Foi no longínquo ano
de 2007 que a sempre popular série principal de jogos Pokémon se estreou
na Nintendo DS - sim, já lá vão 14 anos, não pensemos muito nisso. Na altura, o
dispositivo portátil introduziu na série algumas funcionalidades importantes,
com destaque para a possibilidade de jogar online pela primeira vez. Agora, e
após muitos avanços no que diz respeito ao design moderno de videojogos, Brilliant
Diamond e Shining Peral tentam voltar a encantar os fãs de Pokémon.
Mas será este um resplandecente regresso a Sinnoh, ou terá todo o brilhantismo
ficado preso no passado?
Em Pokémon
Brilliant Diamond e Shining Pearl assumimos o papel de um(a) jovem
treinador(a). Quando o nosso melhor (e extremamente impaciente) amigo nos desafia
a ir visitar um lago associado a lendas locais, rapidamente nos encontramos com
o nosso primeiro parceiro Pokémon. De seguida, somos confrontados pelo Professor Rowan,
levando imediatamente uma boa reprimenda. Mas ao ver o quão ligados estamos ao
nosso pequeno monstro, somos recrutados por Rowan para viajar por toda a região
de Sinnoh e completar o PokéDex, de modo a ajudá-lo a estudar os mecanismos
de evolução de Pokémon. E assim, voltamos a mergulhar numa aventura onde o
nosso derradeiro objetivo é tornarmo-nos o melhor treinador(a) desta região,
enquanto os apanhamos todos.
Sim, sim, esta é
uma premissa já bastante familiar para qualquer fã de Pokémon, sobretudo
para quem já acompanha esta série há mais de 20 anos. De facto, neste título
voltamos a encontrar o mesmo sistema de batalha por turnos onde podemos
carregar connosco 6 monstros, com 4 ataques cada, tendo cada monstro forças e
fraquezas consoante a sua tipologia. Os nossos Pokémon voltam a ter as mesmas
estatísticas de ataques e defesas normais ou especiais, bem como de HP e de
velocidade, que vão aumentando consoante uma grande variedade de fatores
(alguns evidentes, outros nem tanto) sempre que se sobe de nível. Há ainda a
ter em conta a possibilidade de segurar itens ou as habilidades que podem
afetar o rumo de uma batalha, bem como uma miríade de itens úteis que nos ajudam a expandir, fortalecer ou dar saúde aos nossos monstros. De resto, temos 8 ginásios para conquistar, uma
liga para vencer, uma organização criminosa cujos planos temos de estragar e
várias centenas de Pokémon para encontrar e apanhar.
Sem dúvida que
esta fórmula é algo repetitiva, mas continua a funcionar bastante bem e a
proporcionar muitos momentos de prazer e diversão, mesmo passados estes anos
todos. Mas ainda assim, há que colocar-se então a questão: em que é que estes
jogos se distinguem de tantos outros? Primeiro, temos de destacar o subterrâneo
que atravessa toda a região. Depois de obter o kit de exploração, podemos
mergulhar nos labirintos do subterrâneo de Sinnoh e participar em algumas
atividades secundárias, como escavações para encontrar itens raros, como
fósseis, ou criar e decorar bases secretas. Isto pode ser feito tanto offline,
como online, partilhando com outros jogadores, sejam eles amigos ou
desconhecidos, as várias atividades presentes nesta vertente dos jogos.
Com isto,
chegamos também à primeira grande diferença destes remakes. Em Brilliant
Diamond e Shining Pearl, o subterrâneo passa a englobar novas
atividades que destacam toda esta vertente da experiência. Agora, podemos aqui
encontrar vários esconderijos que contêm ecossistemas próprios. Nestes, vemos
vários Pokémon vagueiam pelo esconderijo, podendo ser combatidos e apanhados. O
melhor é que estes monstros podem ser raros ou até impossíveis de encontrar na
superfície na altura do jogo em que nos encontramos. Adicionalmente, é-nos
possível influenciar que tipos encontramos com mais frequência consoante as
estátuas que utilizamos para decorar a nossa base secreta.
Ou seja, ir
explorando o subterrâneo ocasionalmente à medida que vamos avançando na nossa
aventura é ainda mais enriquecedor em Brilliant Diamond e Shining
Pearl. Para além do minijogo de escavação presente nos jogos originais,
somos recompensados por explorar as várias grutas e cavernas que servem de
esconderijos. Sempre que derrotamos um novo ginásio, mais Pokémon vão surgindo
nestes, permitindo-nos construir equipas mais variadas do que seria possível se
avançássemos na história sem estes desvios. Depois, há ainda o minijogo de
encontrar Diglett, que ao ser completado aumenta exponencialmente a
possibilidade de nos cruzarmos com “shinies,” o que é sempre memorável.
Não há dúvidas de
que as melhorias implementadas no subterrâneo de Brilliant Diamond e Shining
Pearl representam a diferença positiva mais significativa destes remakes.
