Análise | The Stanley Parable: Ultra Deluxe – A Arte de Deitar Abaixo a (Quarta) Parede


Olá, caro leitor, seja bem-vindo! Aqui vai encontrar a história de um dos redatores do site dedicado a escrever sobre videojogos chamado GameForces, o Filipe. Ao Filipe, cabe a tarefa de jogar o novíssimo The Stanley Parable: Ultra Deluxe, uma versão expandida do jogo de exploração na primeira pessoa que, em 2013, ombreou com os maiores jogos desse ano por prémios nas mais variadas categorias. Agora, em pleno ano de 2022, um dos jogos que levou o Filipe a formar e disseminar a opinião de que é no mercado dos jogos independentes que se encontram algumas das inovações e opções de design mais criativas de toda a indústria, chega finalmente a todas as consolas. Depois desta experiência, será que o Filipe sente que The Stanley Parable: Ultra Deluxe consegue recapturar a magia que o encantou há quase 10 anos, ou deixará o redator a querer bater com a cabeça nas paredes?


Quando Filipe inicia The Stanley Parable: Ultra Deluxe pela primeira vez, depara-se com um narrador (outro, não o deste artigo) a contar a história de Stanley. Stanley era um trabalhador como outro qualquer, de uma empresa como outra qualquer, e com um aborrecido e desmotivante trabalho. Até que um dia, conta o narrador ao nosso redator, Stanley deixa de receber as suas habituais ordens cerebralmente atrofiantes. Estranhando esta mudança repentina, Stanley toma aquela que era, aos seus olhos apenas, a decisão mais corajosa possível e sai do seu monótono cubículo para ver o que se passava. Cedo, o nosso redator fica a saber que Stanley descobriu que todos os seus colegas também desapareceram.

E é a partir daqui que Filipe leva Stanley a explorar o escritório em busca da verdade, até se deparar com duas portas abertas e ter de levar o protagonista a fazer algo a que não está habituado: uma escolha. O narrador (o do jogo, não este aqui) compele Stanley e, por extensão o redator, a entrar na porta da esquerda. Mas será mesmo por essa porta que Filipe quer levar Stanley a passar? Decisões, decisões. A partir de uma escolha tão simples, Filipe é levado a explorar ramificações de consequências e de desfechos imprevisíveis. Alguns levam a histórias conspiratórias. Outros a narrativas emocionais. Outras ainda resultam apenas em desfechos completamente inesperados e hilariantes de tão pouco sentido que fazem.


“Ah,” pensa Filipe quando finalmente sente ter explorado tudo o que havia para ver em The Stanely Parable: Ultra Deluxe, “que belo exercício de exploração e reflexão sobre escolhas e consequências, e como estas são aplicadas ao design de narrativas e de mecânicas de jogo!” E é mesmo um belo exercício, sim senhor. Mas este exercício apenas se aplica à primeira metade desta experiência, metade essa que corresponde meramente ao que o jogo originalmente lançado em 2013 já incluía. Sim, esta nova edição apresenta tanto novo conteúdo quanto aquele que já estava incluído no jogo base!

E para adocicar este facto, o novo conteúdo explora novas temáticas. O redator responsável pela análise deste jogo fica muito impressionado com o facto de o novo conteúdo ser uma divertida análise reflexiva sobre reedições de jogos antigos, sobre o processo de produção de sequelas e sobre o espremer ao máximo um franchise. E Filipe aprecia como este novo conteúdo, e todos os seus novos desfechos, são apresentados numa estrutura diferente. “Se no jogo base todas as escolhas e finais se espalham como se de raízes de uma árvore se tratasse, este novo conteúdo entrelaça-se como se fosse uma bela teia,” reflete o nosso redator. Pena que não estivesse ninguém na sala para assistir a este (raro) momento de perspicácia.


Mas o que seria de tudo isto se não fosse o narrador? O do jogo, mais uma vez. Bem, o narrador é a maior fonte de diversão desta experiência, considera o redator. “O argumento está muitíssimo bem escrito,” reflete Filipe, “mas sem dúvida o brilhante desempenho de Kevan Brighting faz a excelente escrita sobressair, elevando toda a experiência!” O redator fica deveras impressionado com a entrega de cada linha de narração. Da mais dramática, à mais ridícula, passando pelas desconcertantes quebras da quarta parede que acontecem pelo meio de tudo, é um trabalho verdadeiramente fenomenal!

