Originalmente lançado
em 2009 para as consolas da geração anterior, Bayonetta chega à
PlayStation 4 juntamente com Vanquish no 10th Anniversary
Bundle. Há 11 anos, este jogo havia sido bem recebido por jogadores e por
críticos, embora a versão da PS3 apresentasse problemas de desempenho. Agora,
na sua versão remasterizada, Bayonetta tem a oportunidade de dar uma
melhor experiência de ação e mostrar toda a criatividade única que caracteriza
a Platinum Games e o produtor Hideki Kamiya. Passada cerca de uma década, será
esta uma experiência mágica, ou teria sido melhor deixar Bayonetta no
seu sono?
Este jogo segue a
história de uma poderosa bruxa chamada Bayonetta, 20 anos depois desta acordar de
um sono profundo de 500 anos. Sem memórias do seu passado ou da sua herança,
Bayonetta irá viajar para a cidade de Vigrid em busca de um dos “olhos do
mundo”, uma poderosa e misteriosa joia que aprece estar ligada ao seu destino.
Pelo caminho, Bayonetta irá cruzar-se com outra bruxa, Jeanne, com Luka, um
jornalista convencido de que o seu pai foi morto pela protagonista, e com uma
série de poderosos seres angélicos que se colocarão no seu caminho. Bayonetta
passará por diversos reinos inspirados por descrições medievais do paraíso, do
inferno e do purgatório, à medida que vai recuperando as memórias do seu
conturbado passado e vários dos seus poderes mágicos.
Em situações de
combate, Bayonetta utiliza um misto de rápidos e devastadores ataques corpo a
corpo e de armas de fogo que traz consigo nas mãos e nos pés. Com mecânicas
semelhantes às que encontramos na série Devil May Cry, em Bayonetta
encontramos a possibilidade de utilizar ataques com as mãos, com os pés e com
as armas. Através de diferentes sequências de ataques, vamos conseguindo
produzir diversas combinações devastadoras e visualmente recompensantes. Ao
longo da história, vamos podendo adquirir mais técnicas, habilidades e até
armas, conferindo uma notável variedade de opções de combate. Sempre que se
danifica um inimigo, Bayonetta vai arrecadando energia que poderá ser usada
para conferir ataques devastadores chamados “Torture Attacks”. Enquanto são visualmente
bastante apelativos, estes não são particularmente variados, pelo que é comum
vermos “Torture Attacks” repetir-se bastante ao longo das 10 horas da campanha.
Pelo que se pode
depreender, o combate é variado e dinâmico, mas com isto não significa que seja
simples. É comum vermo-nos rodeados de criaturas monstruosas a atacar de
diversas direções. Aqui, entra em jogo a mecânica de “Witch Time”, que é
ativada com uma esquiva bem temporizada e que leva o tempo a parar para os
inimigos circundantes. Durante uns segundos, Bayonetta pode desferir sucessivos
ataques sobre inimigos incapazes de se mexer. Assim, o
combate em Bayonetta passa a um jogo de atenção e precisão, onde a
concentração durante caos de lutas intensas faz toda a diferença, e onde as
regras são muitos simples: sê cuidadoso e preciso, e serás recompensado com
momentos de êxtase como poucos jogos de ação conseguem proporcionar. Pelo
contrário, atacar aleatoriamente ou abusar da mesma combinação de ataques numa
base constante, e muito rapidamente serás penalizado.
Os golpes desferidos
por inimigos são sempre sentidos como pesados, não só pelo dano significativo
que infligem, mas por quebrarem a fluidez das nossas movimentações e
combinações ofensivas. Não só podemos ver a nossa barra de vida esvaziar rapidamente
com dois ou três ataques, como também vemos a nossa magia armazenada
desaparecer. Esta magia é necessária para poder desferir os já referidos “Torture
Attacks”, bem como utilizar outros ataques especiais. No final de cada luta e de
cada nível somos avaliados consoante a capacidade de levar a cabo combinações,
o tempo demorado e o dano sofrido. Tudo isto passa uma mensagem simples mas
eficaz: este jogo exige concentração e precisão, e o input aleatório de
comandos ou “button mashing” não só não compensa como levará a uma experiência
menos satisfatória.
Algo que infelizmente
não consegue acompanhar estas mecânicas de combate com tantas nuances é a câmara
de jogo. Controlar a mesma pode tornar-se uma tarefa adicional em si, e traz
dificuldade particularmente notórias em situações de combate um contra muitos.
