Não faz bem à ansiedade ser fã de
Pikmin. Os jogos nunca voam das lojas, mas também nunca ficam a acumular pó;
como tal, é difícil prever o futuro da série. Só Deus sabe se veremos um novo título, ou se a Nintendo enfiará na gaveta esta série de estratégia em
tempo real sem igual.
O lançamento de um novo Pikmin
faz-se sempre seguir de uma longa e angustiante espera. Após o lançamento de
Pikmin 2, tivemos de esperar 9 anos para assistirmos ao lançamento do terceiro
jogo. Durante este longo período, Miyamoto foi a única luz na penumbra,
afirmando ao longo dos anos que “sim, um novo Pikmin estava em
desenvolvimento”. Depois do lançamento de Pikmin 3, o mesmo aconteceu, com o
lendário desenvolvedor a confirmar em 2015 que “Pikmin 4 estava quase
terminado” e reiterando dois anos depois que o jogo ainda estava em
desenvolvimento.
Mas o que nos chegou às mãos não
foi o tão prometido Pikmin 4, e sim uma versão melhorada de Pikmin 3, lançada 7
anos depois da sua estreia na Wii U. Esta subversão das expectativas pode não
ser fácil de engolir para quem aguardava um novo jogo, mas é difícil censurar a
Nintendo: de uma forma económica, pode ao mesmo tempo avaliar o interesse em
Pikmin, dar uma nova chance a Pikmin 3 de brilhar e atrair novos jogadores curiosos por conhecer esta encantadora série de
estratégia.
A estes potenciais interessados,
peço que não se deixem intimidar pelo grande 3 no nome do jogo. Não é necessário
terem jogado qualquer um dos títulos anteriores para compreenderem a
jogabilidade e história desta aventura. Isto é evidente na troca de Olimar e
Louie, os protagonistas de Pikmin e Pikmin 2, pelas personagens inéditas Alph, Brittany e Charlie.
Estes intrépidos exploradores foram enviados para o planeta PNF-404 à procura de
alimentos para resolver a escassez de recursos de Koppai, o seu
planeta natal.
Para infortúnio da equipa, algo
falha na aproximação a PNF-404 e os três tripulantes são ejetados para
localizações diferentes. Como se não bastasse, quase todas as suas provisões
são destruídas e a cosmic-drive key, indispensável para o regresso dos exploradores a Koppai, parece ter desaparecido sem rasto.
Com estas atribulações, uma
missão difícil acabou de se tornar ainda mais exigente. E
mesmo que a aterragem tivesse decorrido como planeado, duvido que estes aventureiros
tivessem grande sucesso nesta empreitada por si mesmos. Eles não conseguem
fazer frente à vida selvagem de PNF-404, subir as mais pequenas elevações ou
mesmo carregar a fruta que tinham vindo buscar. Para grande sorte dos capitães,
este planeta é habitado por Pikmin, pequenas criaturas que respondem aos apitos dos
protagonistas e que demonstram devota obediência.
Estes espécimes vão ser,
portanto, o centro da nossa experiência. Os exploradores podem usar o seu apito
para chamar os Pikmin no mapa, e estes seguirão o líder até serem atirados. Consoante
a entidade para a qual são atirados, eles sabem logo a tarefa a desempenhar, seja
transportar objetos, destruir barreiras ou combater inimigos. Mas se queremos
que os Pikmin deem o seu melhor por nós, também temos de providenciar por eles,
encontrando néctar para os fortalecer e transportando pellets e inimigos
derrotados para a base para multiplicar os diligentes trabalhadores.
Existem várias variantes de
Pikmin, cada uma com diferentes características: por exemplo, os Red Pikmin são
imunes ao fogo e ótimos lutadores. Por seu lado, os Rock Pikmin não conseguem
agarrar-se aos inimigos, mas são capazes de destruir paredes de vidro e
infligem bastante dano quando atirados. À medida que a história avança, vamos
desbloqueando novos tipos de Pikmin, que aumentam a quantidade de inimigos e
locais que somos capazes de abordar, e dando assim nova vida às regiões já
exploradas.
