A inspiração em obras anteriores é uma das grandes forças motrizes da industria em geral e particularmente impactante no ramo dos vídeo jogos. Desde que não caiam no crime de plágio, não há mal nenhum nisso, pois na verdade nem todos os títulos conseguem ou objectivam evocar novas experiências! Edge of Eternity é um jogo criado por fãs e para fãs de JRPGs da era da PlayStation 1 e 2. Admitindo fortes influências a diversos níveis da sua constituição, procura satisfazer as necessidades e interesses dos fãs de Final Fantasy, Xenoblade ou mesmo Christal Chronicles. Como tal, se são fãs destas series, certamente terão aqui uma experiencia cativante para vos entreter durante mais de quatro dezenas de horas!
O história segue as aventuras de Daryon e Selene, na sua demanda em descobrir a cura para uma doença denominada Corruption, que afecta todo o planeta e foi disseminada por uma raça de extra terrestres. Esta chegou ao mundo de Heryon e após um aparente período de paz e cooperação pacifica, mudam bruscamente os seus métodos e decidem ocupar o nosso planeta pela via da força, procurando eliminar toda a humanidade. Portanto, o enredo em si não é nada de revolucionário, nem tão pouco diferenciador. Por meio de algumas reviravoltas religiosas e politicas, acabamos por estar presentes uma história que tende a diluir-se na memória a outras tantas idênticas.
Não obstante, o jogo consegue implementar um enredo interessante e algumas mecânicas que conseguem captar o interesse do jogador ao longo da sua jornada. Queremos com isto afirmar que não é propriamente uma aventura que nos mantenha completamente absorvidos com aquilo que nos apresenta. Existem diversos problemas com a forma como é apresentada… mas no global é capaz de transmitir uma experiencia agradável.
As personagens apresentam uma modelação bastante simples, algo semelhantes ao que experimentaríamos num remaster de um título da PlayStation 2. Reconhecidamente, não existem elementos que perdurem conosco durante muito tempo depois de completada a nossa jornada, mas cremos ser certo afirmar que as duas personagens principais serão o elemento mais caracterizador de toda experiencia. A sua prestação vocal, ainda que “clingy” em certas ocasiões, baseia-se bastante na picardia típica entre irmãos e a sua dinâmica revela-se bastante interessante ao longo de todo o jogo.
Ainda referenciado o enredo, um dos grandes problemas é o desequilíbrio do ritmo de apresentação da história. O título apresenta um começo da aventura verdadeiramente empolgante e que nos deixa com uma vontade imensa em saber mais. Contudo, com o decorrer das primeiras horas de jogo, tende a perder-se em actividades supérfluas, traduzindo-se num abrandamento brusco do ritmo da história e importância dos eventos iniciais. Eventualmente apercebemo-nos que demora imenso a voltar a regressar aos elementos mais cativantes do enredo e que verdadeiramente interessam ao jogador.
Efectivamente o mundo criado pela Midgar Studios (podem advinhar de onde vem a influencia deste jogo?) é verdadeiramente belo. Os cenários apresentam uma optima profundidade e estão bem aprestados. Estamos perante um típico esquema de Área Aberta → Corredor → Área Aberta. Até aqui tudo bem, pois imensos outros jogos já seguem este tradicional esquema, criado com o objectivo de fragmentar o carregamento de informação entre áreas. A nossa questão é que, Edge of Eternity parece, à falta de melhor termo, vazio de conteúdos relevantes. Para além das batalhas com os inimigos que passeiam pelo ecrã, podemos fazer algumas side quests que tendem a revelar-se demasiado idênticas entre si (captura x itens, derrota Y inimigos, etc.)... e poucos mais.
Este marasmo criativo continua com as mecânicas de evolução de personagem, onde estamos bloqueados a evoluir armas, cristais e personagem. Efectivamente é um esquema de evolução já bastante divulgado e o jogo até consegue introduzir algumas nuances interessantes como a evolução independente dos três elementos (armas usadas, cristais que usamos nas armas e dos equipamentos das personagens). Contudo, mais uma vez aqui ficamos demasiado presos a um ciclo: Adquirir arma nova → Maximizar os seus níveis → Reforçar com cristais → Procurar materiais para nova arma. Efectivamente, para os fãs do género, esta é uma dinâmica que os fará ficar presos durante horas, mas até para estes (onde confessamente nos incluímos), ao final de vinte ou mais horas de jogo… começa a saturar. No fundo é importante que jogos desta dimensão consigam ir introduzindo novos elementos ao longo da sua duração prevista, com vista a revitalizar o interesse do jogador e manter a jogabilidade fresca. Algo que não foi observado durante esta experiência.
