35 anos – não é uma proeza fácil. É de se tirar o chapéu à Nintendo a capacidade de não só manter a série Mario viva ao longo de tanto tempo, mas também de segurar o seu renome ao longo deste período. Durante 35 anos, os jogos Mario sofreram vastas reinvenções, que mais do que manter a série relevante, foram capazes de permanecer na vanguarda dos platformers e nunca deixaram de ser o modelo ao qual não conseguimos deixar de comparar quem mete um pé no género.
Muito mau seria se um grande
marco como este aniversário não tivesse uma celebração à altura – e é por isso
que a gigante japonesa lançou um conjunto de lançamentos e eventos especiais a
decorrer até março de 2021. E quem melhor para encabeçar esta comemorações do
que Super Mario 3D All-Stars: uma compilação dos 3 primeiros títulos 3D de
Mario, que são testamento do valor histórico e padrões de qualidade da
duradoura franquia do canalizador.
É uma proposta tentadora, sem
dúvida. Super Mario 64, Super Mario Sunshine e Super Mario Galaxy, os três em
modo portátil pela primeira vez desde o seu lançamento, com upscale para
HD, controlos atualizados e mesmo a opção de ouvir as icónicas bandas
sonoras dos jogos em qualquer lugar? “Onde assino?” é a primeira pergunta que
me vem à cabeça. As perguntas seguintes são: “Serão estes jogos igualmente
divertidos atualmente? Terá a Nintendo feito jus ao seu legado e prestígio?”.
Quem acompanhou as nossas
publicações já poderá saber parte da resposta. Durante esta semana, analisamos
individualmente os três grandes jogos um por um, e foi um prazer descobrir que
eles continuam um deleite mesmo pelo nosso filtro moderno. Abaixo deixamos os links
das análises completas:
- Análise de Super Mario Sunshine;
- Análise de Super Mario Galaxy.
Super Mario 64, sendo o mais
antigo jogo da coleção e um título 3D experimental, preserva nobremente o
sentido de descoberta que o tornou tão aclamado em 1996, com níveis
atmosféricos e memoráveis, uma banda sonora nostálgica e um hub recheado
de segredos para descobrir. Talvez novos jogadores estranhem as físicas do
jogo, mas pouco tardará até exibirem maestria neles e
aproveitarem toda a liberdade que as ações de Mario lhe dão para explorar os pequenos mundos que
64 ostenta.
No entanto, é claramente o jogo da coleção que mais acusa a sua idade: no campo gráfico, enquanto Sunshine e Galaxy disfarçam um pouco o seu envelhecimento com o upscaling, nenhuma quantidade de botox seria capaz de limar as sólidas arestas dos modelos, ou preencher de detalhes as texturas básicas. Não é para dizer que a Nintendo não tentou, visto que é fácil notar as atualizações feitas aos ícones do HUD, à resolução dos textos, aos retratos e ao modelo do Mario; no entanto, não são mais do que uma leve pincelada no look original do jogo.
Por fim, há que notar que este relançamento é baseado na
edição Shindou Pak do jogo: uma versão japonesa atualizada de Super Mario 64 que remove alguns
dos elementos icónicos do jogo como o momentum do “backwards long jump” e poderá causar uma
leve estranheza àqueles que cresceram com o título na Nintendo 64 ou com
as versões Virtual Console na Wii ou Wii U.
Estes problemas, juntamente com a
não adição de widescreen, são certamente mais notáveis quando temos os
três jogos lado a lado na coleção, e é pena que a Nintendo não tenha
aproveitado este relançamento para os corrigir ou mesmo para recuperar o
conteúdo adicionado em Super Mario 64 DS, uma versão infame na comunidade pela
ausência de controlo do protagonista em 360º.
A sua sequência, Super Mario Sunshine, recebeu um pouco mais de atenção. Esta aventura de Mario na Isle Delfino tem um charme e identidade únicos, em grande parte devido ao seu tema central de resort tropical que une os vários níveis. Mas, em comparação com as regiões de 64, a qualidade destes níveis é muito volátil, com alguns dos mais frustrantes desenhos da série a manchar a nossa visão do jogo. É também de notar que uma quantidade notável de repetição faz deste jogo o menos apreciável da coleção, mas não esqueçamos: o “pior jogo Mario” continua a ser uma ótima experiência, tão alta é a fasquia da série – e, para muitos, este relançamento é a primeira oportunidade de passar uns dias na Isle Delfino. Esta é a melhor forma de vivenciar Sunshine, principalmente graças ao widescreen e upscaling que a Nintendo adicionou ao jogo e que nos deixa apreciar melhor os locais de uma forma que era impossível na GameCube.
É com alguma tristeza que não
encontramos nesta nova versão correções dos vários problemas que assolam o
jogo, incluindo ajustes aos aspetos menos bem conseguidos dos níveis, melhores opções de
controlo para F.L.U.D.D (controlos por movimento seriam bem-vindos) ou mesmo suporte ao comando
oficial da GameCube, que já pode ser usado na consola em Super Smash Bros. Ultimate – uma opção
que permitiria aos jogadores regular o fluxo de água, algo que não é possível com os comandos Joy-Con ou Pro Controller.
Este défice implica que os jogadores apenas consigam disparar um jato com fluxo predefinido, o que pessoalmente não fez muita diferença na minha experiência com o jogo, mas poderá ser desagradável para os veteranos do jogo. Mais impactante do que esta implementação do F.L.U.D.D. será a decisão dos desenvolvedores de inverter a câmara sem qualquer opção de a restaurar ao seu funcionamento original, à semelhança do que foi feito com 64.
E por fim, Super Mario Galaxy.
Talvez o magnum opus dos Mario 3D, Galaxy não cessa de surpreender do
início ao fim com a sua ingeniosa criatividade e ambição. Jogando com a
gravidade, linearidade e a sua escala, este título guia-nos por nível inesquecível
atrás de outro, sempre nos introduzindo a originais ideias ao som de épicas peças
de música orquestrais como nunca tínhamos ouvido em Mario no passado. Apesar
de já ter 13 anos, Galaxy não parece ter envelhecido quer nos controlos, no level
design ou nos departamentos sonoro e visual – bastou um levezinho upscale
para Full HD e as borbulhas do jogo foram com o vento, apenas sendo mais notável a sua
barba de adolescente quando vemos um modelo de perto ou algumas texturas menos
detalhadas. Também é de louvar, nesta conversão, o mapeamento do Spin do
canalizador ao botão Y, que torna o título mais cómodo e acessível.
O pior aspeto desta versão de
Galaxy é que não ter sido capaz de se desprender completamente das suas raízes: a
Nintendo implementou controlos por movimento e por toque para tentar replicar
as funcionalidades do Wii Remote, mas nenhuma destas opções é tão refinada
como o comando usado originalmente – algo impossível de ignorar visto que a toda a hora
recorremos a elas para controlar Mario e navegar os menus. Também notamos que um mérito particular de Galaxy desmerece os outros jogos do pacote: a taxa de fotogramas de 60FPS. A fluidez que esta framerate confere a Galaxy é algo com que os predecessores podem apenas sonhar, e teria sido de louvar que a Nintendo tivesse aproveitado esta oportunidade para colocar os jogos em pé de igualdade neste campo.
Em suma, em Super Mario 3D All-Stars estamos diante de três grandes e históricos títulos, que em conjunto proporcionam dezenas de horas de jogabilidade platformer de excelência. Não temos reservas em recomendar os três jogos tanto a quem já os jogou como aos novatos da série Mario. Tendo estes pilares da história de Mario envelhecido tão sublimemente, acreditamos que mesmo quem nunca os experimentou tirará bastante proveito destas aventuras, naquelas que são talvez as melhores versões destes títulos indispensáveis para os fãs do gênero.
