[Análise] Streets Of Rage 4 [PS4]




Passava o ano de 1992. Numa altura em que a internet era uma coisa que somente se via em filmes Americanos (que somente 6 meses depois da estreia chegavam a Portugal). O mundo dos videojogos uma criança ainda procurando encontrar o seu caminho na indústria do entretenimento. Em Portugal a batalha não era tão acesa entre adeptos das várias plataformas, pois as formas de comunicação eram limitadíssimas e possibilidades económicas para alimentar tais guerras escassas. Durante muitos anos confesso que o beat 'em up por excelência, na minha limitada experiencia, era “Target Renegade” no carismático ZX Spectrum. Situação que durou até ao dia que consegui experienciar “Streets of Rage 2” numa Mega Drive de um familiar. As cores vibrantes, os ritmo frenético da jogabilidade, a variedade de personagens e cenários e depois aquela banda sonora magistral… Foi amor à primeira vista.

Efectivamente Streets of Rage é um dos títulos da Mega Drive mais carismáticos e que mais mexe com os sentimentos nostálgicos de jogadores de longa data. Verdadeiramente nunca se entendeu o porque da série ter ficado pelo terceiro lançamento, mas talvez tenha sido pelo melhor, evitando a degradação de algo simples e que funciona na perfeição. 




Streets of Rage 4 é um trabalho, quase de relojoaria, passe-se a hipérbole. Os produtores conseguiram a façanha de pegar em tudo o que compõem a serie Streets of Rage, desmantela-la e restruturar numa experiencia adequada às realidades do mercado e de acordo com o que os fãs espera dela. Para isso três estúdios alinharam os seus esforços sendo a sua influência notória no trabalho desenvolvido. A tríade composta pela DotEmu (Windjammers), Lizard Cube (Wonder Boy) e Guard Crush Games (Streets of Fury) funcionou na perfeição e cada elemento mais característico de cada casa está presente no jogo. Desde o grafismo da Lizard Cube, à jogabilidade da Guard Crush Games existe uma cuidada envolvência das várias partes. 

Neste mesmo sentido, vamos também nós aqui na Game Forces, tentar dissecar o que transforma este título num clássico instantâneo e ver se estamos à altura do trabalho que nos agracia actualmente num panorama multiplataforma.




Cremos que o primeiro elemento caracterizador da saga é a jogabilidade. Aqui não existem complicados sistemas de combinações ou evolução de personagem. Todas as personagens tem variados ataques, mas a sua execução é na vasta maioria idêntica. Isto permite que o jogador aprofunde a sua experiencia nas mais e menos valias que cada personagem apresenta, sem necessidade de percorrer a curva de aprendizagem desde o seu início. Nesta valência, Streets of Rage 4 apresenta mais combinações que os títulos anteriores, ainda que facilmente decifráveis e adicionando uma mecânica de ataque estrela que podemos concretizar à medida que vamos apanhando estrelas durante o nível (muito à semelhança dos ataques de magia de Golden Axe). O segredo de progredir pelos níveis sem grandes danos passa por conseguir estender o combo o mais possível para evitar brechas que permitam ataques por parte dos inimigos. Se por ventura efectivamente formos atacados pouco podemos fazer para além de utilizar as envolvências dos cenários para fugir da sua linha de ataque (utilizar os ataques especiais e de estrela também quebra o ataque da vasta maioria do inimigos). Claro que nos primeiros níveis este é um elemento simples de concretizar, mas à medida que vamos avançando no jogo (e no nível de dificuldade) a quantidade de inimigos torna-se por vezes absurda e caótica! Também em termos de jogabilidade a quantidade de armas utilizáveis é significativamente superior aos títulos anteriores e remetendo frequentemente a temáticas dos anos 90.




Aliás, este título respira anos 90 por todos os seus poros. Os cenários estão cuidadosamente preparados, com uma arte extraordinária e identificativos de uma clara alusão ao que estávamos habituados a ver na televisão à 25 anos atrás. Efectivamente existe um cuidado esplendoroso por parte dos produtores em preparar um ambiente que nos faça imergir em toda a envolvência desta época.

