Esta sensação de entusiasmo é
potenciada não só pela excelente criatividade e variedade de habilidades dos
inimigos, mas também pelo nosso leque de capacidades. No início, apenas temos
ao nosso dispor uma espada, mas à medida que vamos progredindo ganhamos algumas
habilidades especiais, como virar um inimigo contra os outros ou disparar ondas
de energia devastadoras. Vamos ainda desbloqueando módulos equipáveis que
melhoram alguns aspetos destas habilidades ou das nossas capacidades básicas
(por exemplo, refletir balas contra o inimigo que a disparou). Há aqui muita variedade,
e com a filosofia de design que assenta na tentativa e erro, vamos tendo a oportunidade de experimentar diferentes combinações até perceber quais os módulos ou as habilidades mais eficazes para cada
situação.
Quanto aos inimigos, vamos sendo
colocados perante um elenco deles com diferentes habilidades à medida que vamos
avançando nos níveis. Desde a utilização de pistolas, metralhadoras, espadas,
ondas de energia ou combate corpo a corpo, a variedade é bastante boa. Mais do
que isso, a mistura de inimigos de vários géneros contribui para uma maior sensação
de variedade e de desafio. Cada inimigo é derrotado com um golpe, mas nós
também caímos com a mesma facilidade. Assim, cada encontro pode ser encarado
como um puzzle, onde temos de, através de várias tentativas de diferentes combinações de habilidades e de movimentos, descobrir
qual o melhor percurso, quais os momentos de ataque ou de salto, ou qual a ordem
pela qual temos de despachar os opositores. A grande exceção foram alguns dos
encontros com bosses, onde a ação era sempre demasiado lenta e previsível
reduzindo bastante o nível de desafio, particularmente no confronto final
com a principal vilã da história.
Desvendar estes "puzzles" é bastante
prazeroso e gratificante; executar as ações que desvendamos como as corretas é
que por vezes já não o é. Que o leitor não me interprete mal: a jogabilidade é
muito boa e cada vitória é, como referi antes, entusiasmante… quando tudo
funciona bem. Infelizmente, foram várias as ocasiões onde senti que tinha executado a minha manobra bem, mas vi-me a escorregar
por uma parede abaixo quando queria nela correr. Foram também várias as vezes onde me tentei impulsionar numa
determinada direção e não saí do sítio, ou fiquei preso em objetos que não devia.
Isto prejudicou bastante alguns dos encontros com inimigos, bem como algumas
das secções de plataformas. Sobretudo nas secções passadas no ciberespaço,
senti que muitos destes problemas foram exacerbados, levando a muitos momentos
de frustração e à sensação de alguns designs bastante mal conseguidos.
Também fiquei com a impressão de que
a inteligência artificial dos inimigos sofre de alguma inconsistência. Como
referi, é bastante boa a sensação de desvendar um puzzle, mas como se pode ser
derrotado tão facilmente, é natural não chegarmos logo à vitória quando percebemos
o que fazer. Um salto errado, uma pequena hesitação ou um ataque mal
temporizado levam a inúmeras mortes. Isto faz parte do processo e do desafio no
jogo, denotando uma opção de design louvável. Agora, muitos destes encontros
podem tornar-se frustrantes quando inimigos nos detetam ou disparam de forma
algo inconsistente. Foram vários os encontros onde fiquei com a sincera
impressão que desempenhos exatamente iguais levaram a desfechos completamente
diferentes, porque um inimigo me detetou mais cedo do que na tentativa anterior
ou porque um inimigo quebrou o ritmo de ataque ao qual me tinha habituado e me atingiu
quando não seria de esperar. Cada encontro exige de nós uma elevada precisão, e
não é de estranhar que se sinta alguma injustiça quando o jogo parece não
exigir o mesmo de si mesmo.
De referir que Ghostrunner
recebeu uma atualização a meio da minha viagem pelo jogo, atualização essa que
não tocou minimamente nos aspetos negativos descritos nos parágrafos
anteriores. Não tocou também no que foi o maior problema com que me deparei. Há
um nível no qual temos de reativar um sistema de ventilação para impedir a vilã
da história de envenenar e asfixiar uma parte da população. A
dada altura fazemo-lo com sucesso, e algumas das ventoinhas ativadas acabam por
nos ajudar a navegar até ao final do nível. Nas várias vezes que atravessei
este nível, antes e depois da atualização, foi bastante comum deparar-me com
várias ventoinhas por ligar, prejudicando o meu progresso. A muito custo, consegui
ultrapassar esta adversidade ao “esticar” os limites da mecânica de parkour, trepando
e correndo em estruturas que não era suposto. O pior, é que das 5 vezes que voltei
ao nível para verificar a consistência destes problemas, eram sempre ventoinhas
diferentes que não se ativavam, com uma das mais imprescindíveis a aparecer
ligada apenas uma vez.