A câmara acaba por se colocar demasiado perto da ação e colocá-la numa posição
adequada enquanto rodeados é uma luta complicada, levando a alguns ataques que
vêm de pontos cegos e que se sentem como injustos. Fora do combate, a câmara também
apresenta alguns problemas, havendo momentos em que o seu posicionamento e
movimentação enaltece a beleza das áreas semiabertas na quais nos encontramos,
mas também momentos em que se coloca de modo a que componentes de puzzles ou armadilhas
no caminho fiquem demasiado difíceis de ver e antecipar, voltando a induzir uma
sensação de desafio artificial e injusto.
Com esta estrutura de
níveis, Bayonetta apresenta-se como uma aventura relativamente linear.
Há várias pequenas áreas para explorar, para adquirir itens, componentes para
confecionar itens, melhorias de vida e de magia ou arenas de desafios. Pese
embora este design linear, Bayonetta consegue incentivar à
rejogabilidade. Não só se desbloqueiam níveis de dificuldade mais elevados de
cada vez que se conquista a campanha, mas a grande variedade de itens, de
técnicas e de habilidades que se pode comprar significam que é impossível
experimentar tudo o que jogo tem para oferecer numa única passagem. Assim
sendo, é pena constatar o quão repetitivos os níveis se tornam à medida que se
avança na história. Enfrentamos várias vezes os mesmos bosses que apresentam muitas
animações recicladas e voltamos várias vezes às mesmas praças ou ruas de Vigrid,
e embora de cada vez algo mude ligeiramente, tal não é suficiente para a sensação
de que os ambientes poderiam ser mais variados.
O trabalho de
remasterização de Bayonetta apresenta uma qualidade mista. Por um lado, resolveu
os maiores problemas que a versão original apresentava relacionados com o
desempenho do jogo, tendo sempre corrido perfeitamente e com tempos de
carregamento muito curtos. Por outro, fica a sensação de que a nitidez de
imagem e das texturas não foram significativamente melhoradas, particularmente
nas cenas cinemáticas e nas suas transições para e de momentos jogáveis. Isto é
particularmente lamentável uma vez que Bayonetta ostenta uma direção
artística genuinamente impressionante, com designs ambientais, de inimigos e
bosses únicos e que demonstram índices de criatividade elevadíssimos, dando ao
jogo uma identidade singular.
Já no que toca à
vertente sonora, Bayonetta volta a apresentar-se em grande forma nesta
nova versão. Todos os atores que dão voz às personagens fazem um trabalho notável,
com entregas algo exageradas mas repletas de charme que ajudam a vincar bem
cada personalidade. Em particular, o desempenho de Hellena Taylor dá uma vida
incrível a Bayonetta, ajudando-a a tornar-se uma das protagonistas mais
interessantes da indústria. Também a música ajuda a acentuar a personalidade forte,
confiante e atrevida de Bayonetta, acompanhando os momentos de maior ação com
mestria.
Conclusões
Bayonetta é uma primeira entrada muito bem
conseguida deste franchise que veio a ganhar vida nos anos subsequentes.
A ação é deliciosamente exagerada e o combate é agradavelmente caótico mas
preciso, com mecânicas fáceis de compreender mas difíceis de dominar. Estamos
perante um jogo capaz de proporcionar boas horas de diversão, que incentiva a
rejogabilidade e com uma das personagens mais carismáticas da indústria, pese
embora continue a ser repetitivo no que toca a ambientes e animações, e o
trabalho de remasterização não ser o mais bem conseguido. Contudo, com momentos
de ação memoráveis, uma direção artística muito própria e uma vertente sonora e
musical quase irrepreensível, Bayonetta oferece uma boa experiência recheada
de ação.
O Melhor:
- Combate intenso mas que requer precisão
- Muita criatividade e variedade de inimigos
- Desempenhos de voz recheados de charme, sobretudo na caracterização de Bayonetta
- Jogo com uma identidade muito própria, enaltecida pela música e pela direção artística
O Pior:
- Controlar a câmara pode ser uma tarefa exigente em alguns momentos
- Reutiliza bastantes vezes as mesmas animações e ambientes
- Transições entre jogo e cenas cinemáticas enaltece a falta de nitidez de imagem das últimas
Pontuação
do GameForces – 7/10
Título: Bayonetta
(10th Anniversary Bundle)
Desenvolvedora: Platinum
Games
Publicadora: SEGA
Ano: 2020
Nota: Esta análise foi
realizada com base na versão digital do jogo para a Playstation 4, através de
um código gentilmente cedido pela Sega Europe.
Autor da Análise:
Filipe Castro Mesquita
[Análise] Bayonetta (10th Anniversary Bundle) [PS4]
Reviewed by Filipe Castro Mesquita
on
maio 11, 2020
Rating:
Sem comentários: