Análise | Nintendo Switch Sports - Vitória Decisiva Apesar De Alguns Autogolos

  

Na mais recente reunião de investidores da Nintendo do Japão, o presidente da companhia afirmou que o principal público alcançado no ocidente com Nintendo Switch Sports consiste nos consumidores na 3ª década de vida que previamente jogaram Wii Sports e Wii Sports Resort. Ora, essa descrição assenta-me como uma luva: em idade tenra participei no fervor da era Wii, tendo este hardware inovador como a minha primeira consola e Wii Sports+Resort como o meu primeiro jogo. As dezenas de horas que dediquei a este pack sozinho e com amigos inevitavelmente deixaram-me rendido à proposta de um Nintendo Switch Sports, mas tal facto também acarreta um razoável conjunto de expectativas, especialmente com base na quantidade e qualidade dos desportos presentes em Wii Sports Resort.

Por isso, podemos dizer desde logo que esperávamos mais desportos nesta sequência do que acabamos por ter: ténis, bowling e chambara regressam de Wii Sports/Resort, e voleibol, badminton e futebol são introduzidos pela primeira vez na série (sendo que no outono golfe será adicionado numa atualização gratuita). Por agora, temos então 6 desportos, uma seleção menos ampla do que Wii Sports Resort e que ainda menos substancial se afigura porque só existem dois modos alternativos destes desportos, enquanto Wii Sports tinha vários modos de treino e Wii Sports Resort apresentava variações refrescantes das suas modalidades.

Ainda assim, existem algumas novidades que distanciam positivamente o jogo dos seus antecessores na Wii e Wii U: os controlos são os mais precisos e, logo de caras, a apresentação visual foi totalmente renovada e a diferença é gigantesca face aos predecessores. Não só as cores são mais vibrantes e as texturas de melhor qualidade, mas a arquitetura dos locais também abunda detalhes, com trauseuntes, estabelecimentos de alimentação diversos e elementos decorativos como plantas, estantes e redomas de água a tornarem o complexo num local tangível, vivo e apelativo.

Esta remodelação das arenas é explicada no próprio jogo, que enquadra as competições num local inédito: o complexo desportivo Spocco Square. Na prática, este contexto adicional pouco significa: não há nenhuma forma de interação ou navegação no local para além das partidas desportivas em si. Por isso, apesar de Spocco Square ter uma identidade visual própria, não chega aos pés da Wuhu Island de Wii Sports Resort, ilha que se imprimia na nossa mente à medida que experienciávamos modalidades como Cycling, Air Sports e Wakeboarding.

Igualmente pouco marcantes são os novos avatares do jogo, os Sportsmates. Naturalmente a apreciação deles é muito subjetiva, mas pessoalmente considero a sua aparência genérica e a gama de parâmetros modificáveis demasiado reduzida para que possamos criar personagens distintivas ou sequer identificativas do jogador. Felizmente, ainda é possível usar Miis, opção por nós bendita, mas que é claramente preterida pelo jogo.

Isto porque, em primeiro lugar, todos os figurantes e CPUs usam Sportsmates, tornando os clássicos Miis em intrusos exóticos neste complexo. Em segundo lugar, apesar de poderem envergar vestimentas de cor inteiro, os Miis estão impossibilitados de usar acessórios faciais como máscaras e óculos. Mas vendo pelo lado positivo, se planearem jogar apenas localmente, este problema não existirá! ...porque apenas podem desbloquear acessórios através de partidas online.

Já era suspeito que no menu principal a opção “Jogo mundial – Joga online e obtém itens!” aparecesse em primeiro lugar e ocupasse mais espaço do que as de jogo local e jogo online com amigos, e assim esta decisão confirmou que a Nintendo colocou uma ênfase aumentada nesta forma de jogar. É totalmente expectável que a equipa de desenvolvedores se empenhe em disponibilizar uma infraestrutura online ótima no contexto atual. Nós apreciamo-lo mais do que esperávamos, porque jogando online a solo passamos a encontrar calor humano em partidas que, sendo contra CPUs, não provocariam sentimentos de triunfo e competitividade, e também em equipa por desta forma encontrarmos testes reais à nossa sinergia em modos como voleibol e ténis.