Não somente os cenários, como também os próprios personagens ou inimigos são profundamente estereotipados com aquilo que actualmente consideramos de mau gosto ou mesmo ofensivo. Desde agentes da polícia gordos, passado por prostitutas de salta alto até aos orientais especialistas em artes marciais, efectivamente existe uma óptima e extensa variedade de inimigos que temos de ultrapassar. Mas os produtores foram mais longe que isto e não somente a sua aparência e envolvência estão profundamente caracterizados. Também o seu comportamento está significativamente mais desenvolvido que os títulos anteriores. Neste título, a IA está mais aprofundada e os adversários recorrentemente defendem-se, recuam ou atacam quando estamos menos à espera, que promove uma atitude muito mais dinâmica por parte do jogador para enfrentar os desafios apresentados.




Contudo a imersão nesta realidade não depende somente de grafismo. Cada cenário encontra-se acompanhado por uma poderosa banda sonora que de imediato nos associa à temática do nível. Ainda que sintamos falta da tradicional música de final de nível, é impossível considerar que a nova banda sonora está abaixo das anteriores. Efectivamente, é inclusive possível á medida que se for jogando, que sejam desbloqueadas as musicas originais.

Este é outro aspecto no qual este jogo brilha. Ainda que tenhamos todo um conjunto de novidades, os produtores introduziram elementos retro que vamos desbloqueando à medida que vamos ganhando pontos de experiência no jogo. Desde as personagens do primeiro e segundo título, até às bandas sonoras originais como mencionado. As personagens originais apresentam um cuidado e elaborado aspecto pixelizado para ir de acordo com o original, mas mais que isso comportam-se exactamente como os originais, pelo que algumas das novas mecânicas de ataque mais fortes não funcionarão. Denotamos que a evolução é algo lenta no que toca a desbloquear todo o conteúdo, pelo que contem com algumas horas significativas se pretenderem ter tudo ao vosso dispor, ainda assim aplaudimos que todo o conteúdo extra seja desbloqueável pela nossa capacidade de dedicação ao jogo.




Efectivamente a campanha não é muito comprida, mas também neste tipo de jogos não se objectiva isto no risco de cair numa jogabilidade repetitiva. Ao invés temos disponíveis diversos modos de jogo para além do modo de história, como por exemplo um modo “Arcade” que á semelhança do que acontecia nos salões de jogos só temos um crédito para chegar ao final do jogo. Outro modo somente de lutas de bosses ou jogador contra jogador também estão presentes. É efectivamente bastante conteúdo e que possibilita extensas horas de diversão.

Chegamos por fim ao último elemento a ser “dissecado” na nossa análise: Modo multijogador. Qualquer jogador da “velha guarda” reconhece que a maior diversão de Streets of Rage é obtida quando partilhada com um amigo ou familiar. Neste quesito, o lançamento mais recente é mestre e senhor, sendo a diversão de partilhar uma aventura destas com um amigo quase que uma obrigação moral para qualquer jogador. Também aqui o título nos surpreende e possibilita que sejam não somente duas pessoas, mas até três ou quatro a jogar simultaneamente. Nesta hipótese somente podemos afirmar peremptoriamente que o caos é a nossa casa! Efectivamente jogar com mais que um jogador facilita imensamente a progressão no jogo, mas também é o que torna acessível a passagem nos níveis mais elevados ou modos de jogo (arcade por exemplo), pois o jogo não ajusta automaticamente a dificuldade. Este elemento é possível em multi jogador local, mas também online com amigos ou desconhecidos.



Conclusão 
Streets of Rage 4 é um clássico Arcade instantâneo, providenciando exactamente aos fãs aquilo que procuravam. Uma experiencia que remeta aos originais e devidamente expandida aos dias de hoje. Mais que isso, é um título capaz de agradar não somente aos veteranos jogadores, mas também a quem nunca tenha experimentado a saga antes. 

Streets of Rage foi um jogo obrigatório para a Mega Drive. Agora também o é para a Playstation 4, Switch ou PC!




O melhor 
  • Jogabilidade Cativante e frenética;
  • Grafismo;
  • Ambientação e Banda Sonora memorável;
  • Bastante conteúdo de jogo.

O pior 
  • Progressão no desbloqueio de elementos retro algo lenta;
  • Crossplay poderia beneficiar na componente online, pois .


Nota do GameForces: 9.5/10 



Título: Streets Of Rage 4
Desenvolvedora: DotEmu, Lizard Cube e Guard Crush Games
Publicadora: DotEmu
Ano: 2020



Autor da Análise: Carlos Silva



[Análise] Streets Of Rage 4 [PS4] [Análise] Streets Of Rage 4 [PS4] Reviewed by Carlos Silva on maio 08, 2020 Rating: 5

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