Ainda relativamente à jogabilidade, estamos perante um dos melhores aspectos do jogo, misturando batalhas por turnos com suaves elementos de RPGs Tacticos. O sistema de batalha é efectivamente um dos elementos que nos deixou mais capturados e com vontade de voltar a este título.
Durante as batalhas poderemos movimentar pelo mapa numa grelha hexagonal, onde diferentes personagens terão diferentes papeis (e consequentemente, diferente ataques e funções). Por exemplo, Daryon é um claro atacante físico, onde os nossos ataques necessitam que estejamos no hexágono adjacente ao nosso alvo. Já Selene, a maga do grupo, consegue efectuar ataques à distância, ainda que tenha de se aproximar se quisermos utilizar feitiços de cura. Espalhados pelos cenários existem ainda elementos interactivos como balistas, torres de defesa, ravinas, etc. que nos podem ajudar durante a batalha, providenciando uma diversificação saudável das técnicas possíveis a recorrer com vista a vencer a batalha.
O jogo em si, faz um óptimo trabalho nas lutas contra bosses e eventos particulares da história, onde temos elementos diferenciadores no cenário e batalha, que teremos de ter em consideração para conseguir vencer.
É durante estas mesmas batalhas onde podemos melhor confirmar a prestação gráfica. O título conta com os dois usuais modos gráficos e enquanto no modo performance tudo corre bem, no de fidelidade já não é bem assim. Efectivamente neste modo existe uma clara queda da taxa de fotogramas em diversas ocasiões do jogo. Principalmente notório durante as batalhas e até em navegação no mundo aberto, existem momentos onde se verifica uma clara queda abaixo dos 30fps. O título não é propriamente um portento gráfico, pelo que somente podemos assumir haver alguma falta de optimização gráfica, principalmente equacionando ser um título desenvolvido com a PlayStation 5 em mente.
Ainda durante as batalhas, notamos que por vezes torna-se difícil visualizar o inimigo devido à palete de cores usada e a camara automática não ajuda a ter a melhor percepção de tudo o que está a decorrer no campo. Como tal, quase que ignoramos essa opção, optando pela vista estratégica. Esta conta com uma camara mais afastada e controla livremente por nós. Este modo de visão torna recorrente a necessidade de estar constantemente a ajustar manualmente a camara, e controlar os ataques das nossas personagens...simultaneamente. Efectivamente deveria haver uma forma de controlar ou configurar a camara automática, com vista a melhorar a experiencia global durante as batalhas.
No que se refere à banda sonora esta não é particularmente memorável. Certamente ajuda a manter o ritmo, mas denota-se alguma desassociação com a experiencia em si, levando a que não venha a perdurar na memória dos jogadores. Como mencionado previamente, também a vocalização das personagens careceria de algum melhoramento, denotando uma dicotomia no que se refere ao empenho de um ou outro actor. Queremos com isto afirmar que algumas personagens estão óptimas e com uma excelente entrega, enquanto outras parecem demasiado mecanizadas no seu discurso.
Outro problema notado durante a nossa sessão de jogo, encontra-se relacionado com o nível de dificuldade. Existem claramente picos de dificuldade que não encaixam com o natural crescimento do nosso grupo. Mesmo para quem vá realizando todas as actividades extra, tenha os equipamentos mais recentes e nunca fuja de combates, foram diversas as ocasiões que necessitamos de deixar para mais tarde algumas das batalhas do jogo. Notamos que esta situação ocorre frequentemente quando a nossa equipa fica desfalcada pela saída (temporária ou não) de um ou outro elemento. Mas mesmo com uma equipa completa, alguns problemas tenderão a surgir em diversas partes do jogo.
Conclusões
Edge of Eternity é um excelente título para qualquer fã de um bom e clássico JRPG. Apresentado uma clara influência de jogos da década de 90 e inícios de 2000, é uma clara carta de amor a este género cada vez mais relegado para experiências mais alternativas.
A reduzida dimensão do estúdio é notória, sendo clara a sua ambição em apresentar uma experiência de larga escala. Contudo, este também é um dos problemas, visto que por vezes o título beneficiaria mais de soluções mais simples. É claramente um jogo com algumas arestas por limar e com um pacing bastante problemático, mas se conseguirem aceitar estas limitações, certamente terão uma experiencia bastante agradável.
Pontuação do GameForces – 7/10
Título: Edge of Eternity
Desenvolvedora: Midgar Studio
Publicadora: Dear Villagers
Ano: 2022
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de um código gentilmente cedido pela Dear Villagers.
Edge of Eternity [PS5] - Ambição num JRPG da Velha Guarda
Reviewed by Carlos Silva
on
fevereiro 21, 2022
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