O que não entendemos é a forma agressiva como somos empurrados para esta forma de jogar, uma vez que não há qualquer tipo de microtransações e porque as disputas online são, grosso modo, iguais às disputas locais – apenas com a potencialidade de lag, que afortunadamente é infrequente. As únicas diferenças são extrínsecas, reservando-se a um sistema ranked, a Liga Pro, que vai de E a A, e a um sistema de recompensas, através do qual obtemos os acessórios previamente mencionados. A Liga Pro só nos concede uma recompensa (banal) quando alcançamos o rank A em todos os desportos, e em última instância serve para nos emparelhar com jogadores do mesmo nível de habilidade e nos dar o prazer inato de ver a classificação melhorar.

Por seu lado, o sistema de recompensas é tão descabido quanto é desnecessariamente elaborado: por cada partida terminada, recebemos 30 pontos, sendo este valor aumentado consoante a nossa performance (por exemplo, por termos executado cinco strikes em bowling ou termos feito uma série de serviços explosivos no ténis). A cada 100 pontos, recebemos um acessório, que é selecionado aleatoriamente entre os itens que ainda não recebemos de um cartão especial. Podemos escolher a cada jogo qual o cartão especial que será usado para o sorteio dentro de um conjunto de três, sendo que cada um apenas está disponível durante três semanas (sendo substituído por outro cartão no fim desse período) e cada um possui 12 itens.

Não existe nenhum tipo de loja para adquirir os artigos dos cartões especiais expirados e, segundo uma dica dos ecrãs de loading, estes cartões não regressarão durante algum tempo. Ou seja, num jogo que muitos jogadores quererão experienciar de forma ocasional e com amigos, existe um programa de recompensas que nos obriga a jogar muito em pouco tempo contra pessoas aleatórias se queremos evitar arrependimentos. Além disso, nenhum dos parâmetros de gradação de performance se baseia nalguma ação exclusiva das partidas online, pelo que consideramos que é um golpe baixo limitar este sistema às partidas mundiais – especialmente porque, se não possuírem uma subscrição Nintendo Switch Online, entrarão no Jogo Online em "formato de teste", em que paradoxalmente participarão em partidas contra CPUs e poderão receber as recompensas de apenas um dos três cartões.

E ainda nesta questão, embora os acessórios obtidos desta forma possam ser usados offline, apenas o utilizador que os desbloqueou os pode utilizar. Portanto, se um conjunto de pessoas quiser ter acesso a todos os objetos, todas precisam de ter uma Conta Nintendo na Nintendo Switch, uma subscrição Nintendo Switch Online ativa e de participar numa quantidade razoável de partidas online pelo menos numa semana de cada período de 3 semanas.

Mesmo assim, não fiquei desencantado ou exausto com a experiência, porque a jogabilidade realmente encaixou comigo. É a série Wii Sports, afinal de contas! Todos os desportos estão no mínimo bem conseguidos, mantendo-se fiéis à proposta do título inaugural da série de proporcionar diversão infindável a qualquer um, tanto maior quanto mais gente for metida ao barulho.

E nesse sentido não podia faltar ténis (1-4 jogadores), o desporto icónico do jogo original que qualquer um imediatamente compreendia. Esta compreensibilidade universal advém, todavia, de uma simplicidade um pouco danosa. Em Wii Sports, a única variável importante neste desporto é o timing do nosso golpe, com a possibilidade de angular a mão para fazer topspins, backspins lobs que pouco impactam os timings. Em Nintendo Switch Sports, a jogabilidade de ténis mantém-se inalterada, sendo por isso cada partida um teste de resistência, em que essencialmente golpeamos a bola em autopiloto até que um dos lados acumule erros pequenos suficientes para sofrer um ponto.