Mas não são as únicas, com este par de jogos a melhorar a experiência geral em
vários outros aspetos. Várias das melhorias na qualidade de vida dos títulos
mais recentes encontram-se agora neste renascer da quarta geração de Pokémon: os HMs não ocupam ataques dos nossos monstros, apresentando-se aqui ligados
ao Pokétch; um indicador de objetivos, com marcadores no mapa da região; movimentação
omnidirecional fora de batalhas; e claro, uma direção artística distinta.
Contudo, teremos de olhar para cada um destes aspetos com mais cuidado, porque
apesar de os apontarmos como melhorias, nem todas o são universalmente.
Indo por ordem, a
presença dos HMs no Pokétch é sem dúvida um benefício face aos originais, sendo
esta, ainda por cima, a geração com mais habilidades utilizáveis fora das
batalhas de toda a série. O único senão que temos é com a implementação do
próprio Pokétch. Na Nintendo DS, este relógio multifunções encontrava-se sempre
aberto no ecrã inferior da consola portátil, podendo interagir com o mesmo sem
ter necessariamente que interromper a fluidez da nossa aventura. O mesmo não
acontece aqui, com o Pokétch a surgir num canto superior do ecrã ao clicarmos
em “R”, e a ser necessário outro clique para o trazermos para a frente do ecrã
para o utilizarmos. Se para os HMs isto não é grande constrangimento – uma vez
que podem ser usados interagindo com os objetos no mundo -, há outras
funcionalidades onde este processo se torna uma chatice, sobretudo com o
detetor de itens ocultos.
Depois, temos a
melhoria mais bem implementada destes remakes – falamos dos indicadores de
objetivos. Os jogos da série principal de Pokémon costumam ser bastante
lineares, e em Diamond e Pearl os produtores tentaram ir contra
esta corrente. Infelizmente, o resultado tornou o caminho a seguir algo
confuso, com os jogadores a terem de andar constantemente para trás e para a
frente no mapa, cruzando-se com áreas nas quais são impedidos de entrar ou
ginásios cujos líderes simplesmente nos mandam para trás. Ora, o mapa e a ordem
pela qual temos de ir concretizando as nossas tarefas continuam os mesmos, pelo
que estes indicadores de objetivos são uma adição muito bem-vinda que nos
poupam muito vaguear desnecessário ao longo da campanha já bastante longa
(cerca de 25 horas até aos créditos, e 30 se incluirmos o pós-jogo).
De seguida, temos
de olhar para a nova implementação mais problemática, que assume a forma da movimentação
possível fora de batalhas. Em Pokémon Brilliant Diamond e Shining
Pearl, podemos andar por Sinnoh em várias direções, pese embora o mundo
continue a ser apresentado visto de cima – portanto, ambientes em 3D
representados em 2D. Mas esta movimentação omnidirecional está bastante mal
conseguida, e é bastante frustrante nestes remakes, sobretudo porque Sinnoh se
apresenta aqui reconstruída exatamente como nos jogos originais, sem tirar nem
pôr. Ou seja, os corredores geralmente apertados desenhados com movimentação
bidirecional em mente mantêm-se aqui intactos, levando-nos a estar
constantemente a chocar contra paredes ou árvores presentes no ambiente e a
sermos travados de imediato. Andar a pé com analógico já é suficientemente frustrante
nestes jogos, e andar de bicicleta está no limiar do impraticável, o que nos levou a utilizar este meio de transporte exclusivamente quando um obstáculo ambiental o exigia.
E chegamos ao
elefante na sala – a nova direção artística de Brilliant Diamond e Shining
Pearl. Mantendo a representação do mundo idêntica, a maneira que os
produtores arranjaram de revitalizar visualmente esta experiência foi com a
implementação de uma direção artística estilo chibi. Fora de batalha,
todas as personagens aparecem representadas como tendo cabeças
desproporcionalmente grandes, e feições exageradas. Na grande maioria do tempo,
esta escolha não representa qualquer problema, dando até a esta experiência um
aspeto distinto. Mas em vários momentos da narrativa temos zooms e grandes
movimentos da câmara para focar a atenção num acontecimento ou personagem
específica – e aqui sim, há um problema.
A maioria destas
movimentações de câmara evidenciam animações faciais algo robóticas e, pior que
tudo, retiram qualquer sensação de ameaça que o grupo criminoso destes jogos
pudesse transmitir. A Team Galactic e o seu líder Cyrus são alguns dos melhores
elementos de toda esta geração, sendo a melhor organização criminosa de toda a
série, a par da Team Rocket e Giovanni. Mas ver as feições exageradas e
demasiado cartoonescas destas personagens retira muita da aura perigosa que
normalmente conseguiriam transmitir.
Por outro lado, a
vertente visual dentro das batalhas contrabalança estes problemas sublimemente.
