[Análise] Judgment [PS4]



É certo que estamos num ano novo, e que 2020 parece ser um dos anos mais recheado de sempre no que toca à indústria dos videojogos. Enquanto este comboio frenético não arranca, olhemos para um dos jogos que mais passou despercebido em 2019 – Judgment. Este título vem do excelente estúdio japonês Ryu Ga Gotoku, que nos trouxe a aclamada série Yakuza. Passando-se no mesmo mundo, este jogo é um spin-off que introduz novas personagens e uma história bastante diferente. Será que mantém o nível a que o estúdio nos habituou, ou está a passar despercebido por algum motivo?



Em Judgment, assumimos o papel de Takayuki Yagami, um ex-advogado que desistiu da profissão depois de ilibar um assassino que volta a matar. Yagami torna-se detetive e abre uma agência com Masaharu Kaito, um ex-yakuza, expulso do seu clã. A história passa-se em Kamurocho, a já icónica cidade japonesa presente nos jogos da série Yakuza. Yagami, que tem ligações a pessoas poderosas do clã Tojo da organização criminosa yakuza, vê-se envolvido na investigação de uma série de assassinatos, nos quais três yakuzas de um clã diferente apareceram mortos. Yagami tem o objetivo de investigar o caso até ao fim e descobrir o assassino, mesmo que isso o coloque e aos seus aliados na lista de inimigos do clã Tojo.

À semelhança com os jogos que estão na base deste título, Judgment é um jogo de mundo aberto, que mistura elementos de RPG e de beat ‘em up. Yagami apresenta dois estilos de combate: um para combater multidões, e outro para combater um só inimigo. As situações de combate são sempre frenéticas e com animações exemplares, sobretudo quando se utiliza uma ex-action, que servem de finishing moves altamente estilizadas e coloridas. A possibilidade de usar armas, objetos e paredes para modificar ou utilizar ataques específicos impede os combates de se tornarem repetitivos. Cada combate ou atividade dá-nos pontos para gastar em novas técnicas de combate ou novas habilidades para usar no mundo aberto. O facto de estar sempre a ganhar estes ponto leva a que se possa ir adquirindo novas capacidades, dando a sensação de se estar sempre a progredir.



Judgment introduz ainda alguns elementos de jogabilidade novos. Nomeadamente, as mecânicas relacionadas com a perseguição de alvos (em corrida ou em stealth), com a investigação de locais (procura de pistas ou de suspeitos) e de lockpicking. Yagami ganha ainda um drone, que pode ser utilizado em qualquer altura como lazer, mas que é também uma ferramenta de investigação fundamental. Estas novas mecânicas são apresentadas sob a forma de minijogos. Para além de dar mais alguma variedade à jogabilidade, estes elementos introduzidos são bastante coerentes com a profissão de Yagami, fazendo sempre sentido a sua utilização.

A história do jogo é bastante cativante desde o início. A investigação que rodeia os assassinatos é genuinamente misteriosa e intrigante, apesar de se tornar algo complexa com a progressão da história. À medida que vamos avançando nos capítulos, vamos conhecendo melhor as personagens, as suas motivações e os seus passados, tendo sido construídas personagens verdadeiramente interessantes, tanto do lado dos heróis como dos vilões. Se houver algo a apontar à história, é o seu ritmo por vezes irregular. Por vezes, tem-se a sensação que nos atiram para tarefas menos prementes que a missão principal da história de modo a prolongar a duração de alguns capítulos. Infelizmente, esta sensação tem-se logo no primeiro capítulo, onde parece que se anda de um lado para o outro sem grande objetivo. É certo que há novas mecânicas e modos de jogar que têm de ser introduzidos, mas este prolongar desnecessário logo no início do jogo pode pesar, sobretudo tendo em conta que é depois deste que uma grande porção de atividades secundárias se torna acessível.



Apesar de ser já conhecida por muitos, a cidade de Kamurocho nunca pareceu tão viva ou tão expansiva. Mais uma vez, a cidade está recheada de atividades e de jogos secundários. Desde arcadas da SEGA, onde se pode experimentar títulos da produtora como Virtua Fighter V ou Puyo Puyo, até jaulas de baseball, mesas de pinball ou os habituais jogos de casino. A certa altura, Yagami pode até utilizar o seu drone e modificá-lo de modo a entrar em corridas ou em combates com outros drones. O número de lojas para explorar é enorme, e à medida que se vai jogando pode descobrir-se ainda mais locais escondidos e clandestinos. Nunca antes foi tão interessante explorar Kamurocho, podendo-se estar horas seguidas em atividades secundárias, longe da história central, sem se estar minimamente entediado.

