[Análise] Pokémon Sword – The Crown Tundra [NSW]


Não tem sido uma geração fácil para o maior franchise do mundo. Pokémon Sword/Shield foi amplamente criticado aquando do seu lançamento, sobretudo pela ausência de centenas de monstros. Com o lançamento de duas expansões, a Game Freak começou a corrigir isto, tendo The Isle of Armor acrescentado também algo de diferente e prazeroso ao jogo base. Agora, The Crown Tundra tentará dar mais qualidade à oitava geração de Pokémon, e deixar os fãs satisfeitos e a antecipar futuros jogos. Mas merece esta expansão usar uma coroa, ou estamos perante um bobo da corte?
 

Em The Crown Tundra, recebemos um passe que lhe permite viajar para uma nova área de Galar. Ao chegar, deparamo-nos com Peony, um pai com grandiosos planos para umas férias repletas de aventuras lendárias com a sua filha. Mas esta tem planos próprios, e de forma bem-humorada utiliza-nos como engodo para se escapar. Como resultado, Peony aceita levar-nos para a sua aventura, na qual exploraremos toda a área e nos cruzaremos com vários Pokémon lendários, tanto novos como regressados de jogos anteriores.
 
O leitor não estará enganado se sentir uma espécie de déjà vu; afinal de contas o início do DLC anterior é bastante semelhante. No entanto, e sem entrar em grandes spoilers, Peony vai desempenhando um papel muito mais relevante nesta nova aventura. Para além disso, e devido a um argumento muito bem conseguido e frequentemente engraçado, Peony acaba por se destacar como uma das melhores personagens de toda a oitava geração, dando uma personalidade e uma vivacidade muito próprias a esta expansão.
 
Depois deste primeiro encontro atribulado, somos guiados às Dynamax Adventures, um novo minijogo que pega no conceito de Max Raids e expande-o. Neste, temos de alugar um Pokémon e juntar-nos a outros 3 treinadores (NPCs ou jogadores online) para enfrentar uma série de batalhas contra monstros nas suas formas Dynamax. No total, enfrentam-se 4 Pokémon, com o último a ser sempre um lendário de gerações passadas. Pelo caminho, vamos perdendo vidas cada vez que um Pokémon da nossa equipa de treinadores é derrotado, e à quarta vida perdida a nossa aventura neste minijogo termina. Quando saímos vitoriosos, escolhemos ficar com um dos Pokémon derrotados e capturados pelo caminho. Este minijogo introduz alguns elementos estratégicos, tanto pelo Pokémon que se escolhe (que pode ser substituído quando capturamos outro durante esta aventura), como pelo facto de podermos planear o melhor caminho até ao lendário no fim, sendo uma adição divertida e louvável.
 

Depois de uma aventura neste minijogo, chegamos a uma pequena vila e entramos no sumo da expansão. Peony explica-nos que tinha planeado explorar esta região de Galar com a sua filha em busca de Pokémon lendários, desafiando-nos a cumprir 3 missões, cada qual com um longo e divertido título. A seguir a este desafio lançado, somos completamente livres de ir ao encontro de cada missão como e quando bem entendermos. Esta é possivelmente a abordagem mais refrescante de toda a série Pokémon. Desde os primórdios da primeira geração que os jogos se apresentavam sempre bastante lineares: conquista um ginásio, avança para o próximo, e pelo meio vai resolvendo uma eventual crise que surja. Agora, neste DLC, temos uma abordagem mais próxima de RPGs modernos, onde temos uma lista de missões para cumprir que podemos gerir ao nosso ritmo. Isto dá a The Crown Tundra uma sensação de progresso completamente distinta do resto da série, e é algo muito positivo que gostaríamos de ver mais em jogos futuros, mesmo que se cinja à implementação de histórias secundárias.
 
As missões em si são relativamente simples. Uma diz respeito a Calyrex, um novo lendário deste DLC, que se encontra enfraquecido e procura a nossa ajuda para se restabelecer e poder voltar a ajudar os humanos da região. Para tal, vamos ter de ir cumprindo pequenas atividades e interagindo com o mundo e a sua população, de modo a recolher itens relevantes e desbloquear acontecimentos importantes para o desenvolvimento da pequena, mas sempre divertida e bem-humorada narrativa. Não se trata de algo propriamente revolucionário na indústria dos videojogos em geral, mas é uma lufada de ar fresco num franchise repleto de hábitos no que toca à sua estrutura e design de jogo.
 
