Digital.


Autor da Análise: Filipe Martins





Análise | Trek To Yomi – Os Verdadeiros 50 Tons de Cinzento Análise | Trek To Yomi – Os Verdadeiros 50 Tons de Cinzento Reviewed by Filipe Martins on maio 23, 2022 Rating: 5

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