A cidade está repleta de personagens que se pode conhecer, e com as quais a interação leva a que se travem amizades. O jogo incentiva bastante bem à concretização destas amizades. Cada uma aumenta o nível de popularidade de Yagami, permitindo desbloquear novas missões e novas atividades, e ao cruzarmo-nos com amigos na cidade ganhamos itens e bónus nos combates. E como não podia deixar de ser, Judgment apresenta um vasto catálogo de missões secundárias, apresentadas como casos paralelos ao da história principal. Nestas missões encontramos a maior variedade de curtas histórias, que vão desde o humor non-sense (como procurar um tarado que parodia a personagem principal do anime de Pokémon) até ao sério e tenso (como um bombista serial a plantar bombas por toda a cidade). Estas histórias são sempre interessantes, e são uma parte essencial da experiência deste género de jogos do estúdio.



De um ponto de vista técnico, Judgment apresenta um nível altíssimo na maioria das situações. Não sendo o jogo visualmente mais realista, Judgment apresenta um estilo artístico detalhado, colorido e extremamente apelativo. As animações faciais de Yagami e de algumas das outras personagens centrais é muito boa, denotando emoções credíveis em vários pontos da história. Para além das animações dos ataques e movimentos de Yagami, a utilização das cores torna tudo muito mais visualmente atraente, sendo ainda utilizadas para transmitir informações acerca do nosso desempenho, dos nossos ataques e do estado dos inimigos.

Relativamente aos aspetos sonoros, Judgment faz um excelente trabalho no geral. A música acompanha sempre bem as cenas cinematográficas da história, acrescentando algo à emoção ou à tensão das mesmas. Também nos casos secundários, a música traduz muito bem as situações cómicas ou as sérias. O desempenho dos atores japoneses é estupendo, dando ao argumento o peso e o valor que merece. Os atores de voz em inglês também fazem um trabalho bastante competente, e a sincronização com as animações das personagens está no geral bastante bem conseguida. Contudo, fica a sensação de que se está a perder algo. Assim, as vozes originais em japonês parecem fazer melhor jus às exigências, sendo esta a configuração mais recomendável.

Para terminar, o jogo está geralmente bem otimizando, havendo apenas pequenos momentos nos quais a frame rate desce ligeiramente e algumas ocasiões em que o jogo demora um pouco a carregar uma cutscene. Apesar de estes levarem a alguma quebra de ritmo e de fluidez, nunca foram detratores que afetassem por aí além a excelente experiência que Judgment proporciona.



Conclusões
Judgment tem o estilo inconfundível do estúdio Ryu Ga Gotoku, que volta a lançar um título que atinge a excelência. Introduz novas mecânicas de jogabilidade, a ação é frenética e cativante, a história é envolvente, e os gráficos são os melhores que o estúdio conseguiu até hoje. A cidade de Kamurocho nunca esteve tão viva, com uma variedade gigante de atividades e de histórias secundárias para explorar. Apenas alguns pequenos problemas técnicos e algumas quebras de ritmo na história, que logo ao início levam o jogo a demorar a disponibilizar tudo o que tem para oferecer, é que impedem Judgment de ser uma obra-prima intemporal. Recomenda-se a qualquer fã de jogos de ação, quer sejam conhecedores dos trabalhos anteriores deste estúdio, quer não.

O Melhor:
  • As personagens são distintas e memoráveis, com Yagami a ser um protagonista excelente
  • A história é sempre interessante, havendo sempre vontade de saber o que vem a seguir
  • Os gráficos são muito bons, com ênfase nas animações faciais de Yagami
  • O mundo está recheado de atividades e de casos secundários interessantes

O Pior:
  • Alguns momentos da história são prolongados de forma artificial e desnecessária, sobretudo o primeiro capítulo


Pontuação do GameForces – 9 /10


Título: Judgment
Desenvolvedora: Ryu Ga Gotoku Studio
Publicadora: SEGA
Ano: 2019


Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita
[Análise] Judgment [PS4] [Análise] Judgment [PS4] Reviewed by Filipe Castro Mesquita on janeiro 16, 2020 Rating: 5

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