Já as restantes missões recuperam mecânicas utilizadas em gerações passadas. Há uma que se prende com as versões de Galar dos pássaros lendários Articuno, Zapdos e Moltres, que se espalham por cada uma das três Wild Areas (a do jogo base, a do primeiro DLC e a desta expansão). Assim, temos de viajar para cada uma delas e procurar pelos monstros voadores, fazendo lembrar o funcionamento da caça às bestas lendárias de Pokémon Gold, Silver e Crystal. Na outra missão, teremos de investigar várias ruínas em busca dos colossais Regirock, Regice e Registeel, tendo de resolver puzzles extremamente simples de ter um Pokémon ou um item específico connosco para aceder aos seus locais de descanso. No fim, teremos de nos deslocar a uma quarta ruína e optar entre um de dois novos Pokémon: Regileki ou Regidrago. De referir que tanto estes novos Pokémon como as novas versões dos pássaros lendários são extremamente apelativos no seu design, outro aspeto a louvar nesta experiência.
 

Terminadas as três missões, Peony dá por concluída a nossa demanda e, grato pelo nosso esforço, parte em busca de novas aventuras com a sua filha. Mas as coisas não acabam por aqui, e recebemos uma missão extra que nos reencaminha para as Dynamax Adventures e nos motiva a investir mais tempo neste minijogo em busca de novos monstros e bestas. E após isto, recebemos ainda mais para fazer! Leon, o antigo campeão de Galar, contacta-nos e pede para nos reunirmos com ele e várias personalidades desta oitava geração, prometendo ter uma ideia entusiasmante. Trata-se do Star Tournament, um torneio a pares onde escolhemos um NPC para ser nosso parceiro e participamos nas batalhas mais desafiantes de toda esta geração contra pares de rivais e líderes de ginásios. Com a nossa vitória, chegamos finalmente ao fim das nossas aventuras não só deste DLC mas de toda a oitava geração. Todo este “pós-jogo” de The Crown Tundra foi uma agradável surpresa e confere a toda a experiência de Pokémon Sword/Shield uma conclusão fortíssima, talvez mesmo a melhor de todo o franchise.
 
Até agora, tudo o que tem sido descrito sobre The Crown Tundra é genial, mas falta perceber se a nova área para explorar ajuda ou prejudica o prazer geral desta expansão. Tal como com o primeiro DLC, toda a nova área se apresenta como uma ampla Wild Area, mesmo a pequena vila que encontramos. Apenas algumas ruínas e locais mais relevantes para a narrativa é que regressam à câmara fixa habitual desta série, e reafirmamos que é assim que gostaríamos que futuros jogos Pokémon. No entanto, há que referir que esta nova área não é tão interessante ou tão variada como as Wild Areas do jogo base e da primeira expansão. Para começar, a maioria do terreno encontra-se na neve e apresenta um aspeto visual monótono. Podemos encontrar outras biosferas, mas sentimos que não estão tão bem interligadas como as de The Isle of Armor. O trabalho nesta vertente da experiência é competente o suficiente para não prejudicar o prazer por demais, mas estamos claramente perante a Wild Area mais fraca de toda a geração, e talvez o ponto mais fraco de toda esta expansão.
 

Olhando para a vertente mais técnica, não há nada de novo a apontar com a chegada de The Crown Tundra e da sua atualização. A direção artística da nova área e dos novos Pokémon ou formas de Galar são coerentes com o que temos visto, sendo tudo geralmente bastante apelativo apesar de graficamente não ser nada de particularmente potente. Há que destacar, no entanto, algumas animações de cutscenes narrativas que contribuíram para o tom divertido e bem-humorado da experiência. No que toca ao desempenho, o jogo continua a correr bastante bem em modo offline, mas quando exploramos o mundo ligados à internet voltamos a sentir o jogo a soluçar bastante.
 