Por estes motivos, badminton (1-2 jogadores) sai favorecido na comparação. A jogabilidade é mais dinâmica e agilizada e, para além do timing, o sentido dos golpes e os movimentos especiais são importantes para vencermos o adversário. No entanto, é escusado que badminton apenas tenha modo um-contra-um, uma lacuna que poeticamente complementa a falta de um modo dois-contra-dois em ténis.

Já bowling (1-4 jogadores na mesma consola, 2-8 online)tal como ténis, permanece mecanicamente inalterado face à versão Wii U, mas tal não é problema porque não é preciso mudar o que é perfeito. Os lançamentos continuam polidos como nunca, permitindo-nos aplicar efeitos à bola intuitivamente – algo que gostamos de colocar à prova no modo Especial, em que as pistas são invadidas por obstáculos adicionais. O único defeito deste modo extra é ser inexplicavelmente exclusivo de partidas locais!

Na mesma linha positiva, chambara (1-2 jogadores, e na Wii denominado Swordplay Duel) é tão divertido como sempre! Essencialmente, nesta modalidade que salta do património cultural japonês para a nossa sala temos duas missões: atacar o inimigo sem sermos bloqueados, e bloquearmos as investidas do adversário, mantendo a nossa arma perpendicularmente à direção destas investidas, até que um dos participantes caia da arena! Com estas simples regras, para nós chambara não é tanto um desafio de força, mas sim um combate de mentes: cada um a tentar decifrar, prever e ludibriar o modus operandi do outro, desmontando o seu estilo de jogo para alcançar a vitória!  A grande mudança deste modo em relação à sua versão Wii é a nova opção de escolher entre 3 armas, que dá uma pitada de personalização aos combates. Contudo, é de notar que chambara é a única modalidade em que notamos alguma imprecisão ocasional nos controlos por movimento, com potencial para causar derrotas.

Por seu lado, voleibol (1-4 jogadores) é um desporto que, sendo divertido para nós, tem pontos positivos e negativos. É entusiasmante executar ataques, bloqueá-los e recebê-los mas, por causa da velocidade lenta da bola, o período entre o primeiro e o terceiro toques atenua o entusiasmo das partidas. Pelo menos, como o timing dos três toques determina a potência do ataque, nunca nos sentimos desinvestidos na ação.

Por fim, temos futebol (1-2 jogadores na mesma consola, 2-8 online), que é pouco ortodoxo em Nintendo Switch Sports: pela primeira vez na série, é mesmo obrigatório usar os botões! Precisamos dos analógicos e botões para nos movermos, corrermos, controlarmos a câmara e saltarmos, mas é com os controlos de movimento que fazemos o essencial: chutar a bola. Por isso, esta jogabilidade lembra-nos bastante The Legend of Zelda: Skyward Sword: um título com esquema de controlos tradicional que injeta controlos por movimento numa ação específica para permitir um aumento da sua complexidade. Em Skyward Sword, esta era atribuída aos golpes de espada, e em futebol de Nintendo Switch Sports é dada aos chutes, cujo sentido é determinado pela direção do movimento da nossa mão.

Mas para explicar as regras da modalidade é mais fácil pensar neste jogo como uma espécie de Rocket League com humanos. Sim, “Rocket League com humanos” significa “futebol”, mas a questão é que em Rocket League e neste modo de jogo encontramos uma jogabilidade distinta dos habituais simuladores. Cada jogador apenas controla uma personagem durante a partida inteira e move-se livremente, tendo de gerir a sua stamina (que substitui o boost de Rocket League) e calcular apropriadamente o ângulo com que aborda a bola gigante para marcar golos. Com a complexidade e liberdade aumentada, futebol em Nintendo Switch Sports é uma experiência refrescante, cujas lacunas residem numa excessiva lentidão dos jogadores em relação à bola e ao facto de a câmara, ao tentar manter-se focada na bola, ocasionalmente prejudicar os nossos remates e passes.