The Stanley Parable: Ultra Deluxe é um jogo minucioso, tanto no seu conteúdo, como na sua forma. Se todas as aventuras de Filipe enquanto encarnava Stanley já o afirmavam, o nosso redator fica ainda mais convencido com os vários detalhes fora da jogabilidade. Os vários inquéritos de cada vez que Filipe abre o jogo deixam-no algo tenso ao início, mas acabam por se integrar bastante bem com a conclusão do novo conteúdo. E claro que Filipe tinha de ir ver os troféus deste título. Se por um lado, estes fazem-no rir sempre que abre a página do jogo, a verdade é que também o deixam frustrado. “Ter um troféu que me pede para ir lá fora e ficar sem jogar durante 10 anos é super engraçado. Mas significa que nunca terei esta platina,” suspira Filipe, exasperado por se ver impossibilitado de adquirir a sua 167ª tacinha azul-bebé virtual. Um sentimento que certamente muitos outros colecionadores como ele atravessarão com este jogo.


Ah, mas nem tudo são rosas, verifica Filipe. De facto, o nosso redator fica com a sensação de que mais trabalho poderia ter sido colocado na vertente gráfica de The Stanley Parable: Ultra Deluxe. Afinal de contas, trata-se de um jogo com quase 10 anos, e infelizmente para os olhos de Filipe, este facto continua a ser visualmente verificável. “Uma pena não terem aprimorado mais o aspeto do jogo,” pensa o redator ao olhar para uma das imensas texturas surpreendentemente pouco detalhadas, nubladas até. Mas este é mesmo considerado o único grande calcanhar de Aquiles. Segundo o que o nosso redator analisa, tecnicamente o jogo é bastante estável nos 60 fotogramas por segundo, a utilização da música é muitíssimo bem conseguida e, como nunca é demais dizê-lo, o trabalho de voz do narrador (não eu, o do Kevan Brighting) é verdadeiramente estupendo.

E pronto, Filipe pousa o comando e desliga a sua consola, sinal de que está na hora de se sentar à frente do seu computador e escrever a análise de The Stanley Parable: Ultra Deluxe. Mas… como? É que este jogo levou o redator a refletir sobre o próprio processo de análise e de crítica de jogos. Vale a pena? Faz sentido? Sobretudo com um jogo tão autoconsciente, que tão bem quebra a dita quarta parede. Ainda para mais, quando qualquer detalhe ligeiramente mais revelador pode perfeitamente constituir um spoiler gigante da experiência. Oh, que tarefa hercúlea!

Mas Filipe persiste, e força-se a escrever. Escreve a introdução, e um primeiro parágrafo. Não gosta. É simples, é banal, não condiz com o tom do jogo, de todo! É tudo apagado, e o redator está sem ideias. Até que num raro momento de perspicácia (dois no mesmo jogo, lá se vai o plafond do resto do ano!), surge uma ideia! “E se eu escrever o texto da análise como se fosse um narrador, semelhante ao do jogo?” A ideia agrada-lhe, começando então o seu texto dando as boas-vindas aos eventuais leitores.


Conclusões
The Stanley Parable: Ultra Deluxe não só volta a capturar a magia de há quase uma década atrás, como apresenta novos e mais sofisticados truques que nos deixam presos ao ecrã. O conteúdo original denota já alguma idade, mas o novo conteúdo é fresquíssimo e complementa lindamente as desaventuras de Stanley. Se nunca jogaram o original, preparem-se para rir, chorar, assustarem-se e refletirem sobre tudo e sobre todos. Se são fãs deste jogo desde o seu lançamento original, preparem-se para fazer tudo isto novamente. The Stanley Parable: Ultra Deluxe é uma experiência obrigatória para qualquer jogador, e este novo lançamento vem relembrar-nos porque é um indie tão aclamado.

O Melhor:
  • Jogabilidade simples, mas extremamente eficaz;
  • Argumento impecável, capaz de nos fazer rir, sentir pena e empatia, ou deixar tensos;
  • Uma narração que eleva o impacto do argumento e toda a experiência com cada linha lida;
  • Os sistemas de escolha e consequência motivam sempre a experimentação;
  • O novo conteúdo interliga-se brilhantemente com o já existente, mas…
O Pior:
  • … O conteúdo do jogo original apresenta uma estrutura desarticulada;
  • Visualmente, o jogo parece não ter evoluído quase nada desde 2013;
  • Alguns dos troféus vão frustrar os caçadores mais acérrimos.
 
Pontuação do GameForces – 9/10

Título: The Stanley Parable: Ultra Deluxe
Desenvolvedora: Crows Crows Crows
Publicadora: Crows Crows Crows
Ano: 2022

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de um código gentilmente cedido pela Crows Crows Crows.

Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita
Análise | The Stanley Parable: Ultra Deluxe – A Arte de Deitar Abaixo a (Quarta) Parede Análise | The Stanley Parable: Ultra Deluxe – A Arte de Deitar Abaixo a (Quarta) Parede Reviewed by Filipe Castro Mesquita on maio 12, 2022 Rating: 5

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