É nesta dinâmica que, pouco a pouco, desbravamos as várias regiões de PNF-404, à procura de fruta e da cosmic-drive key. Cada uma destas transmite uma sensação de serenidade, com as suas aconchegantes paisagens, sons ténues e plácida vida selvagem. No entanto, este véu de convidativa tranquilidade esconde esmagadoras ameaças à nossa sobrevivência: o mundo está recheado de barreiras que limitam o nosso progresso, a fauna do planeta exibe as suas impiedosas garras quando nos aproximamos, e a escassez de provisões impele-nos a acelerar o passo. O charme de Pikmin reside nesta luta pela sobrevivência numa natureza com uma indiferente hostilidade, que exige de nós a capacidade de explorar o mapa com eficácia e planear adequadamente as nossas ações – ainda por cima porque o nosso tempo de jogo está bem contado.
De facto, a jogabilidade está
dividida em dias, que duram até 18 minutos reais dependendo da dificuldade
escolhida. De cada vez que o sol se põe, temos de reunir todos os Pikmin do
mapa para que não sejam devorados pelos predadores, abandonar a superfície do
planeta e engolir uma das nossas provisões. Se as nossas reservas se esgotarem,
somos forçados a voltar atrás e repetir a história a partir de um dia anterior
à nossa escolha. Este condicionante dinâmico do nosso avanço é quase o perfeito
meio termo entre o stressante limite de Pikmin 1 e a despreocupada
ausência de restrição temporal de Pikmin 2. Digo que este limite é “quase”
perfeito porque Pikmin 3 é demasiado generoso com provisões. Jogando na dificuldade
Hard, pouco demorou até ter a despensa a abarrotar e a necessidade de ser
eficaz se desvanecesse. Esta enorme complacência, associada à curta duração da
aventura, deixou-me com um sabor de incompletude ao terminar uma história que de resto é sublimemente polida.
Graças ao modo Ultra Spicy, pude saciar a minha
apetência por dificuldade: esta opção mais
árdua encurta a duração real dos dias, diminui as provisões que obtemos a partir da
fruta e diminui o limite de Pikmin no terreno para 60. São mudanças pequenas, mas são o
suficiente para imprimir uma maior urgência à aventura. Para os fãs de longa
data de Pikmin ou para quem estiver à procura de desafio, esta é uma ótima
forma de jogar Pikmin 3 (que podem desbloquear terminando a história ou a demo).
Para quem está a descobrir PNF-404 pela primeira vez, recomendo começarem em Hard,
que é na verdade a única dificuldade na versão Wii U,
e apenas trocarem para Normal ou usarem as Hints se sentirem a necessidade.
Mas Pikmin
3 Deluxe não se resume à sua história: neste relançamento, está incluída uma
tonelada de conteúdo extra que pode triplicar o tempo de jogo. A porção mais
significativa deste é o Mission Mode, um conjunto de 30 missões que coloca à
prova as nossas capacidades de planeamento e multitasking. No final de
cada desafio, somos galardoados com uma medalha de acordo com o nosso
desempenho, e devo dizer que foi aqui que me diverti mais em Pikmin 3 Deluxe: é
incomensuravelmente recompensante planear a nossa rota e levar ao extremo o multitasking
para conseguir as medalhas de platina.
Em
comparação, as side-stories, que são a maior novidade de Pikmin 3 Deluxe,
ficam aquém das expectativas. Eu esperava encontrar aqui uma mini-aventura com
a sua própria região e novos inimigos, mas na realidade estamos perante dois
conjuntos de níveis, Olimar’s Assignment e Olimar’s Comeback, nos quais temos
de cumprir objetivos específicos – ou seja, na prática esta é uma expansão do Mission
Mode. Porém, em comparação com as missões, estas side-stories são bastante mais
acessíveis: sem qualquer esforço, eu terminei a maior parte dos níveis das
side-stories com a medalha de platina e cerca de três minutos restantes no
temporizador na primeira tentativa. Esta acessibilidade é compreensível em
Olimar’s Assignment, que é desbloqueado numa fase mais inicial; no entanto,
estava à espera de um maior nível de desafio na segunda side-story, que fica
disponível após terminarmos a história principal.
Para piorar, as side-stories não introduzem praticamente nenhum
objeto, mecânica ou inimigo que já não estivesse presente nos modos
originais. Mesmo assim,
eu considero-as uma boa adição ao pacote. Eu não consigo deixar de julgar estas
missões por aquilo que elas poderiam ter sido, mas concedo-lhes mérito: apesar de nunca sermos surpreendidos com novos elementos, estas side-stories justificam a sua existência através dos inteligentes posicionamentos de barreiras e inimigos e dos interessantes cenários que colocam na mesa. Por exemplo, numa missão os protagonistas são separados, e noutro nível temos de atravessar Twilight River após o seu rio ter secado!