A representação dos treinadores que enfrentamos apresenta-se muito mais vivaz, os
Pokémon apresentam-se mais detalhados do que em qualquer outro jogo até esta
data, e mesmo os ambientes de fundo das arenas de combate são os mais ricos em detalhe até agora. Isto para não falar
das animações dos ataques, que se apresentam mais coloridas, explosivas e
impactantes do que nos jogos da mais recente geração de Pokémon. Temos que
assinalar, contudo, que há aqui alguma disparidade entre jogar em modo portátil
ou no modo de televisão. Neste último, conseguimos ver os contornos dos Pokémon
um pouco pixelizados, uma pequena gralha que dá a impressão de uma otimização
mais virada para o jogo portátil.
Não obstante
todas estas mudanças, Pokémon Brilliant Diamond e Shining Pearl
continuam a ser remakes extremamente fiéis aos originais, para o melhor
e para o pior. Sim, isto significa que muitos dos problemas estruturais se
mantêm na mesma. A fraquíssima diversidade de Pokémon selvagens para encontrar
permanece (ainda que menos acentuada devido à expansão do subterrâneo), com
ênfase no baixíssimo número de Pokémon elétricos e de fogo passíveis de serem
apanhados durante a narrativa principal. Pior é o facto de muitos dos Pokémon
originalmente introduzidos nesta quarta geração apenas ficarem disponíveis no
pós-jogo – e nesta lista incluem-se as interessantes evoluções de monstros de
gerações passadas, como Magmortar, Magnezone ou Rhyperior. E por falar em pós-jogo,
este continua a ser extremamente desinteressante, com a já típica “Battle Tower”,
e mais uma zona ou duas novas, mas sem grande história associada. Depois do
fantástico epílogo do anterior par de remakes, não podemos deixar de
ficar desiludidos com este facto.
De um
ponto de vista técnico há muito pouco a apontar a estes jogos. Não encontrámos
um único bug gráfico, o jogo correu sempre consistentemente a 30 fotogramas por
segundo, de forma bastante estável e sem qualquer quebra, e entrar em edifícios ou atravessar para uma nova zona nunca resultava em tempos de
carregamento muito longos. Quando se inicia o jogo sim, há sempre várias
dezenas de segundos de espera – talvez mesmo um minuto -, mas nada de muito
danoso. Depois, o jogo apresenta uma banda sonora também remasterizada e que
volta a ser um dos pontos altos num jogo Pokémon. Cada música adequa-se
lindamente aos seus ambientes ou às situações – sobretudo as batalhas com Cyrus
ou com a implacável campeã da região -, enaltecendo os vários momentos da
jogabilidade. Mas falando de som, temos que referir um bug que fez com que os gritos de alguns Pokémon não fossem reproduzidos. Isto aconteceu apenas duas vezes ao
longo das 35 horas que passámos neste mundo, mas foi memoravelmente bizarro ver
um Pokémon rugir sem se ouvir qualquer som, sobretudo porque este tipo de
problemas não é nada costume para a série.
Depois de alguns
dos trabalhos de remakes que temos visto nos últimos anos, incluindo dentro
da própria série de Pokémon, não podemos deixar de olhar para Brilliant
Diamond e Shining Pearl com alguma desilusão. No geral é um pequeno
passo atrás, sobretudo na falta de controlo que dá ao jogador sobre a câmara,
sobretudo porque sabemos que estes ambientes foram claramente desenhados em 3D, e na ausência de
Pokémon a navegarem visivelmente pelo mundo. Há vários outros pequenos detalhes
que poderíamos apontar, mas preferimos clarificar que estes não são maus jogos
de todo, e valem a pena para qualquer fã de Pokémon. Mas com vários
avanços de qualidade que temos visto nestes e noutros jogos, e sobretudo depois
dos fantásticos Alpha Sapphire e Omega Ruby, esperávamos algo
mais.
Conclusões
Pokémon Brilliant Diamond e Shining Pearl fazem o mínimo dos mínimos para
justificar o seu lançamento atual. Sem dúvida que acrescentam algumas novidades
e elementos de qualidade de vida em falta nos originais, mas algumas destas
apresentam-se mal implementadas e muitos dos problemas dos jogos base
permanecem intocados. Sem dúvida que é um bom jogo e mais uma boa aventura
neste sempre fascinante universo, mas esperávamos mais do remake de uma
das mais populares gerações de Pokémon.
O Melhor:
- A clássica
fórmula de Pokémon que continua a ser bastante apelativa e divertida
- A expansão do
mundo subterrâneo é o grande fator diferenciador pela positiva
- Algumas melhorias
da qualidade de vida tornam a progressão menos confusa
- Os modelos e
animações em batalha são os melhores da série até agora, mas…
O Pior:
- … A nova direção
artística fora de batalha é um claro passo atrás em muitos aspetos
- A grande maioria
dos problemas de design dos originais continua presente
- Algumas das novas
características estão mal implementadas
Pontuação do GameForces – 7/10
Título: Pokémon Brilliant Diamond & Shining Pearl
Desenvolvedora: ILCA
Publicadora: Nintendo
Ano: 2021
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do
jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Nintendo
Portugal.
Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita
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