Estamos perante as possíveis melhores
versões destes títulos… por uma tecnicalidade. Estas são as melhores versões
dos jogos porque Nintendo nunca os fez melhor. Em 3D All-Stars, estamos perante
os jogos originais com pouco mais do que as alterações mínimas necessárias para
funcionarem na Switch. Estes são perfeitamente jogáveis, mas mais do que o que a
gigante japonesa fez, nós não conseguimos deixar de pensar naquilo que não fez.
Já referimos várias omissões, mas ainda há mais uma que se impõe sobre as restantes:
a inexplicável exclusão de Super Mario Galaxy 2, a sequência de Galaxy que em alguns
aspetos se eleva acima do original.
Esta ausência de melhorias significativas
aos jogos deixou-nos desapontados com o trabalho feito nesta coletânea. Super Mario 3D All-Stars é a
melhor forma de jogar os jogos, mas não representa uma melhoria tão substancial
como desejaríamos nos seus controlos, visuais, polimento ou performance - e em alguns casos, como a inversão dos controlos, toma decisões questionáveis que certamente afetarão a experiência dos veteranos.
Seria mais fácil ignorar estas
falhas se ao menos o conteúdo extra apresentasse algum valor. Infelizmente,
este é criminalmente escasso. Como uma celebração da longa história dos jogos
Super Mario, seria de se esperar encontrar aqui alguns extras como artes conceptuais,
entrevistas com os desenvolvedores, uma cronologia da franquia, trailers dos
jogos incluídos… Nada disto foi incluído nesta coleção. O único proveito que
podemos tirar de 3D All-Stars, fora dos jogos que inclui, é ler uma breve
descrição dos jogos incluídos ou ouvir as suas bandas sonoras, num leitor de
música extremamente básico que não permite sequer criar listas de reprodução ou colocar uma música em loop.
É deprimente ver o quão precário é o conjunto de bónus à disposição numa
coleção destinada a honrar o maior ícone dos jogos, especialmente quando a
comparamos a outras compilações como Kirby’s Dream Collection, lançada em 2012
para celebrar o 25º aniversário de Kirby.
O maior componente de celebração
desta coleção é, ironicamente, mais um ponto negativo da mesma. Enquanto título
especial de aniversário, Super Mario 3D All-Stars estará apenas disponível até ao
dia 31 de março de 2021 – quer em formato físico, quer em formato digital. Aconselhamos,
portanto, os interessados a adquirir esta coleção enquanto a sua distribuição
não está unicamente nas mãos dos revendedores.
Conclusão
Não há qualquer dúvida: Super
Mario 3D All-Stars inclui três fantásticos títulos que representam plenamente a
qualidade, prestígio e originalidade que associamos aos jogos da série. Este
conjunto é uma inquestionável mais-valia na coleção dos donos de Switch, em
particular daqueles que não tiveram oportunidade de o jogar antes.
Mas se estes jogos são excelentes
nesta coleção, é essencialmente porque já o eram nas suas versões originais,
até porque as suas melhorias gráficas, embora bem-vindas, são ténues. A superficialidade
das melhorias feitas, associada a uma série de decisões difíceis de compreender
e à escassez de conteúdo bónus, deixa-nos com a amarga sensação de que estamos
diante potencial desperdiçado, e que nenhum esforço foi feito para comemorar o vasto
legado da série.
O melhor:
- Super Mario 64, um marco icónico na história dos jogos;O pior:
- A ausência de Super Mario Galaxy 2, que aproveita ao máximo o potencial das ideias de Galaxy;
- Decisões controversas que poderão prejudicar a experiência dos jogadores;
- Escassez de extras comemorativos;
- Lançamento limitado, quer em formato físico quer digital.
Nota do GameForces: 7.5
Desenvolvedora: Nintendo
Publicadora: Nintendo
Ano: 2020
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