A outra grande novidade de Pikmin 3 Deluxe é co-op no modo história. Graças à componente de multitasking da fórmula de Pikmin, esta adição assenta como uma luva no jogo - o único indício de que Pikmin 3 não foi pensado com ela em mente é as ocasionais quedas de framerate. As minhas sessões em multijogador foram marcadas pela constância de comunicação entre os participantes com o objetivo de otimizar ao máximo as tarefas, e só tenho pena de não ter podido jogar toda a aventura neste modo. Caso queiram levar a ação multijogador para fora do modo história, têm à vossa disposição Bingo Battle. Este modo competitivo coloca dois jogadores frente-a-frente num conjunto de mapas únicos, e garantirá várias horas de diversão caso tenham um amigo que partilhe o entusiasmo pela jogabilidade de Pikmin.
Agora a questão inevitável: estamos perante uma boa remasterização, e valerá a pena a compra para quem já tiver jogado o original na Wii U comprar o jogo? É notável o empenho empreendido para enriquecer a experiência, tanto através das novas histórias secundárias e interessantes entradas da Piklopedia como de melhorias de qualidade de vida (algumas dos quais descrevo em maior detalhe no artigo de primeiras impressões), que elevam este port tanto em relação à versão original como aos outros títulos de Wii U que deram o salto para a Switch.
No geral, as decisões tomadas nesta conversão foram
positivas, mas infelizmente uma área crucial não recebeu a atenção devida: os
controlos do ponteiro. No modo TV e Tabletop, o uso dos Joy-Con separados ou
Pro Controller já cumpre a sua tarefa; no entanto, não podemos dizer o mesmo
relativamente ao modo portátil. Nunca me senti verdadeiramente confortável a controlar o jogo em modo portátil, e embora o meu incómodo tivesse diminuído à medida que jogava, nunca deixei de ponderar qual o motivo para a remoção dos controlos por
toque, que funcionavam perfeitamente na Wii U e resolveriam este problema. Obviamente, o novo sistema de lock-on existe para colmatar os controlos piorados; porém, é uma solução demasiado benevolente, que diminui o papel da mira na experiência e trivializa certos combates.
Para quem jogou o original, não haverá grande incentivo para comprar esta versão, pelo menos do ponto de vista do novo conteúdo. As novidades desta versão assentam nas side-stories, co-op, insígnias (um inédito sistema de recompensas) e na Piklopedia, que, mesmo aumentando o replay value e o valor da experiência, não são muito mais do que agradáveis bónus. As DLCs de Pikmin 3 também foram incorporadas em Pikmin 3 Deluxe, mas estas podem ser adquiridas na eShop da Wii U por um total de 8,97 euros. Por isso, o valor do double-dip assenta na importância que o jogador atribui à portabilidade e aos novos extras.
Conclusão:
Se Pikmin 3 já era uma deliciosa e enternecedora aventura na Wii U, o jogo ainda melhor ficou com a passagem para a híbrida da Nintendo. Foi um prazer revisitar esta jornada requintada e relaxante, especialmente com os vários ajustes que foram aplicados para melhorar a experiência de jogo e para a tornar mais gratificante para novatos e veteranos. Juntando à campanha uma densa camada de conteúdo paralelo, Pikmin 3 Deluxe é uma excelente e valiosa adição ao catálogo da Switch e é provavelmente o título mais merecedor do subtítulo "Deluxe" desde Mario Kart 8 Deluxe.
O melhor
- Aventura de excelência, agora com inúmeras melhorias de qualidade de vida e co-op;
- Enorme quantidade de side content;
- Replay value aumentado, graças às insígnias e novas opções de dificuldade;
- Interessantes e criativas side-stories...
O pior
- ... mas menos ambiciosas e desafiantes do que o esperado;
- Controlos do ponteiro menos precisos do que na versão Wii U;
- Ausência de controlos por toque;
- Sistema de lock-on demasiado útil;
- Inexistência de um verdadeiro incentivo para quem já terminou o original.
Nota do GameForces: 8.5
Desenvolvedora: Nintendo
Publicadora: Nintendo
Ano: 2013-2020
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