É esta jogabilidade tresloucada
que agora chega à Switch, naquele que é o segundo título WarioWare para
consolas de mesa. Quase todos os elementos que esperamos da série estão presentes,
desde a estrutura por níveis do modo história (cada um dedicado a uma
personagem diferente) ao redesign das personagens nascido em WarioWare Gold. Só
um pequeno pormenor ficou a faltar: a cinemática no final de cada nível, que
dava um encerramento à situação levantada na abertura. Esta omissão está
provavelmente associada à maior ênfase dada à história principal, em que Wario
e companhia navegam pelo mundo do jogo que criaram para erradicar os bugs que
o invadiram.
Apesar do respeito de Get it Together! para com os predecessores, o jogo não está apenas a repisar terreno antigo, porque uma radical mudança foi introduzida! Nos jogos anteriores, a jogabilidade sempre variou de microjogo para microjogo, com o jogador a controlar todo o tipo de entidades tais como pessoas, a Lua, espadas ou pinças, ou a selecionar opções em menus, etc.., usando botões, controlos por movimento e por toque. Contudo, em Get it Together!, o diversificado roster de personagens de WarioWare, que apenas servia para dar (vago) contexto aos níveis dos jogos anteriores, agora intervém diferentemente nos microjogos como personagens jogáveis.
Cada personagem tem um estilo de
movimentação diferente: Wario, por exemplo, pode voar livremente pelo mapa com
o seu jetpack e acelerar para empurrar ou atacar obstáculos; por seu lado, o
ninja Cricket move-se como num jogo de plataformas tradicional, podendo
caminhar pelo ecrã e saltar para interagir com os microjogos. São bastante diversos os
arquétipos de movimento que as personagens ostentam e todos revelam-se bastante
intuitivos, tornando-os óbvio depois de cinco segundos com o comando na mão
mesmo para aqueles que não jogaram o tutorial.
Globalmente, a superioridade de
algumas personagens é praticamente inquestionável, pelo que a certo ponto
acabamos por levar sempre as mesmas para os desafios (apesar das tentativas do
jogo para nos tirar da zona de conforto). Se, em alguns casos, a inferioridade dos
restantes participantes se deve às restrições inerentes ao seu movimento, em
outros deve-se a ambiguidade da interação destas com os microjogos. É admirável
como os desenvolvedores conseguiram que, em mais de 200 microjogos, todas as
personagens sejam viáveis, ainda que em alguns casos raros a estratégia para o nosso
sucesso é demasiado críptica.
Apesar da nuance oferecida por
esta variedade, eu temia que esta mudança condicionasse a originalidade os
microjogos, devido à limitação dos seus métodos de controlo, mas a Nintendo foi
capaz de transitar os vários estilos de jogabilidade na perfeição. As
adaptações que a Nintendo realizou nos mais de 200 microjogos não só
preservaram a bizarrice, qualidade e variedade que define WarioWare, como
também adicionaram uma nova camada de dificuldade que alimenta o caos das
partidas. À necessidade de prontamente reconhecer o nosso objetivo e o
requisito para o mesmo, agora precisamos de perceber como é que a nossa
personagem atual intervém. A única perda é uma questão do ponto de
vista (literalmente): as nossas personagens apenas se movem num plano 2D, pelo
que todos os microjogos são apresentados da mesma perspetiva.
De qualquer modo, esta perda é
insignificante diante da grande novidade que esta mudança possibilitou: pela primeira
vez na série, dois jogadores poderão unir forças para vencer os conjuntos de
microjogos do modo história. Se o jogo já é deliciosamente caótico com um
jogador, deixando-nos sempre com vontade de jogar “só mais uma partida”, para
alcançarmos melhores highscores, então com dois jogadores… Ter de, em
escassos segundos, atuar em sincronia é uma receita fantástica para viciantes e
barulhentas partidas, aumentando o replay value e conduzindo ao pináculo
da diversão da série.
Mas a diversão com amigos não
acaba aqui! Quando acabarem a história podem jogar dez modos extra no Variety
Pack, com suporte para até quatro jogadores. Alguns modos, como Gotta Bounce (em
que tentamos manter uma bola de futebol no ar) e High Five (voleibol com eventos
surpresa) são para jogar uma vez e nunca mais voltar, mas a maior parte dos
restantes distingue-se por um excelente uso das personagens jogáveis (como um minijogo
de luta, por exemplo) e por dar uma reviravolta na jogabilidade normal dos
microjogos. Puck’er Up, por exemplo, é insano no quão frenético pode ser: cada
ronda começa com uma secção de hóquei de ar. O último jogador a tocar no disco
antes da sua entrada na meta jogará um microjogo para ganhar pontos, mas os adversários fazem de tudo para impedi-lo, abanando o ecrã de jogo ou mesmo esmagando-o e rachando-o!
É desfrutando ao máximo daquilo que Get it Together! tem para oferecer que realmente tiramos valor desta experiência. Tal como nos seus predecessores, o modo história dura menos de três horas; logo, é lutando por highscores, tentando concluir todas as Missions (conquistas), desbloqueando todas as cores alternativas das personagens e artes conceptuais, e jogando umas rondas com amigos, que multiplicamos o tempo despendido neste bizarro título.
Mesmo terminados estes objetivos, ainda há um incentivo para voltar todas as semanas. Wario Cup é um modo inédito que, todas as semanas, nos introduz um conjunto diferente de minijogos com uma condição especial. O resultado que alcançamos pode ser carregado para a rede, conferindo ao modo uma vertente competitiva, e no final da semana são-nos galardoadas recompensas consoante a nossa posição no ranking mundial.
Todos os modos deste jogo são jogados unicamente com botões, o que para nós é um desperdício de potencial. A Switch e os Joy-Con são periféricos com funcionalidades como giroscópio, ecrã de toque e câmara IR, e a série WarioWare sempre explorou ao máximo as potencialidades das consolas da Nintendo. É compreensível que os desenvolvedores tenham optado por simplificar os controlos para assegurar perfeita compatibilidade entre os modos de jogo da Nintendo Switch e da Nintendo Switch Lite; porém, o giroscópio é ubíquo a estas formas de jogar, e as restantes funcionalidades poderiam ter sido relegadas a um conjunto de microjogos específico ou a modos extra do Variety Pack.
Conclusão
Sempre que Wario e companhia saltam para uma nova consola, sabemos que podemos contar com diversão sem igual em centenas de microjogos, e Get it Together! não só cumpre as expectativas como traz novidades inesperadas e bem-vindas à série. O caos e excentricidade regressam em força, e agora podemos partilhar esta experiência com amigos em tempo real, em mais de 200 microjogos tão singulares e hilariantes como poderíamos imaginar.
Por isso, WarioWare: Get it Together! é uma fantástica experiência na Switch, que eleva a jogabilidade base da série e só peca por não aproveitar as potencialidades da consola em que reside.
O melhor:
- Implementação de personagens e de multijogador;
- Mais de 200 microjogos;
- Tradução perfeita dos microjogos para a nova jogabilidade;
- A bizarrice, caos e qualidade que esperamos de WarioWare;
- Imenso valor de rejogabilidade;
- Wario Cup é um ótimo incentivo para dominar os microjogos.
O pior:
- (Rara) ambiguidade em algumas combinações personagem/microjogo;
- Nenhum uso de touch ou gyro.
Nota do GameForces: 9.0/10
Título: WarioWare: Get it Together!
Desenvolvedora: Nintendo, INTELLIGENT SYSTEMS
Publicadora: Nintendo
Ano: 2021
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Nintendo Portugal.
Autor: Tiago Sá
Sem comentários: