Lila’s Sky Ark é o novo jogo da desenvolvedora independente Monolith of Minds e a prequela de Resolutiion. Neste título, assumimos o controlo duma rapariga chamada Lila na sua jornada para proteger o seu mundo do Conductor e dos seus aliados.
Ao contrário doutros protagonistas de videojogos, a jovem Lila não é capaz de saltar nem de atacar diretamente os inimigos no seu caminho (pelo menos por algum tempo). Para poder defender-se das ameaças, a Lila precisa de agarrar objetos do mapa e atirá-los na direção dos inimigos – uma jogabilidade que, para nosso agrado, aprendemos a executar autonomamente sem orientações do jogo. Dada a natureza desta metodologia de ataque, a variedade na jogabilidade advém dos tipos de inimigos e de projéteis que encontramos. Porém, os padrões de ataques diferentes dos projéteis raramente mudam o modo como abordamos o inimigo, não havendo por isso um sentimento de diversidade decorrente destes. Além disso, a necessidade recorrente de pausar os nossos ataques aos inimigos para obtermos mais projéteis perturba negativamente o ritmo da jogabilidade.
Fora do combate, a jogabilidade
ainda peca mais, devido à limitada exploração da mecânica central. Tendo em
conta o papel central do transporte e arremesso de objetos em Lila’s Sky Ark,
esperávamos encontrar puzzles ambientais que testassem as nossas capacidades de
raciocínio (ainda que levianamente). Contudo, as regiões que atravessamos são maioritariamente
“palcos” para confrontos com inimigos e, na eventualidade rara de termos de usar
as capacidades de arremesso da protagonista para progredir, o desafio é linear
e óbvio de tal modo que seria um favor chamar-lhe de quebra-cabeças. Existem
algumas mecânicas que poderiam ser consideradas bem conseguidas, não fosse
estarem habitualmente confinadas a regiões demasiado pequenas e serem descartadas
rapidamente sem que o seu potencial seja desenvolvido.
Saltando para um plano mais abrangente,
a progressão na aventura de Lila empresta algumas inspirações ao gênero metroidvania,
pelo que a cada boss que derrotamos obtemos uma nova habilidade que pode
ser usada para aceder a novas áreas (embora normalmente sirva para encontrarmos
uma rota longa que nos conduz ao objetivo principal e alguns atalhos que conectam
as regiões do mundo). Se quisermos descansar um pouco da nossa missão principal,
podemos procurar itens opcionais como cartas da Lila pela ilha ou realizar um
conjunto de missões opcionais, sendo estas últimas atividades prezadas por nós
por serem mais crípticas do que as da aventura, colocando à prova o nosso
conhecimento da ilha (embora, por vezes, alguma componente da missão seja
demasiado vaga).
Algo que não ajudou na nossa
imersão foi a ambiguidade da história. Não nos interpretem erradamente:
apreciamos a ambiguidade em jogos como Hollow Knight. Porém, alguns fatores distanciam
Lila’s Sky Ark deste exemplo positivo: primeiramente, Hollow Knight tinha uma
jogabilidade viciante, ao par que as mecânicas de Lila’s Sky Ark não são tão
arrebatadoras e, por isso, uma história mais clara poderia funcionar como um
incentivo ao nosso investimento no jogo. Por outro, a história deste indie não
é nem de perto nem de longe interessante como a doutros metroidvania, revelando-se
genérica e desinteressante ao ponto de nos desinvestir na mesma, o que gera um
ciclo vicioso em que nós ficamos progressivamente menos atentos às (vagas) informações
de enredo que nos são apresentadas e consequentemente menos interessados na história
como um todo.
Os diálogos com as personagens não
compensam a fraqueza da narrativa: as conversas com os indivíduos deste mundo
revelam-se inconsequentes, não tendo nada de cativante ou estimulante para
dizer. Normalmente, estas apenas desborcam falas genéricas e plenas de clichés
ou tentam dizer algo humorístico, alcançando apenas sucesso parcial neste objetivo.
Tudo isto é uma pena, porque gostávamos que Lila’s Sky Ark nos desse mais razões para permanecermos e regressarmos ao seu mundo. Isto porque, visualmente, os locais são aconchegantes e cativantes, sendo apresentados em vibrante arte pixelizada cujas cores saltam aos nossos olhos. As próprias personagens que encontramos pertencem a diversas espécies intrigantes, que vão desde um computador inteligente e um espantalho a glândulas pineais, e gostaríamos que fosse tão recompensante falar com elas como olhar para elas. Do mesmo modo, a música é calma e encaixa perfeitamente nos ambientes belos que atravessamos, exceto naturalmente nos combates contra bosses, em que é adotado um estilo mais frenético que engrandece estes momentos.
Conclusão:
Nada em Lila’s Sky Ark é ofensivo ou frustrante ao jogador.
Todavia, comparavelmente nada é marcante ou exemplar. A nossa aventura pelo belo
mundo de Lila deixa-nos regularmente a pensar no potencial que este jogo teria
se o estúdio tivesse desenvolvido mais profundamente os seus desafios
e mecânicas e se o seu argumento fosse mais apelativo. Como tal, este jogo acaba
por ser uma inofensiva forma de gastar algumas horas, sem nada que a distinga
significativamente doutros jogos de desenvolvedores independentes.
O melhor:
- Apresentação e banda sonora sublimes;
- Boas missões opcionais;
- Mecânicas ótimas e intuitivas…
O pior:
- … com pouco ou nenhum desenvolvimento;
- História e diálogos desinteressantes;
- Mochila conduz a uma postura demasiado laxa.
Nota do
GameForces: 5.5
Título: Lila's Sky Ark
Desenvolvedora: Monolith of Minds
Publicadora: Graffiti Games
Ano: 2022
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Steam, através de um código gentilmente cedido pela Graffiti Games.
Autor: Tiago Sá
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