Para além de bowling, futebol é a única modalidade com um modo extra, e se não nos importávamos de ter mais futebol… não era o modo Duelo o que idealizávamos. A liberdade e complexidade que marcaram o modo principal são aqui descartadas, em favor de uma competição de penaltis em que a única ação que podemos executar é o remate, desta vez usando uma correia para a perna. Consideramos que este modo tem a pior longevidade do conjunto e por si só não justifica a inclusão deste acessório, que por agora apenas é compatível com este modo extra. Sendo otimistas, esperamos apreciá-lo mais quando chegar a prometida atualização gratuita que torna o modo principal de futebol compatível com a correia!

Em conclusão, apreciamos esta sólida seleção de desportos, suficientemente variada e (subjetivamente) mais apelativa do que a do jogo original. No entanto, somos da opinião de que, a incluir apenas 6 desportos, é um pouco redundante incluir tanto ténis como badminton, quando poderíamos ter uma das “vagas” alocadas a um desporto mais distinto, como boxing, e adicionado um modo singles a ténis ou doubles a badminton em jeito de compensação.

Para terminar, não podemos deixar de assinalar dois aspetos. Primeiramente, se quiserem jogar em Modo de Superfície Estável ou numa Nintendo Switch Lite, apenas será permitido um jogador por consola. Se percebemos esta decisão? Sim: o ecrã pequeno das consolas Switch poderia levar a que os jogadores se posicionassem demasiado próximos uns dos outros, e desse modo aumentassem consideravelmente o risco de se agredirem acidentalmente. Mas pessoalmente preferiríamos que o risco de sair de uma partida de ténis com nódoas negras e uns dentes a menos fosse julgado pelo jogador situação a situação e não por uma restrição absoluta. No mínimo, deveria ter sido implementado um Modo Sem Fios como um meio-termo, permitindo que vários jogadores compitam entre si, cada um na sua consola, sem terem de usar o modo online com amigos como intermediário para o mesmo resultado.

Em segundo lugar e a encerrar em beleza, Nintendo Switch Sports assinala um marco especial para o nosso país na geração Switch, porque é o primeiro exclusivo Nintendo completamente original para a consola em português de Portugal! Tendo em conta que se avizinha o lançamento de Mario Strikers: Battle League Football, também em português de Portugal, poderemos estar diante de um renascimento bem-vindo da nossa língua nos jogos da desenvolvedora japonesa.

 

Conclusão

Racionalmente, vários aspetos detraem a qualidade global do conjunto: seria desejável uma quantidade de desportos ao nível de Wii Sports Resort, e decisões como a limitação do jogo com amigos ao Modo TV e uma ênfase desproporcionada no modo online podem entrar em conflito com a experiência intencionada por alguns jogadores. 

Esta apreciação racionalizada e condicionantes estão porém desfasados da realidade humana e imediata de jogar Nintendo Switch Sports: esta sequela marca o regresso bem-sucedido da diversão viciante de Wii Sports, especialmente com amigos, mas surpreendentemente também com estranhos pelo modo online.

 

O melhor

- Diversão para todos;

- Melhoria gráfica significativa;

- Infraestrutura online eficiente;

- Desportos inéditos são excelentes;

- Totalmente em português de Portugal;

- Acessórios para personalizar os Sportsmates…

 

O pior

- …inexplicavelmente bloqueados por trás do modo online…;

- … e inexplicavelmente muitos dos quais são incompatíveis com os Miis;

- Escassez de desportos e modos extra;

- Inexistência de Modo Sem Fios e restrição do Modo de Superfície Estável.


Nota do GameForces: 7.0/10



Título: Nintendo Switch Sports
Desenvolvedora: Nintendo
Publicadora: Nintendo 
Ano: 2022

Autor: Tiago Sá

Nota: Esta análise foi redigida com base na versão física do jogo para a Nintendo Switch, adquirida pelo redator.

Análise | Nintendo Switch Sports - Vitória Decisiva Apesar De Alguns Autogolos Análise | Nintendo Switch Sports - Vitória Decisiva Apesar De Alguns Autogolos Reviewed by Tiago Sá on maio 25, 2022 Rating: 5

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