Para reiterar, estes problemas, bugs
e pequenos detalhes por afinar podem gerar muita frustração e prejudicar algo
significativamente algumas partes da experiência. Mas no geral continua a ser
bastante entusiasmante atravessar cada nível, correr ou saltar de um lado para
o outro enquanto se despacha hordas de inimigos. Tanto que fiz questão de regressar
a todos os níveis para encontrar todos os colecionáveis ou simplesmente para
melhorar os meus tempos e números de mortes. Os colecionáveis dão-nos a
conhecer um pouco sobre o presente e o passado deste mundo e das suas
personagens, e vários tipos de espadas que podemos selecionar para personalizar
um pouco a nossa experiência. Mas é nas leaderboards que os maiores fãs
do jogo encontrarão a motivação para voltar a jogar tudo, servindo também de
incentivo a experimentação de diferentes táticas até chegar a tempos melhorados.
Olhando agora para vertentes mais técnicas,
há que destacar o aspeto de Ghostrunner, que apresenta tanto ambientes
como personagens de forma bastante nítida e apelativa. Com a temática cyberpunk,
o jogo é visualmente muito coerente, ao ponto de ser difícil de afirmar que
cada nível tem uma identidade visual muito própria. No entanto, é nos detalhes
que esta vertente visual brilha, com a destruição de alguns elementos
ambientais ou a colocação de alguns graffitis a contarem muita da história de
sobrevivência da humanidade neste mundo.
Quanto ao design sonoro, há que
apontar o trabalho competente aqui apresentado. A música eletrónica acompanha
bem a ação, e volta a ser outro elemento de coerência com a temática cyberpunk
do jogo. No entanto, a banda sonora não é particularmente memorável, sendo
difícil ouvir uma das trilhas e apontar com segurança para o nível ao qual
pertence. Também os efeitos sonoros e os desempenhos dos atores de voz são suficientemente
competentes; não sendo os mais espetaculares que podemos ouvir, ajudam-nos a
estar mais investidos nos acontecimentos.
Já o desempenho de Ghostrunner
tem algo que se lhe diga. A maioria do tempo o jogo corre perfeitamente bem e
com estabilidade, sendo sobretudo de destacar a velocidade com que conseguimos
voltar ao jogo depois de uma morte. No entanto, e para além dos vários bugs e problemas
já referidos, foram alguns os momentos onde se percebe que o jogo correu
notavelmente abaixo dos 30 fps, e ainda várias as vezes em que o jogo
simplesmente foi abaixo (uma das quais segundos depois de ligar a consola e abrir
o jogo). Também o menu de seleção de níveis se comporta frequentemente de
maneira estranha, ficando o indicador preso num nível enquanto tentava fazer
descer a lista. De notar que a grande maioria destes problemas foram
verificados mesmo depois da já referida atualização, pelo que parece que ainda
há muito trabalho a fazer para colocar este jogo no estado que os seus
produtores certamente queriam.
Conclusões
Quando funciona tudo bem, Ghostrunner é dos jogos mais entusiasmantes do ano. É brutalmente desafiante, tem um ritmo bastante acelerado e a jogabilidade é estilosa e gratificante. Mas secções com designs frustrantes, a inconsistência na inteligência artificial, bem como vários bugs impedem este título de atingir patamares de excelência. Há muito para adorar em Ghostrunner, e com um pouco mais de trabalho pode vir a ser algo realmente especial.
Quando funciona tudo bem, Ghostrunner é dos jogos mais entusiasmantes do ano. É brutalmente desafiante, tem um ritmo bastante acelerado e a jogabilidade é estilosa e gratificante. Mas secções com designs frustrantes, a inconsistência na inteligência artificial, bem como vários bugs impedem este título de atingir patamares de excelência. Há muito para adorar em Ghostrunner, e com um pouco mais de trabalho pode vir a ser algo realmente especial.
- Jogabilidade a um ritmo acelerado e geralmente bastante entusiasmante
- Dificuldade exigente onde cada sucesso é gratificante
- Design de ambientes e de inimigos é bastante interessante
- Visualmente apelativo, interessante e coerente com a temática
- Vários bugs e problemas frustrantes que perturbam ocasionalmente a jogabilidade
- Inteligência artificial inconsistente choca com a precisão exigida nos encontros de combate
- Encontros com boss bastante desinspirados
Pontuação do GameForces – 7/10
Desenvolvedora: One More Level
Publicadora: All In! Games
Ano: 2020
[Análise] Ghostrunner [PS4]
Reviewed by Filipe Castro Mesquita
on
novembro 19, 2020
Rating:
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