A vertente sonora volta a ter de ser destacada nesta expansão. Algumas das novas trilhas sonoras apresentam um nível de qualidade incontestável, e mesmo a “remasterização” de músicas anteriores é extremamente bem conseguida – a música nas batalhas contra os Regi é o maior exemplo disto, sendo simultaneamente coerente do a direção musical desta geração e bastante nostálgica. No entanto, é uma pena constatar que a música para as Dynamax Adventures e do Star Tournament não se distinguem, respetivamente, das Max Raids e da Champion Cup do jogo base. A qualidade destas trilhas sonoras não está de todo em causa, mas teria sido agradável o jogo apresentar novas músicas para distinguir um pouco mais estas novidades da expansão, tornando-as ainda mais únicas e especiais.
 

Antes de concluir a análise, gostaria de refletir um pouco sobre toda esta oitava geração. Quando Pokémon Sword/Shield foram anunciados para a Nintendo Switch, o entusiasmo de toda a comunidade e de todos os fãs era palpável, ao ponto de, pessoalmente, ser um dos grandes motivos para querer adquirir a consola. Mas quando foi anunciado que uma grande parte do elenco de monstros não iria estar presente, muitas opiniões foram mudadas, e muitos detalhes começaram a ser desenterrados e impiedosamente criticados. Mesmo o anúncio de expansões, em vez de uma entrada “definitiva”, acabou por ser mal recebido, com uma dose dos fãs de Pokémon a decidir que a Game Freak nos estava a cobrar para ter um PokéDex mais completo.
 
Pokémon Sword/Shield não são jogos perfeitos, e há muitos aspetos dos jogos e decisões que os produtores tomaram que se pode perfeita e justificadamente criticar. Mas são bons jogos, e um claro passo em frente para a série. Já as expansões, ajudam este franchise a dar mais dois passos em frente, apresentando algumas ideias que esperamos sinceramente serem implementadas de forma alargada em futuras gerações. Tanto as Wild Areas, com um controlo total da câmara, como uma estrutura de missões que permite a Pokémon aproximar-se de RPGs modernos são exemplos perfeitos de experiências levadas a cabo nestes DLCs que queremos ver mais na inevitável nona geração de PokémonE este modelo de expansões em si parece-nos ser mais apelativo, contendo bastantes mais virtudes do que defeitos – destacando-se o preço mais acessível e a possibilidade de facilmente continuarmos com a equipa de monstros à qual nos afeiçoamos e na qual investimos durante várias dezenas de horas. 

Pokémon Sword/Shield são bons jogos, e aliados às expansões The Isle of Armor e The Crown Tundra tornam-se jogos bastante melhores. Depois de mais de 20 anos, todos queremos ver os jogos Pokémon a evoluir e a melhorar. Apesar dos erros cometidos com esta geração, a totalidade da experiência deixa-nos esperançosos e para o que vem a seguir, talvez como não sentíamos desde a nossa infância com os primeiros jogos deste franchise.
 

Conclusão
Tal como aconteceu com a primeira, esta derradeira expansão acrescenta algo de novo e de refrescante à experiência base de Pokémon Sword. Não resolve os problemas do jogo base, sobretudo no que às questões técnicas diz respeito, mas o novo minijogo aproveita bem as mecânicas Dynamax e a estrutura de missões permite um ritmo bastante distinto do habitual. Com tudo o que de controverso que esta geração trouxe, The Crown Tundra deixa-nos com água na boca e esperançosos para o que aí vem no fenomenal universo dos videojogos Pokémon.
 
O Melhor:
  • Sistema de missões é algo de refrescante e que queremos ver mais em jogos futuros
  • Argumento bem conseguido e bastante bem-humorado
  • Novos Pokémon e novas formas são extremamente apelativos
O Pior:
  • Nova área não é tão variada ou apelativa como a do DLC anterior

Pontuação do GameForces – 8.5/10
 
 
Título: Pokémon Sword – The Crown Tundra
Desenvolvedora: Game Freak
Publicadora: Nintendo
Ano: 2020
 
Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita
[Análise] Pokémon Sword – The Crown Tundra [NSW] [Análise] Pokémon Sword – The Crown Tundra [NSW] Reviewed by Filipe Castro Mesquita on novembro 09, 2020 Rating: 5

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